Os advogados do líder rebelde curdo Abdala Ocalan disseram que foram agredidos por civis e pela polícia, e que receberam ameaças de morte de turcos que consideram seu cliente um assassino. Acrescentaram que esperam mais hostilidades segunda-feira, quando começar o julgamento de Ocalan, na ilha de Imrali, no Mar de Mármara. Mas estao decididos a continuar, empenhados em chamar a atençao para a luta curda e o direito de Ocalan a um processo imparcial. Acredita-se que Ocalan será condenado por traiçao e pegará a pena de morte.

Depois que foi capturado em fevereiro, mais de 100 advogados se propuseram a assumir a defesa de um homem acusado na Turquia por 37.000 mortes, causadas pela luta de grupos guerrilheiros curdos por uma autonomia. A maior parte das vítimas foi de curdos.

Pelo menos a metade dos advogados é curda. Alguns deles consideram o processo uma oportunidade de chamar a atençao do mundo para a luta travda pela populaçao majoritária curda do sudeste da Turquia.

'Este é um caso político que pode brindar a paz. A pessoa processada e a questao curda sao de importância histórica``, disse Mahmut Sakar, um dos advogados, que em 1994 esteve preso por quatro meses acusado de fazer propaganda curda, ao redigir uma nota sobre violaçoes de direitos humanos no sudeste do país. Sakar qualificou Ocalan como 'extremamente cortês, amável e respeitoso``. E acrescentou: 'Nao o considero terrorista``.

Nao é o que pensa a maioria dos turcos. Por isso, os advogados vêm enfrentando constantes maltratos. O ônibus que os levava para a ilha onde Ocalan está preso foi apedrejado e, após uma audiência judicial, policiais e familiares de soldados mortos os agrediram e os insultaram. Os advogados também foram ameaçados por telefone, fax e carta.

Este mês, a equipe de advogados de Ocalan ameaçou renunciar. Eles exigiram encontros privados com seu cliente e o fim da prática das autoridades de ler suas notas e expedientes. O principal advogado de Ocalan, Ahmet Zeki Okcuoglu, disse que as condiçoes nao foram cumpridas e anunciou, na semana passada, que nao assistiria ao julgamento.

Okcuoglu qualificou o processo de farsa e disse que nao queria ser responsável por enviar Ocalan para a forca. 'Nestas condiçoes nao é possível nenhum outro veredicto``, afirmou Okcuoglu.

Já Sakar anunciou que continuaria, pediria a absolviçao e esperava que o processo conduzisse à reconciliaçao entre turcos e curdos.

'Consideramos que, se for condenado à morte, haverá mais sangue e mais guerra. Será morte por morte, sangue por sangue``, previu Sakar.