O espanhol Pedro Almodóvar é indiscutivelmente um dos diretores europeus mais festejados da atualidade. Não por pouco: seus dois últimos filmes, Tudo Sobre Minha Mãe (1999) e Carne Trêmula (1997), são excepcionais. O primeiro lhe rendeu o Oscar de filme estrangeiro e uma lista de troféus. Mas Almodóvar dá de ombros para as premiações. Como todo grande mestre, ele quer contar sua história – e que ela chegue ao público com o máximo de intensidade. E é isso o que acontece em Fale com Ela (Hable con Ella, Espanha, 2002), seu mais novo longa-metragem, que estréia nesta sexta no Cinemark do ABC Plaza, em Santo André.

Fale com Ela é sua criação cinco estrelas. Carrega muitas das referências que usou durante a carreira, mas vai ainda mais longe. Almodóvar deixa de centrar-se no universo feminino para contar uma história de homens. Isso não é exatamente uma novidade, já que Carne Trêmula é um filme essencialmente masculino – assim como A Lei do Desejo (1986) e Matador (1985), no qual “eles” determinam a ação. A diferença é que, aqui, o diretor faz com que seus personagens sofram tais como suas mulheres. Para Almodóvar, os brutos também amam, também se debulham em lágrimas e também sofrem por amor.

A cena inicial mostra um balé da alemã Pina Bausch, Café Müller (o cartaz aparece na parede do quarto do filho de Cecilia Roth em Tudo Sobre Minha Mãe). Na platéia, há dois desconhecidos sentados um ao lado do outro. Um observa, consternado, a emotividade do outro, que chora copiosamente.

Eles são Benigno (Javier Cámara), um jovem enfermeiro, e Marco (Dario Grandinetti), um jornalista quarentão. Ambos se reencontrarão meses mais tarde em uma clínica, onde se tornarão amigos. Benigno cuida de Alicia (Leonor Watling), uma bailarina em coma há quatro anos, e por quem é secretamente apaixonado. E Marco passará a freqüentar o mesmo lugar quando sua namorada, a toureira Lydia (Rosario Flores), é golpeada na arena.

Enquanto Benigno se empenha em tratar de Alicia – ele corta seus cabelos, faz massagem em seus pés e conversa com ela –, na esperança de que um dia a moça acorde, Marco sente-se travado em relação à namorada. Confessa que não consegue nem tocá-la. E, muito menos, seguir o conselho do amigo de falar com ela.