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TV Cultura exibe 'Mário', de Hermano Penna
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
02/01/2003 | 17:57
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Mário (Brasil, 1999), terceiro filme de Hermano Penna, do ótimo Sargento Getúlio (1983), é a atração desta sexta na Cultura às 22h30. O diretor e roteirista coloca o personagem-título, um homem da cidade grande, em uma jornada de expiação pela Amazônia em busca de si mesmo.

Penna escreveu o argumento de Iracema, Uma Transa Amazônica (1975/1980), também sobre um homem da cidade em plena Amazônia. Paulo César Pereio é um caminhoneiro que extrai o que pode da paisagem devastada que encontra. Em Mário, o homem da cidade busca se purificar. O filme é fruto do impasse de uma geração entre o triunfo do capitalismo globalizante e o fim da utopia socialista. Em dias de esperança vencendo o medo, parece uma ressonância distante.

Na São Paulo de 1996 vive o médico Mário (Jairo Mattos). É um desiludido com sua profissão de caça-níqueis que transforma pacientes em fontes de valores, com o individualismo e com o triunfo do materialismo sobre valores sociais.

Deixa a mulher, uma socialite sem muito o que dizer (Vera Zimmermann), e parte para uma cidade escolhida ao acaso no mapa, divisa entre Mato Grosso e Pará. Ouve o chamado da selva e troca um inferno por outro. Reaparece barbudo, a mata ao fundo e o som de motosserras no ar. Encontra luta pela posse de terras entre latifundiários e posseiros, e entre contrabandistas de riquezas minerais e naturais da floresta.

Mário havia abandonado tudo em busca de dignidade e se vê em um fogo cruzado do qual igualmente quer fugir. Em sua catarse, tem encontros míticos e alegóricos. Um deles com um homem chamado Jasão, personagem que surge e ressurge ajudando-o em sua descida ao inferno, citação a um tema clássico da mitologia grega. Outros encontros são com índios degradados, uma prostituta budista, um eremita curandeiro e um grupo de albinos catarinenses.

As filmagens começaram em 1995, mas só terminaram em 1999 por causa das dificuldades de filmar na Amazônia. As cenas de interiores foram feitas em galpões em Paulínia (SP), enquanto as externas enfrentaram a selva: estradas intransitáveis, chuva, mosquitos e calor. Atuações de pouco entusiasmo, diálogos crus e maquiagem sofrível (os albinos são trash movie puro) reafirmam essa precariedade. Da catarse ao anacronismo, Mário é uma boa idéia de realização irregular.




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