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‘O futebol para mulheres é realidade’

" Nossa principal estratégia é trabalhar nas categorias de base visando o desenvolvimento da modalidade"

Pedro Lopes
do Diário do Grande ABC
08/05/2023 | 09:05
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Divulgação


A atual coordenadora de futebol Feminino da FPF (Federação Paulista de Futebol), Thais Picarte, defende o crescimento da modalidade no País, e acredita que conforme o esporte evoluir, podemos atingir um nível de sociedade igualitária. “Temos que ter cada vez mais mulheres no futebol, para que se torne mais igualitário e que cumpra sua função na nossa sociedade, que não é só a paixão, mas também a responsabilidade na nossa sociedade”. Ela também afirma que a região está voltando a crescer no cenário do futebol feminino.

Qual é a importância do desenvolvimento do futebol feminino para a FPF (Federação Paulista de Futebol)?

O futebol feminino hoje é estratégico para a Federação Paulista. Nós nos empenhamos muito em minimizar a lacuna que aconteceu com o futebol de mulheres no Brasil, devido à proibição. A Federação é extremamente engajada em promover o futebol feminino, principalmente nas categorias de base. Hoje, nossa principal estratégia é trabalhar nas categorias de base visando o desenvolvimento da modalidade no nosso Estado. Nossos afiliados são as principais equipes que promovem o futebol feminino no País e que cedem suas atletas para a Seleção Brasileira. O futebol feminino coloca o trabalho da Federação em evidência, e mostra o que uma gestão com bom investimento e cuidado traz sucesso para uma modalidade. O Paulistão Feminino é um campeonato que traz renda tanto para a Federação quanto para os clubes.

Quais são os principais desafios enfrentados no processo de crescimento e valorização do futebol feminino?

A formação e capacitação dos profissionais que atuam no futebol feminino. Nós temos poucos profissionais capacitados dentro das equipes, e também as equipes de base. Devido a isso é muito difícil encontrar novas atletas. Nós vivemos uma escassez no mercado, por isso investimos tão pesado em competições, para suprir necessidades. Temos atualmente uma peneira sub-17 que traz jovens atletas a clubes.

Quais são as iniciativas da FPF para promover a participação das mulheres no futebol, tanto ao nível amador quanto profissional?

Essas iniciativas começam no quadro de profissionais que atuam na FPF. Nós temos um quadro atualmente de aproximadamente 50% de homens e 50% mulheres no cenário de atuação. Nas competições femininas, nós temos um licenciamento para as equipes participarem, com algumas exigências, dentre elas, que os times possuam profissionais mulheres no seu quadro técnico e diretivo, sejam atuando como diretoras, coordenadoras, treinadoras, auxiliares ou fisioterapeutas. Estamos exigindo cada vez mais mulheres. Quanto à formação dessas mulheres, a Federação está iniciando um programa de bolsas de estudos para mulheres dentro dos nossos cursos da FPF Academia, que promove cursos de capacitação profissionais no futebol paulista. Temos também o programa de Liderança Feminina, que é para a capacitação de mulheres no desenvolvimento estratégico de suas carreiras.

Como vocês trabalham em parceria com os clubes e as escolinhas de futebol para fomentar a participação das meninas na modalidade?

Nós exigimos que todos os profissionais que atuem em nossas competições tenham a formação técnica necessária. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) promove um curso de treinadores com uma licença obrigatória, e nós exigimos essa licença aos nossos treinadores. E a cada ano estamos em um processo gradativo, sempre exigindo licenças maiores. Nas nossas categorias de base deste ano, a exigência é a Licença C, com a FPF custeando 50% do valor para profissionais do nosso estado que atuam em equipes filiadas.

Como a Federação incentiva a equidade de gênero no futebol, não apenas em campo, mas também em cargos de liderança e gestão?

Isso passa também pelos nossos programas, principalmente o de Liderança Feminina, que é voltado principalmente para gestoras, mulheres que cuidam de seus clubes. Temos uma procura de outras federações, temos profissionais do Rio de Janeiro fazendo nossos cursos. Criamos um curso de supervisores que vem agregando muito valor para o futebol paulista, com profissionais de todo o Brasil.

Quais são os principais resultados alcançados pela FPF no desenvolvimento do futebol feminino até o momento?

O crescimento exponencial das categorias de base. Hoje, nenhuma outra federação possui as competições que nós possuímos. Este ano, teremos em Santo André pela primeira vez um festival sub-12 promovido pela FPF, temos também o nosso festival sub-14 há alguns anos, o Campeonato Paulista sub-15 e sub-17, e no ano passado nós criamos o Paulistão Feminino sub-20. Todo esse investimento na base tem trazido resultado para as nossas equipes adultas. A FPF é a única federação que promove uma peneira para ajudar os clubes a captar talentos, com meninas de diversos lugares do Brasil vindo participar. Esse ano, na nossa peneira de São Paulo, tivemos 45% das atletas participantes captadas por algum clube. E isso faz com que a roda do futebol feminino em nosso estado gire de uma forma saudável.

Você foi ao jogo de estreia do EC São Bernardo no Paulistão, agora, como enxerga a evolução da equipe em relação ao ano passado e ao futebol no Grande ABC em geral?

Na década de 90, o Clube Atlético Aramaçan possuía uma competição com três categorias diferentes, e diversos movimentos eram criados. O São Bernardo FC e o São Caetano possuíam equipes femininas, o Santo André também tinha uma equipe associada à Prefeitura. Existia um belo movimento no Grande ABC que se perdeu ao longo dos anos. Até dois anos atrás não haviam equipes da Região participando de nossas competições. Ano passado o EC São Bernardo teve a oportunidade de disputar o Campeonato Paulista, conseguindo se classificar para o Campeonato Brasileiro A3, e isso está dando visibilidade para a equipe e para a cidade em si. Este ano o clube abraçou mais a modalidade, trazendo profissionais que conhecem realmente a categoria, com o treinador Prisco que conhece o futebol feminino como ninguém. No nosso festival sub-14 vamos ter pela primeira vez uma equipe do Grande ABC, o Andreense, e no sub-17 temos a volta do São Caetano. Todas as ações promovidas na Região estão atraindo novas equipes, movimentando o futebol feminino, fazendo com que novos talentos surjam.

Quais as estratégias adotadas pela FPF para atrair patrocinadores e investimentos para o futebol feminino?

Hoje nós temos patrocinadores máster, empresas associadas e que cuidam das vendas de direitos e propriedades. Já conseguimos dobrar a renda com patrocínios, todas as partidas são televisionadas de alguma forma. Temos canais de televisão e internet que transmitem nossos jogos, com os patrocinadores também investindo na modalidade. Ano passado nós tivemos a Universidade Cruzeiro do Sul oferecendo bolsas de estudo para as atletas, a Centauro, nossa principal patrocinadora, não só transmite os jogos, como faz alguns programas voltados para o futebol feminino, dissemina os jogos em todos os seus canais que são associados com a empresa NWB, que cuida da comunicação. Isso está se transformando em um ciclo que faz com que a nossa competição seja a mais forte do país, com a nossa premiação sendo a mais alta da história do futebol feminino no Brasil, chegando ao todo em R$ 3,1 milhões divididos entre todos os participantes. O campeão recebe R$ 1 milhão, e o vice R$ 500 mil.

Tivemos recentemente o caso do técnico Cuca contratado pelo Corinthians, com a equipe feminina realizando um post defendendo as mulheres. Qual o impacto para a FPF em relação a isso?

A Federação existe para prestar suporte às equipes da melhor maneira possível, nós não interferimos diretamente em assuntos relacionados aos clubes, mas estamos aqui para prestar o suporte a qualquer eventualidade. Nós apoiamos a equipe feminina em qualquer controvérsia, soubemos que tivemos alguns ataques a elas, mas elas têm nosso apoio para continuar desenvolvendo seu trabalho da melhor maneira.

Qual é a mensagem que a Federação Paulista de Futebol gostaria de transmitir para as jovens jogadoras de futebol que sonham em seguir uma carreira no esporte?

A principal mensagem é que o futebol para mulheres é realidade, não é mais impossível, ele traz diversas possibilidades para a vida e formação de cidadãs. O futebol abre diversas portas, onde uma mulher pode atuar como gestora, árbitra, treinadora e como atleta, é um universo que necessita ser mais explorados por mulheres, e temos que ter cada vez mais mulheres no futebol, para que se torne mais igualitário e que cumpra sua função na nossa sociedade, que não é só a paixão, mas também a responsabilidade na nossa sociedade.




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