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Anistia alerta para ‘banho de sangue’ no Rio
07/10/2004 | 23:39
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A organização não-governamental Anistia Internacional divulgou um comunicado nesta quinta-feira alertando para o risco de um “banho de sangue” por causa da guerra do tráfico nas favelas de Vigário Geral e Parada de Lucas, zona Norte do Rio. Dominada pelo Comando Vermelho, Vigário Geral foi invadida no fim de semana pelo Terceiro Comando, que manda no tráfico em Lucas. Em entrevista por telefone, o psiquiatra holandês Nanko Van Buuren, que trabalha num posto médico na divisa das duas favelas, descreveu cenas de um campo de batalha: “Estou falando contigo e vejo mais de 80 pessoas armadas olhando para um lado e para o outro.”

Desde o fim de semana, três pessoas morreram e quatro ficaram feridas em confrontos entre gangues rivais e com a Polícia Militar. Moradores de Vigário Geral foram expulsos de casa pelo Terceiro Comando. As autoridades admitem que há uma onda de disputas pelo controle do tráfico nas favelas. “Haverá novos confrontos”, disse o comandante-geral da PM, coronel Hudson Miranda.

“Se a situação continuar como está e o Comando Vermelho tentar pegar a favela de volta, será um massacre”, disse Buuren, diretor do Instituto Brasileiro de Inovações em Saúde Social. Eram 17h30 e, segundo o holandês, policiais haviam acabado de sair da favela, após uma operação que durou apenas meia hora. “Parece que a polícia foi comprada. Quando os policiais entram, nada acontece, não prendem ninguém.”

Buuren disse que os homens do Terceiro Comando não estão maltratando inocentes: “Eles entram nas casas perguntando pelas pessoas do Comando Vermelho. Se não tiver ninguém, vão embora.”

A Anistia cobrou atitudes urgentes “para evitar a morte de pessoas inocentes” e criticou as autoridades do Rio. “Ainda que a polícia esteja presente em áreas próximas, parece que não há intenção de recuperar o controle das favelas, apesar da clara ameaça desta situação à população civil”, diz o comunicado da entidade, acrescentando: “As razões para essa falta de ação não são claras.”

A Secretaria de Segurança informou, por meio de sua Assessoria de Imprensa, que “a polícia está fazendo o possível não só para punir os delinqüentes como também para garantir a integridade da população”. A Anistia divulgou o alerta um dia depois de Miranda ter anunciado a troca de oito comandantes de área da PM.

Expulsos de casa no sábado, cem moradores de Vigário Geral continuam ocupando a creche Barbosa Lima Sobrinho, em outra comunidade vizinha, a Favela do Dique. Eles dormem amontoados nas salas de aula, que antes serviam a 180 crianças. Outras 50 pessoas estão na associação de moradores e num espaço cultural.

“Não tenho notícias do meu filho de 2 anos. Ele estava com minha mãe na hora da invasão, mas ela também está aqui na creche e ele não”, disse a vendedora ambulante N., 26 anos. Ela reclamou da falta de comunicação em Vigário Geral. “Cortaram as linhas telefônicas de lá.”




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