Setecidades Titulo Denúncias
Casos de violência doméstica podem ser denunciados por meio de códigos

Simulação de pedido de pizza no 190 é uma das maneiras para pedir ajuda; denúncias de agressão contra mulher aumentaram no primeiro trimestre

Thainá Lana
do Diário do Grande ABC
10/04/2023 | 09:51
Compartilhar notícia
Claudinei Plaza/DGABC


Simular um pedido de pizza, lanche ou remédio no 190, telefone da PM (Polícia Militar), pode ser uma das maneiras para que vítimas de violência doméstica denunciem seus agressores sem que eles percebam. Nos últimos anos, essa espécie de código foi utilizada por diversas mulheres do País para pedir ajuda e conseguir romper o ciclo de violência.

Em março deste ano, um homem foi preso em flagrante em Ceilândia, no Distrito Federal, após uma mulher ligar para a polícia fingindo pedir uma pizza. A vítima, de 38 anos, estava sendo ameaçada com uma faca, e como estava na presença do seu agressor, fingiu estar ligando para uma pizzaria. O policial que atendeu a ligação entendeu que se tratava de um pedido de socorro e enviou uma equipe até a casa da família.

Nos últimos anos, o País registrou diversos casos de denúncia de violência doméstica utilizando códigos.

A andreense Geisa (nome fictício), mãe de cinco filhos, sofreu violência doméstica por três anos do seu ex-marido. Ela conta que tentou ligar diversas vezes para a polícia, inclusive com diferentes códigos, mas não conseguiu realizar a denúncia porque em todas as vezes o agressor percebia e pegava o telefone dela. 

O ciclo de violência foi finalmente interrompido quando sua filha mais velha, de 16 anos, ligou escondida para a PM. “No começo era uma relação maravilhosa, depois começaram as crises de ciúmes, a falta de confiança e as agressões físicas e psicológicas. Minha filha pediu ajuda e deixou a porta aberta para os policiais entrarem”, desabafa a dona de casa. 

Além da polícia, a advogada de vulneráveis Antilia Reis destaca outros meios seguros e silenciosos para que vítimas monitoradas por seus agressores possam realizar as denúncias. “Desde terça-feira (4) que o Ligue 180, serviço telefônico que orienta e encaminha denúncias de violência contra as mulheres, passou a atender pelo WhatsApp. O atendimento funciona 24 horas, todos os dias da semana. Para que a queixa seja feita de maneira mais segura ainda, a vítima pode salvar o contato com outro nome, de uma amiga, por exemplo, e enviar seu endereço, caso precise de ajuda imediata”, orienta. 

Antilia destaca também outro sinal que pode ser utilizado para identificar mulheres em situação de perigo. 

“Quando uma mulher está com um X riscado na palma da mão significa que ela está pedindo socorro, que precisa de ajuda. Muitas vítimas fazem isso pelos vidros dos carros, ou quando vão em estabelecimentos. Precisamos aumentar a divulgação desses códigos para que todos possam reconhecer os sinais e enviar ajuda”, esclarece a advogada. 

Até o momento, não foram registrados nos municípios do Grande ABC chamadas para a PM utilizando códigos, conforme informou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) – a Pasta não respondeu quantas ocorrências foram contabilizadas no Estado. 

“Todos os policiais do Copom (Centro de Operações da Polícia Militar) são aptos para atender todas as ocorrências que lhes são apresentadas, sendo elas de qualquer natureza, incluindo violência doméstica”, esclareceu a SSP. 

CENÁRIO ALARMANTE

O número de denúncias de violência contra a mulher no primeiro trimestre deste ano é o maior registrado nos últimos quatro anos nos municípios da região. Nos três primeiros meses do ano, foram contabilizados 329 notificações ante 242 em 2020 – aumento de 36% no período, segundo levantamento do Diário com dados do Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. 

Para a advogada Antilia Reis, a alta de queixas pode estar relacionada com a maior conscientização das mulheres, principalmente durante a pandemia da Covid-19. “Por conta do isolamento social e também pelo aumento de casos de agressões durante a crise sanitária, houve mais divulgação dos principais canais de denúncia e também sobre os tipos de violência doméstica existentes. Muitas mulheres não conseguem interromper o ciclo de violência porque não se identificam como vítimas, acreditam que a agressão é apenas física”, conclui a especialista.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;