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Rede pública da região tem 5.378 estudantes com autismo

Maioria está matriculada nas escolas municipais; Santo André tem maior número de alunos (996), seguida por São Bernardo (800) e Diadema (620)

Beatriz Mirelle
01/04/2023 | 08:40
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Pedro Barbosa é acompanhado por auxiliar na Escola Municipal Engenheiro Carlos Rohm II, em Ribeirão (Foto: André Henriques/DGABC)
Pedro Barbosa é acompanhado por auxiliar na Escola Municipal Engenheiro Carlos Rohm II, em Ribeirão (Foto: André Henriques/DGABC)  Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra

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A educação é a chave de entrada para a construção de um futuro melhor. A escola é a primeira experiência de uma criança com outras realidades. Nela, os alunos são alfabetizados, desenvolvem habilidades intelectuais e motoras, entre outras características para ajudá-los no convívio social. Seja na escola regular ou especializada, as práticas de ensino que respeitem a individualidade de cada estudante são ainda mais necessárias para crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista).

No Grande ABC, as escolas da rede pública têm 5.378 crianças e adolescentes diagnosticados com o espectro. Deste número, 3.678 são estudantes das Prefeituras. Santo André tem o maior número, com 996 alunos autistas. Em seguida, estão São Bernardo (800), Diadema (620), São Caetano (601), Mauá (390), Ribeirão Pires (248) e Rio Grande da Serra (23). Já nas escolas estaduais da região são 1.700 estudantes com TEA. “Temos alunos com autismo que acompanham muito bem os conteúdos didáticos, mas têm dificuldades sociais e sensoriais. Há também crianças não-verbais, que têm maiores desafios na aprendizagem do conteúdo. Cada criança é um caso”, explica a orientadora educacional de Ribeirão Pires Valquiria Servilha, pedagoga com especialização em pedagogia hospitalar e empresarial, psicopedagogia e psicomotricidade.

Para alunos com TEA, são ofertadas atividades adaptadas com planejamento e materiais direcionados. “Em Ribeirão, temos 16 salas de recursos de atendimento profissional especializado. Se a criança não consegue focar no que o professor diz, dificilmente vai conseguir se alfabetizar. Fazemos um trabalho para desenvolver as habilidades de concentração para que ela melhore dentro de sala de aula.”

A professora de Educação Física Angélica Souza, 49 anos, moradora do Bairro Colônia, em Ribeirão Pires, é mãe de Pedro Barbosa, 8, um aluno da rede municipal diagnosticado com TEA no ano passado. “Ele é prematuro, nasceu com 26 semanas (seis meses). Aos 4 anos, quando foi para a escolinha, a diferença em comparação às outras crianças foi gritante. Ele ainda não falava, usava fraldas.”

Naquela época, o garoto realizou avaliação pela Apraespi (Associação de Prevenção, Atendimento Especializado e Inclusão da Pessoa com Deficiência de Ribeirão Pires), mas o primeiro laudo foi inconclusivo. Apenas em 2022, a família teve certeza que ele é autista em grau de suporte leve. “Mesmo antes, ele já tinha amparo. Sempre foi acompanhado por auxiliar e teve acesso à sala de recursos. Ele precisa de um caderno com linhas maiores e tudo isso a Prefeitura oferece.”

Segundo Angélica, o garoto, que aprendeu a falar aos 5 anos de idade, tem poucas adversidades na rotina escolar. “Ele sabe ler, acompanha bem as atividades. As únicas questões são de interação social e comunicação”, detalha.

Os avanços no desenvolvimento de Pedro a partir do apoio da escola são notáveis, segundo Angélica, mas o exemplo dele não é uma regra na região. Apesar de ser um direito, algumas mães relataram ao Diário as dificuldades para que os filhos tenham acesso a um auxiliar dentro da sala de aula. De acordo com elas, as unidades de ensino alegam que “não há necessidade” de acompanhante.



PARCERIA ENTRE FAMÍLIA, ESCOLA E SAÚDE FAZ PARTE DO TRATAMENTO
A recomendação do acompanhamento com equipe multidisciplinar é recorrente entre os profissionais da saúde em diagnósticos de TEA (Transtorno do Espectro Autista). Para ajudar no tratamento, é fundamental a união entre a família, a escola e os especialistas que acompanham a criança para que os resultados sejam mais eficazes. Essa proposta de parceria é realizada em escolas da rede pública da região, que aproveitam as recomendações dos psicólogos para incorporar conteúdos mais eficazes em casos de autismo, explica a orientadora educacional Valquiria Servilha, pedagoga com especialização em pedagogia hospitalar e empresarial, psicopedagogia e psicomotricidade.

Para a especialista, o apoio da família gera funcionalidade. “Se não tiver integração entre cuidadores, escola e terapeutas, os avanços serão mais demorados”, analisa.

De acordo com a psicóloga Valquiria Pucu Wollmann, diretora da clínica Potencializa Comportamental, em Santo André, o primeiro passo para o início da terapia em ABA (Análise do Comportamento Aplicada) é avaliar como a pessoa com autismo age e como ela deveria responder (considerando a comunidade em que vive, necessidades funcionais e faixa etária). Após a avaliação, é estabelecido um plano de ação para ampliar o repertório do paciente. “A família precisa ser nossa parceira. Tudo o que a gente traça no ambiente clínico deve ser reproduzido em outros locais. Os pais e a escola são essenciais nesse progresso”, pontua a especialista em ABA ao Autismo pela Ufscar (Universidade Federal de São Carlos).

Valquiria Wollmann destaca que as intervenções e os resultados não são como “uma receita de bolo” e devem considerar inúmeras variáveis. Mesmo assim, ela reforça que, geralmente, alunos com TEA ficarão mais tempo em contato com o mesmo tema de ensino até absorvê-lo. Nesse período, os profissionais costumam usar mais de uma técnica de aprendizagem. “A aceitação é um processo contínuo. Os medos e inseguranças são tão grandes que, às vezes, as famílias acabam superprotegendo e deixam de ofertar outras formas de aprendizagem. Por isso, também é necessário que os pais façam acompanhamento terapêutico”, comenta.

CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE AUTISMO GANHA AGENDA NO GRANDE ABC
O Dia Mundial da Conscientização sobre autismo é comemorado neste domingo (2). Para dar visibilidade ao debate, cidades do Grande ABC promoveram cronograma de atividades sobre o tema. Seja com caminhada ou piquenique, a região utilizará o fim de semana para divulgar informações a respeito do TEA (Transtorno do Espectro Autista).

A Secretaria da Pessoa com Deficiência de Santo André vai promover a 5ª Caminhada do Dia Mundial da Conscientização do Autismo, com concentração a partir das 9h no Paço Municipal. O evento vai até as 17h, com jogos esportivos, jogos de arremesso, triciclos e brincadeiras com monitores. “Queremos que o azul, cor símbolo do autismo, tome conta do Paço Municipal e redondezas, reforçando a mensagem de importância da inclusão da pessoa com TEA. Por isso, pedimos que todos venham com camisetas azuis ou brancas”, diz o secretário da Pessoa com Deficiência da cidade, Jobert Minhoca.

São Bernardo terá a 1ª Caminhada sobre o tema. O evento oferecerá gincanas, pintura facial, oficinas, apresentações culturais, teatro de fantoches e outras atrações. As atividades serão na Avenida Barão de Mauá, altura do número 71, das 9h às 12h.

Em Diadema, o Festival de Atividade Física Adaptada será das 9h às 12h, no Clube Mané Garrincha (Rua Cariris, 195 – Piraporinha).

Ribeirão Pires contará com caminhada e piquenique comunitário “Mais Informação Menos Preconceito”, promovido pela Fisiomed Ribeirão Pires, através do Programa AcolherMed, em parceria com a Prefeitura. A concentração será a partir das 9 horas, na Avenida Fortuna, 288, no Centro até a Tenda Multicultural Complexo Ayrton Senna (Avenida Prefeito Valdírio Prisco, 193 – Jardim Itacolomy)




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