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Cláudio Cretti expoe sua arte em branco e preto em SP
Do Diário do Grande ABC
14/03/2000 | 15:38
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Claudio Cretti explica a sobriedade da mostra que inaugura esta quarta-feira para convidados como uma necessidade de silêncio visual. Mais que isso, vê a opçao por materiais como o mármore de Carrara, o granito negro e a madeira maciça (no caso, o cedro ebanizado) como uma tomada de posiçao frente às tendências que sucederam o modernismo. "Tudo que é pós-moderno me incomoda", observa o artista, que nao usa cor em nenhum dos objetos - desenhos e esculturas - que mostra na Galeria Marília Razuk até o dia 10.

"Nao é nada contra a cor, mas contra a arte barulhenta, a arte-espetáculo", ressalta o artista, que fez uso de cores em trabalhos anteriores. "Apenas o preto e o branco conseguem promover esse ambiente de concentraçao, o que permite uma observaçao mais cuidadosa das tensoes sutis de cada peça". Nas esculturas - feitas dos materiais que o artista classifica como "fora de moda" -, essa atmosfera de silêncio é quebrada pela desconfortável sensaçao de desequilíbrio, provocada pela estrutura das peças.

Os objetos, pesados em sua constituiçao, sao construídos ligeiramente fora do eixo de equilíbrio, de forma que a densidade das peças parece desafiar a gravidade e a percepçao visual. "As estruturas também fazem com que o olhar do espectador deslize até um determinado momento em que se defronta com uma indecisao", descreve Cretti, que vê na propriedade das formas incertas e improváveis uma maneira de dar ao objeto a aura de inacabado. "Por isso, acredito que o momento de parar meu trabalho é uma das principais questoes do meu processo de criaçao".

Dispostas no chao, as esculturas de Cretti, sempre confeccionadas em blocos únicos, sao conseqüências de desenhos prévios e maquetes. O artista adverte que as estruturas foram calculadas para que sejam decifradas apenas depois de olhadas de todos os lados. De acordo com ele, essa visao tem a ver com a idéia de forma infinita, sobre a qual "olhares escorregam sem conseguirem fixar em ponto algum". "Jamais parto da experimentaçao dos materiais para depois realizar o projeto", explica o escultor.

Ainda assim, considera essa estratégia intuitiva. No catálogo da exposiçao, o artista reproduziu um trecho de um texto de Jorge Luis Borges para ilustrar essa opçao pelo limite das formas e dos espaços da mostra: "Compreendeu que nao podia recordar as formas, os sons e as cores dos sonhos; nao havia formas, cores nem sonhos, e nao eram sonhos. Eram sua realidade, uma realidade mais além do silêncio e da visao e, por conseguinte, da memória".

A memória, aliás, é para o artista um dos mananciais de sua atividade. "É do repertório de minhas lembranças que tiro as idéias de minhas criaçoes", comenta Cretti, que desde criança coleciona pedras. Os desenhos da mostra nao trazem projetos de objetos. Eles sao objetos em si, autônomos, deslocados e sem cor como as esculturas. Também da mesma forma que as peças de pedra e madeira, os quadros sugerem o desequilíbrio e a vertigem, nas palavras do autor, "um desvio sutil, que cria tensoes por meio da matéria que tenta se libertar da gravidade".

A matéria, no caso dos desenhos, é o bastao a óleo, visualmente denso como o mármore ou a madeira e também ligado aos instrumentos tradicionais da criaçao plástica. "Nos desenhos, a tensao é criada pelo espaço, como se a matéria oleosa também travasse uma batalha com o seu peso", observa o artista. Nos desenhos, que medem 1,55 m por 0,9 m, ele cita questoes ligadas ao modernismo como a construçao geométrica.




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