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Trânsito mata uma pessoa a cada dois dias

Segundo os bombeiros, acidentes nas ruas representam metade das ocorrências de resgate

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
25/10/2011 | 07:30
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A violência no trânsito mata uma pessoa a cada dois dias no Grande ABC, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Até agosto foram registradas 166 mortes por acidentes automobilísticos nos sete municípios do Grande ABC. A cidade com maior número de vítimas fatais é São Bernardo, com 44. Em seguida vêm Diadema (20) e Santo André (16).

De janeiro a outubro deste ano, o Corpo de Bombeiros atendeu 5.254 acidentes de trânsito na região, o que representa 52% das ocorrências de resgate e 33% do total de atendimentos. O comandante da corporação no Grande ABC, tenente-coronel Roberto Rensi, aponta a falta de conscientização dos motoristas como a principal causa do alto índice de mortes nas ruas. "As leis existem, a fiscalização também. O povo tem que ter a noção clara de que se dirigir embriagado ou exagerar na velocidade, poderá causar acidente e haverá punição."

A brutalidade nas ruas também onera os cofres públicos. A Secretaria de Estado da Saúde aponta que, em 2010, o Sistema Único de Saúde gastou R$ 56,7 milhões para tratar pacientes internados por acidentes graves de trânsito. O valor é equivalente à construção de um hospital com 200 leitos.

O diretor do Hospital de Emergências Albert Sabin, em São Caetano, Paulo Sartori, revela que a unidade chega a atender 150 pacientes feridos nas ruas, o que representa 15% do total de atendimentos. O médico concorda que a educação seria importante para diminuir o número de ocorrências. "Os motoristas ainda abusam muito." Apesar de reconhecer a culpa do álcool, Sartori afirma que a maior parte dos acidentados não chega ao hospital sob efeito da bebida. "A maioria dos atendimentos é referente a motoqueiros." 

MOTOS
Para diminuir o número de mortes envolvendo motociclistas, um grupo de médicos do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo elaborou conjunto de propostas que visa aumentar a segurança de quem anda sobre duas rodas. Os itens foram apresentados no 1º Fórum Saúde e Trânsito, promovido em junho pelo hospital.

Um dos organizadores, o microcirurgião Marcelo Rosa de Rezende, do Instituto de Ortopedia, afirma que o principal objetivo é melhorar o convívio entre motoristas e motociclistas. "É preciso regulamentar as áreas de circulação das motos, aumentar o rigor para a obtenção da habilitação e aumentar a fiscalização da velocidade dos motoqueiros, entre outras medidas", aponta. Ele revela que o gasto médio com acidentados no HC é de R$ 30 mil.

 

Sites apontam locais de blitze da Lei Seca 

Usuários da internet utilizam a rede de computadores para avisar, em tempo real, onde estão sendo feitas blitze da Lei Seca. A ferramenta possibilita que o motorista sob efeito de álcool altere o caminho e não passe pela fiscalização.

Sem se identificar, o coordenador de um dos sites, no entanto, nega que a página tenha o objetivo de incentivar a combinação entre álcool e direção. "A lei é mal aplicada, tem o objetivo de arrecadar, e cerceia o direito de ir e vir. O governo não pode fazer isso sem oferecer transporte alternativo de qualidade. Isso é transferir a responsabilidade ao motorista", reclama. Na opinião dele, as blitze causam incômodo até em quem não consome álcool. "Gera muito trânsito, além do risco de assalto na fila."

O comandante da Polícia Militar no Grande ABC, coronel Roberval França, diz que a ferramenta não é ilegal, mas deve ser usada com responsabilidade. Neste ano, 35 pessoas foram presas em flagrante por dirigirem embriagadas na região. Em 2010, o número chegou a 39.

 

Para especialista, lei tem brechas e precisa de revisão 

Presidente da Comissão de Trânsito da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo, Maurício Januzzi é enfático: "A Lei Seca tem várias brechas e precisa de alterações urgentes."

A Polícia Rodoviária Federal entende que não existe limite seguro para dirigir após ingerir álcool, pois o efeito no organismo varia de acordo com o sexo, o peso e a ingestão de alimentos.

Ainda assim, explica que "consumir o equivalente a uma lata de cerveja (340 mililitros), ou uma taça de vinho (140 mililitros), ou uma dose de cachaça, vodca ou uísque (40 mililitros) é o bastante para ser multado."

Quando o bafômetro acusa entre 0,14 miligrama de álcool por litro de ar expelido até 0,33 mg/l, o motorista flagrado é multado em R$ 957, perde o direito de dirigir por 12 meses e tem carro e documento apreendidos.

Se o aparelho marcar mais do que 0,34 mg/l, o condutor está sujeito à mesma penalidade, mas como o índice também caracteriza crime de trânsito, pode levar o motorista à detenção por seis meses a três anos, além da proibição de dirigir.

"O índice de álcool por litro de sangue só pode ser obtido pelo bafômetro ou pelo exame de sangue, mas como o motorista não é obrigado a fazer os testes, ninguém pode ser punido, independentemente de causar acidente ou morte, o que torna a lei inaplicável", afirma Januzzi.

O especialista defende a obrigatoriedade da submissão ao exame clínico, realizado por médicos, que identificam sinais de embriaguez, e que este seja considerado válido para determinar se o motorista está ou não bêbado.

A duração da pena também deveria ser revista. "A pena é irrisória. Além disso, a pessoa que é flagrada pode acabar pagando só cesta básica, o que provoca o sentimento de impunidade". (André Vieira)

 

Motoristas bêbados causam série de acidentes com mortes 

A sequência de acidentes e atropelamentos causados por condutores embriagados tem assustado a população paulista neste ano.

Em 21 de agosto, o garçom Thiago Santos Vidal, 25 anos, bateu com um Vectra a 200 km/h na Avenida Lauro Gomes, em São Bernardo. O acidente causou a morte de um dos ocupantes do veículo, o chapeiro Pedro da Cruz, 31. O motorista não tinha habilitação e assumiu ter ingerido bebida alcoólica. Vidal foi preso em flagrante e responde por homicídio doloso, por ter assumido o risco de matar.

Na Capital, dia 23 de julho, a nutricionista Gabriela Gerrero, 28, capotou sua Land Rover na Vila Madalena e atingiu o administrador de empresas Vitor Gurman, 24, que caminhava pela calçada. Ele morreu quatro dias depois no Hospital das Clínicas. A condutora estava alcoolizada e voltava de uma balada com o namorado.

No Alto de Pinheiros, em 17 de setembro, mãe e filha também foram atingidas na calçada, próximo à saída de um shopping. Miriam Baltresca, 58, morreu no local e a filha, Bruna Baltresca, 28, faleceu no hospital. O Golf desgovernado era conduzido pelo bibliotecário Marcos Alexandre Martins, 33, que recusou-se a fazer teste do bafômetro e foi autuado por duplo homicídio.

O caso mais recente aconteceu sábado, quando três garis foram atropelados na Marginal do Pinheiros pelo bancário Fernando Mirabelli, 32, de São Bernardo, que, alcoolizado, conduzia uma Hilux. Dois garis morreram e o outro ficou ferido. O condutor está preso e foi indiciado por homicídio doloso inafiançável. (Maíra Sanches)




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