Corpo de Bombeiros não escapa das ligações enganosas, que já se aproximam de 400 apenas no Grande ABC, segundo dados oficiais
O Copom (Centro de Operações da Policia Militar de São Paulo) recebeu, de janeiro até o dia 11 de setembro deste ano, seis milhões de ligações telefônicas feitas a partir da Capital e Região Metropolitana de São Paulo, que inclui os municípios do Grande ABC.
O volume de chamados no canal de emergência 190 é impactado por falsos comunicados de crimes ou pedidos de socorro. Das ligações feitas no período, 359.825 foram trotes, o que equivale a 6% do total.
Os dados foram obtidos pelo <CF52>Diário</CF> por meio da Lei de Acesso à Informação. A reportagem solicitou recorte específico das sete cidades do Grande ABC. Através do SIC (Sistema Integrado de Informações ao Cidadão), a PM esclareceu não ser possível fornecer dados exatos por município da região, “pois as ferramentas de estatística registram as ligações ao 190 que entram pelo PABX do Copom, estando o Grande ABC (e cidades da Região Metropolitana de São Paulo) inserido no Centro de Operações Capital”. </CW>
Na média diária, entre janeiro e 11 de setembro, as equipes do Copom receberam 23.564 contatos, sendo 1.416 falsos chamados. No canal 190 da PM, a quantidade de ligações realizadas neste período é 25% superior aos contatos registrados entre janeiro e agosto do ano passado (4,7 milhões de chamados). O número de trotes cresceu 20% no comparativo com os oito primeiros meses de 2021 (298.130 ligações falsas no período).
Para o especialista em segurança pública e privada, Jorge Lordello, que atuou por 25 anos como delegado da Polícia Civil, apesar de serem antigos conhecidos, os trotes representam grave problema às equipes que atuam nos serviços de emergência – além da PM e dos bombeiros, Defesa Civil, Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), canais de denúncia anônima, entre outros.
“Além de atrasar o atendimento das ocorrências reais, esse tipo de ação atrapalha o trabalho dos profissionais há muito tempo. Antes, tínhamos muitas ligações feitas de orelhões próximos a escolas. Eram crianças e jovens brincando. Hoje tem gente que passa trote para gravar e colocar nas redes sociais, para mostrar a outras pessoas”, evidenciou Lordello.
Mais do que somente brincadeiras, o trote também é recurso utilizado por criminosos. “Tem equipe de Samu que é acionada e ao chegar ao local é assaltada. Levam celulares dos profissionais e equipamentos, como desfibriladores. Com isso, em algumas áreas, quando o serviço é chamado, pede para ser acompanhado por viatura da polícia”, disse.
BOMBEIROS
Neste ano, entre janeiro e agosto, o Cobom (Centro de Operações do Corpo de Bombeiros) recebeu 10.878 ligações telefônicas, pelo 193, feitas a partir do Grande ABC. No período, foram registrados 342 trotes, 3,1% do total de chamados.
PENALIDADE
Em agosto, o governo de São Paulo publicou decreto que regulamenta a aplicação de multa para quem ligar e tentar enganar as equipes dos serviços de emergência.
Desde 2012, o Estado tem legislação que prevê a penalidade a quem passa trote para o Copom e Cobom. O valor da multa é de R$ 2.148,70. De acordo com o decreto, a partir da identificação de chamada telefônica que possa configurar trote, será lavrado Auto de Infração. A análise do caso poderá resultar na instauração de processo administrativo para a aplicação da penalidade ao assinante ou responsável pela linha telefônica utilizada no trote e seu respectivo endereço.
Lordello avalia que, mais do que a regulamentação de lei, é necessário o trabalho de conscientização na base, em escolas e junto às comunidades, além da tomada de ações mais rigorosas por parte das autoridades. “Não existe no Código Penal o crime do trote. Mas é possível encontrar, para cada tipo de ligação falsa, um enquadramento”.
Como exemplo, o especialista menciona o artigo 340 do Código Penal, que prevê detenção de um a seis meses ou multa a quem “provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou contravenção que sabe não se ter verificado”. “Um dos desafios desse trabalho é identificar a origem da ligação. E, depois, imagine a quantidade de inquéritos. Isso atravanca o sistema. Quem passa trote, além de atrapalhar o serviço de emergência, está mexendo com a máquina do Estado”, concluiu o especialista.
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