Política Titulo
Itamar desafia Fraga Neto para debate em Nova York
Do Diário do Grande ABC
24/10/1999 | 18:41
Compartilhar notícia


O governador de Minas Gerais Itamar Franco (PMDB), desafiou neste domingo, em Marselha, na França, o presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga Neto, definido por ele como "um alienígena desinformado", para um debate em Nova Iork, no Conselho das Américas, no mesmo local onde ele recentemente desaconselhou investimentos no Estado. Itamar afirmou que Fraga Neto, homem da comunidade financeira internacional, poderá, se quiser, ser assessorado pela empresa norte-americana Southernrs Eletric Brasil, grupo minoritário norte- americano afastado da direçao das Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig), após uma decisao judicial.

Esse desafio foi lançado quando o governador mineiro confirmava os efeitos negativos para Minas Gerais, no plano externo, das declaraçoes do presidente do BC, mesmo se o Estado nada tenha sofrido na área de investimentos. Esse debate, que seria dirigido aos investidores, poderá também ocorrer em outras partes do mundo, em Washington ou Paris, onde o presidente do BC escolher, e pode desenvolver-se em qualquer uma das línguas preferidas dele, acrescentou o governador. Essa seria uma boa ocasiao para esclarecer as afirmaçoes de Fraga Neto, que disse que o governo de Minas Gerais cometia desatinos, e as da empresa Southernrs, que afirma que a Cemig está sendo mal-administrada.

Essa recente evoluçao parece ter comprometido definitivamente o difícil relacionamento político entre Itamar e o presidente Fernando Henrique Cardoso. Pelo menos, quando perguntado se nao passava pela cabeça dele o restabelecimento das relaçoes políticas com o presidente, Itamar respondeu: "Ele optou por uma outra política; hoje, seria impossível caminharmos juntos politicamente; nao há como estarmos na mesma faixa."

Antes, ele fez um resumo da evoluçao das relaçoes com FHC, dizendo que foi o ex-ministro da Fazenda Rubens Ricúpero "o sacerdote do Plano Real ", citando também o papel desempenhado pelo ex-ministro Ciro Gomes. Para Itamar, nao há nada de pessoal contra o presidente, mas ele imaginava que FHC fosse seguir uma linha de conduta política mais próxima do passado dele, dos livros e da convivência, mas "Sua Excelência buscou outros caminhos".

Itamar encontra-se numa cruzada para derrotar FHC em 2002. Tudo indica que, daqui para frente , a cruzada de Itamar será para derrotar o presidente FHC e o grupo político dele em 2002. Ele nao deixa muitas dúvidas que esse é o eu objetivo.

Perguntado se a guinada à esquerda, o discurso contra a globalizaçao e as privatizaçoes, por exemplo, nao constituía uma forma de abrir um espaço à oposiçao para obter apoio de partidos como o PT, Itamar diz que é muito cedo para falar sobre isso. "Sou um matemático que nao se baseia em hipóteses."

A meta dele é outra: "O que mais desejo é ajudar a mudar os personagens que estao dirigindo a política brasileira; precisamos tirar democraticamente esse pessoal de lá, pela eleiçao e pelo voto."

Para isso pretende, aliar-se a forças com quem tem diferenças, mas nao muito profundas. "É claro que cada partido tem sua ideologia e suas particularidades, mas o mais importante é afastar com urgência, em 2002, todo essa gente que lá se encontra."

Isso explica também a coincidência da visita à Europa no momento que FHC deverá visitar o Estado. Itamar disse que, até o dia da saída do Brasil, nao havia recebido nenhuma comunicaçao oficial do Palácio do Planalto: "Fui presidente e sei que as deslocaçoes do presidente nao se improvisam e sao previstas pelo menos 15 dias antes." Segundo Itamar, o compromisso na França havia sido acertado há muito tempo, mas nao é isso que afirma a direçao de Attac, essa associaçao de luta contra os capitais especulativos, que afirma ter convidado o governador há apenas 20 dias. Ele lembrou que o presidente nao visitou Minas Gerais no Dia de Tiradentes, o patrono do Estado, acreditando que o presidente tenha tido outros compromissos mais importantes. Até hoje, ele ainda nao sabe se o presidente irá ou nao a Minas Gerais.

Essas divergências entre os dois sao hoje tao profundas que Itamar reconhece que está forçando, junto ao PMDB, uma convençao extraordinária em janeiro, quando o partido deverá definir se continua ou nao apoiando a política presidencial. Ele tratou disso com a direçao nacional do partido e conversou com o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP). Se o PMDB quiser continuar apoiando a política presidencial, pode fazê-lo, segundo Itamar, que diz ter uma grande tristeza com esse partido pelo comportamento atual. Itamar lembra que veio MDB e assiste hoje com muita tristeza a uma evoluçao partidária negativa. Por isso, está disposto a esperar pela convençao de janeiro, pedida pelo diretório mineiro. "Mas, se o partido optar por permanecer nessa mesma posiçao, nessa data vou escolher meu destino", afirmou, deixando implícita a possibilidade de uma eventual saída do PMDB.

Apresentado como o espantalho das privatizaçoes no Brasil pela associaçao que o convidou para falar em Marselha, Itamar confirmou a fama prometendo que nao permitirá a privatizaçao de Furnas em Minas Gerais, "essa filha da Cemig, vítima de um atentado à soberania nacional". A questao, revelou Itamar, nao é só Furnas, mas é o que ela representa em termos de mananciais de água. Por isso, o governador de Minas Gerais afirmou que está na linha de frente da campanha contra a privatizaçao de Furnas: "Essa eu pago para ver; duvido que a privatizaçao possa ocorrer." Treze juristas foram consultados por Itamar e todos consideram ilegal essa privatizaçao.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;