Esse desafio foi lançado quando o governador mineiro confirmava os efeitos negativos para Minas Gerais, no plano externo, das declaraçoes do presidente do BC, mesmo se o Estado nada tenha sofrido na área de investimentos. Esse debate, que seria dirigido aos investidores, poderá também ocorrer em outras partes do mundo, em Washington ou Paris, onde o presidente do BC escolher, e pode desenvolver-se em qualquer uma das línguas preferidas dele, acrescentou o governador. Essa seria uma boa ocasiao para esclarecer as afirmaçoes de Fraga Neto, que disse que o governo de Minas Gerais cometia desatinos, e as da empresa Southernrs, que afirma que a Cemig está sendo mal-administrada.
Essa recente evoluçao parece ter comprometido definitivamente o difícil relacionamento político entre Itamar e o presidente Fernando Henrique Cardoso. Pelo menos, quando perguntado se nao passava pela cabeça dele o restabelecimento das relaçoes políticas com o presidente, Itamar respondeu: "Ele optou por uma outra política; hoje, seria impossível caminharmos juntos politicamente; nao há como estarmos na mesma faixa."
Antes, ele fez um resumo da evoluçao das relaçoes com FHC, dizendo que foi o ex-ministro da Fazenda Rubens Ricúpero "o sacerdote do Plano Real ", citando também o papel desempenhado pelo ex-ministro Ciro Gomes. Para Itamar, nao há nada de pessoal contra o presidente, mas ele imaginava que FHC fosse seguir uma linha de conduta política mais próxima do passado dele, dos livros e da convivência, mas "Sua Excelência buscou outros caminhos".
Itamar encontra-se numa cruzada para derrotar FHC em 2002. Tudo indica que, daqui para frente , a cruzada de Itamar será para derrotar o presidente FHC e o grupo político dele em 2002. Ele nao deixa muitas dúvidas que esse é o eu objetivo.
Perguntado se a guinada à esquerda, o discurso contra a globalizaçao e as privatizaçoes, por exemplo, nao constituía uma forma de abrir um espaço à oposiçao para obter apoio de partidos como o PT, Itamar diz que é muito cedo para falar sobre isso. "Sou um matemático que nao se baseia em hipóteses."
A meta dele é outra: "O que mais desejo é ajudar a mudar os personagens que estao dirigindo a política brasileira; precisamos tirar democraticamente esse pessoal de lá, pela eleiçao e pelo voto."
Para isso pretende, aliar-se a forças com quem tem diferenças, mas nao muito profundas. "É claro que cada partido tem sua ideologia e suas particularidades, mas o mais importante é afastar com urgência, em 2002, todo essa gente que lá se encontra."
Isso explica também a coincidência da visita à Europa no momento que FHC deverá visitar o Estado. Itamar disse que, até o dia da saída do Brasil, nao havia recebido nenhuma comunicaçao oficial do Palácio do Planalto: "Fui presidente e sei que as deslocaçoes do presidente nao se improvisam e sao previstas pelo menos 15 dias antes." Segundo Itamar, o compromisso na França havia sido acertado há muito tempo, mas nao é isso que afirma a direçao de Attac, essa associaçao de luta contra os capitais especulativos, que afirma ter convidado o governador há apenas 20 dias. Ele lembrou que o presidente nao visitou Minas Gerais no Dia de Tiradentes, o patrono do Estado, acreditando que o presidente tenha tido outros compromissos mais importantes. Até hoje, ele ainda nao sabe se o presidente irá ou nao a Minas Gerais.
Essas divergências entre os dois sao hoje tao profundas que Itamar reconhece que está forçando, junto ao PMDB, uma convençao extraordinária em janeiro, quando o partido deverá definir se continua ou nao apoiando a política presidencial. Ele tratou disso com a direçao nacional do partido e conversou com o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP). Se o PMDB quiser continuar apoiando a política presidencial, pode fazê-lo, segundo Itamar, que diz ter uma grande tristeza com esse partido pelo comportamento atual. Itamar lembra que veio MDB e assiste hoje com muita tristeza a uma evoluçao partidária negativa. Por isso, está disposto a esperar pela convençao de janeiro, pedida pelo diretório mineiro. "Mas, se o partido optar por permanecer nessa mesma posiçao, nessa data vou escolher meu destino", afirmou, deixando implícita a possibilidade de uma eventual saída do PMDB.
Apresentado como o espantalho das privatizaçoes no Brasil pela associaçao que o convidou para falar em Marselha, Itamar confirmou a fama prometendo que nao permitirá a privatizaçao de Furnas em Minas Gerais, "essa filha da Cemig, vítima de um atentado à soberania nacional". A questao, revelou Itamar, nao é só Furnas, mas é o que ela representa em termos de mananciais de água. Por isso, o governador de Minas Gerais afirmou que está na linha de frente da campanha contra a privatizaçao de Furnas: "Essa eu pago para ver; duvido que a privatizaçao possa ocorrer." Treze juristas foram consultados por Itamar e todos consideram ilegal essa privatizaçao.
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