Bicentenário da Independência do Brasil Titulo BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA
Símbolos históricos, Monumento à Independência e Casa do Grito preservam relíquias e mistérios

Cripta imperial guarda restos mortais de dom Pedro 1° e suas duas mulheres

Joyce Cunha
Do Diário do Grande ABC
03/09/2022 | 08:30
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Reprodução


No vai e vem de uma das maiores metrópoles do mundo, relíquias localizadas a poucos metros do imponente Museu do Ipiranga (Museu Paulista) podem passar despercebidas pelo público. Cercados de mitos e símbolos, o Monumento à Independência, idealizado em 1922 em celebração ao primeiro centenário do 7 de setembro, e a Casa do Grito fazem parte do enredo de diferentes narrativas.

Ambos integram a rede do Museu Cidade de São Paulo, vinculado ao Departamento de Museus Municipais da Secretaria de Cultura paulistana.

O Monumento à Independência presta homenagem a um dos principais marcos históricos do País e mais: em seu interior, dentro da Cripta Imperial, estão armazenados os restos mortais de dom Pedro 1º e suas duas mulheres, a imperatriz Leopoldina e dona Amélia. Já a Casa do Grito é detentora de um dos mistérios sobre o período.

No livro 1822, escrito pelo jornalista Laurentino Gomes a partir de profundo processo de pesquisa documental, o imóvel é citado como uma venda onde, segundo registros, um coronel chamado Marcondes, que integrava a guarda de honra de dom Pedro 1º, descansava com seus soldados. O famoso quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, reforça a narrativa de que a Casa do Grito compunha o cenário do 7 de setembro de 1822, pela representação de edificação com características similares.

Na avaliação de Gleibe Pretti, professor e sociólogo da Estácio, apesar dos desencontros, é inegável a importância do Monumento à Independência e da Casa do Grito para a história do Brasil. “Muito se discute se à época de 1822 a casa realmente existia ou não.

Há historiadores que dizem que (a edificação) seria até uma cocheira de animais. Se sabe que existia fortificação no local, até para descanso dos tropeiros. O que vale mesmo é a simbologia. O Brasil ainda é muito carente de monumentos simbólicos e agora, comemorando os 200 anos da Independência, eles se tornam muito mais especiais”, avalia.

O Núcleo de Formação e Desenvolvimento de Públicos do Museu Cidade São Paulo apresentou ao Diário alguns dos fatos históricos relacionados aos espaços.

O Monumento à Independência

Como parte dos preparativos para a comemoração do primeiro centenário da Independência, o governo de São Paulo fomentou concurso público, em 1917, para a criação do Monumento, situado nas proximidades do Museu do Ipiranga. O projeto vencedor foi o do escultor italiano Ettore Ximenes e do arquiteto Manfredo Manfredi. Sua construção foi iniciada em 1922, com inauguração feita durante as celebrações dos 100 anos do histórico 7 de setembro. As obras foram finalizadas apenas em 1926. 

De acordo com o Museu da Cidade de São Paulo, o Monumento à Independência, assim como outros, foi idealizado para representar a identidade histórica de uma parcela da sociedade. Neste caso específico, o objetivo era fortalecer o processo de independência do Brasil frente a Portugal. O projeto de Ximenes não foi unanimidade na avaliação de comissão, que teria estranhado a ausência de elementos do fato histórico brasileiro a ser perpetuado. Episódios e personalidades do País no período foram, então, incluídos. 

Simbologia

Com a alteração do projeto inicial de Ettore Ximenes e Manfredo Manfredi, que não eram brasileiros, o Monumento à Independência ganhou elementos em referência à Inconfidência Mineira (1789), à Revolução Pernambucana (1817) e às figuras de José Bonifácio de Andrada e Silva, entre outros articuladores de destaque no cenário político da época. 

De acordo com o Núcleo de Formação e Desenvolvimento de Públicos do Museu da Cidade de São Paulo, “está presente no topo (do Monumento) uma mulher representando a Independência, assim como um representante dos povos originários – que foram minimizados e desconsiderados em todo o processo de invasão e exploração das terras que hoje é o Brasil”. Também está destacada “a participação da cidade de São Paulo na história do País, com as simbologias da ferrovia, do café e da indústria como representação do progresso”. Posicionada à frente, a pira e suas chamas representam a liberdade do País e do povo. 

Cripta Imperial

Localizada sob o Monumento à Independência, nas proximidades do Museu do Ipiranga, e também gerida pelo Museu da Cidade de São Paulo, a Cripta foi construída em 1952 para armazenar os restos mortais imperiais. De acordo com o Núcleo de Formação e Desenvolvimento de Públicos da instituição, em 1954, os restos mortais da imperatriz Leopoldina, primeira mulher de dom Pedro 1º, vieram do Rio de Janeiro em comemoração ao 4º Centenário da cidade de São Paulo.

Em 1972, em comemoração aos 150 anos da Independência, os restos mortais de dom Pedro,que até então estavam em Portugal, vêm para o Brasil e ocupam a Cripta. Dez anos mais tarde, em 1982, o corpo da segunda mulher do imperador, dona Amélia foi trazido. “Segundo seu testamento, o desejo dela era ser enterrada ao lado de dom Pedro”. O Núcleo destaca que “a vinda dos restos mortais de dom Pedro foi usada como propaganda ideológica no período da ditadura militar”. 

Apesar de ser associada ao histórico 7 de setembro de 1822, especialmente por representação de edificação de características similares no quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, registros documentais indicam que a Casa do Grito, situada nas proximidades do Riacho e do Museu do Ipiranga, teria sido construída em meados do século 19, posteriormente ao processo de Independência. 

“Segundo documentação histórica, podemos afirmar que a Casa do Grito ainda não havia sido construída no período de 1822. Sua relação com a Independência do Brasil se dá na medida em que São Paulo, no início do século 20, ascende econômica e politicamente no cenário nacional. Nesse contexto, se começa criar um imaginário da Independência que busca justificar a centralidade da cidade em relação ao restante do País. Nesse movimento, a região do Ipiranga, o brado do ipiranga, e, consequentemente, a Casa do Grito ganham posição de destaque nessa narrativa”, afirma o Núcleo de Formação e Desenvolvimento de Públicos do Museu da Cidade de São Paulo

De acordo com os registros, naquele período, o bairro do Ipiranga era um território rural, afastado do centro e que fazia parte do trajeto conhecido como Caminho do Mar, por onde as tropas imperiais passavam em seus descolamentos entre o litoral e São Paulo. Faz parte deste percurso a Calçada do Lorena, trilha que corta a Serra do Mar para ligar Cubatão e São Bernardo e que se mantém preservada e aberta à visitação do público.

A CASA DO GRITO

A Casa do Grito, de acordo com o Núcleo de Formação, é uma construção de taipa de mão, técnica também conhecida como pau a pique. Com o passar do tempo, serviu de moradia para diversas famílias que foram modificando sua arquitetura original. A casa atualmente possui sete cômodos, está revestida com concreto, batentes, portas e janelas de madeira azuis, piso de tijolos e teto de telha.

Além de moradia de famílias, também serviu como casa de pouso e pequeno local de vendas. Próximo ao local passava a Estrada das Lágrimas, onde há a figueira das lágrimas, considerada a mais antiga árvore da cidade, que resiste até os dias atuais e foi declarada patrimônio ambiental do estado de São Paulo em 1989.




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