“Procurei não fugir do original. Assim, montamos o texto integral, que mostra uma epopéia”, afirma Ferreira. A história fala de Severino, retirante que sai do sertão nordestino em busca de melhores condições de vida. “Mantivemos também os arranjos do Chico”, diz. A diferença está na movimentação mais dinâmica. “O jovem de hoje está acostumado com o videoclipe”, afirma.
A fim de acentuar a constatação de que as coisas não mudaram desde 1956, quando João Cabral publicou Morte e Vida Severina, Ferreira acrescentou a canção Vozes da Seca, de Luiz Gonzaga. Inevitavelmente, a peça toca na questão agrária. “A história é atual, a reforma agrária está parada e os governantes pouco têm feito a respeito”, afirma. A montagem, portanto, remete à causa social dos sem-terra.
Uma visão crítica sobre a indústria da seca e o coronelismo domina o espetáculo. “Esperamos contribuir para a formação de uma consciência crítica. Após o espetáculo haverá um debate para instigar uma discussão que desperte essa moçada acostumada ao consumo, tirá-la da passividade, estimular sua participação na sociedade”, diz Ferreira.
São oito pessoas no palco – os músicos também atuam e cantam. “A música é meio brechtiana, serve como narrativa e aguça a sensibilidade do público. O cenário, praticamente, é o palco nu. Há, como alegoria, um grande sol no fundo”, afirma Ferreira. Adereços e figurinos ficam pendurados em um varal. A maquiagem reforça a dureza da vida do retirante.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.