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Quadro Independência ou Morte, ícone nacional, levou anos para ser exposto no Museu Paulista

A obra monumental, com quase 32 metros, fica no Salão Nobre do espaço há mais de um século

Renan Soares
Especial para o Diário do Grande ABC
19/08/2022 | 08:29
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Helio Nobre/Museu do Ipiranga


Em exposição permanente desde 1895 durante a abertura do Museu Paulista (Museu do Ipiranga) – na época ainda um edifício em homenagem ao 7 de Setembro –, um dos ícones da separação brasileira de Portugal, o quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, levou anos para ser exibido. A obra é fruto de encomenda para compor o Salão Nobre do museu, em local projetado especialmente para a peça. Uma carta de 1887 trocada entre Pedro Américo, que à época vivia em Florença, na Itália, com Tommaso Bezzi, o engenheiro arquiteto que projetou o edifício do Museu, revela a promessa de que em 1888 a obra estaria em São Paulo.

“Bezzi era o engenheiro arquiteto responsável pela construção do edifício (Museu Paulista), e o Pedro Américo já era um artista muito conhecido na época, já tinha feito quadros importantes como Batalha do Avaí (1877). Inicialmente, até a comissão construtora recusou a pintura, mas depois de alguns meses, eles decidiram contratar o Pedro Américo. Tudo leva a crer que houve uma negociação de como seria essa imagem. Para os paulistas era interessante que o dia 7 de Setembro fosse destacado no sentido do lugar onde aconteceu, na colina, em São Paulo”, revela a pós-doutoranda no Museu do Ipiranga, Michelli Cristine Scapol Monteiro. No momento, a especialista estuda contextos históricos de obras artísticas.

Já as tratativas diretas com Bezzi, que vinham desde 1886, tinham como objetivo saber exatamente onde seria colocada a tela, já que o acordo previa a encomenda da pintura e de moldura.

O quadro cruzou o oceano Atlântico de navio com o próprio artista em maio de 1888. Na chegada, o edifício-monumento se encontrava em fase final de construção. A obra, então, foi armazenada em uma sala na Faculdade de Direito de São Paulo. Quando o edifício foi concluído, em 1890, a República já havia sido instaurada e o império havia caído, o que adiou a inauguração do espaço, que era uma homenagem ao imperador.

A pintura e o prédio ficaram em segundo plano. Neste meio tempo, Pedro Américo conseguiu com que a pintura fosse exibida no pavilhão brasileiro em Chicago, no ano de 1893, na exposição que comemorava a chegada de Colombo à América. Em 1895, a obra é exposta no Salão Nobre do Museu Paulista (inaugurado com nome de Museu de História Natural, após apropriação do espaço pelo governo do Estado), local onde está até hoje, sem nunca ter sido retirada. A tela, com dimensões de 415 cm x 760 cm, é maior que as portas e janelas do salão. A moldura, é entalhada e folheada a ouro. A pintura foi restaurada em 1968, passou por limpeza e envernização em 1972 e em 1986 teve refrescamento de cores com o uso de solventes.

“As pinturas de história são sempre representações e idealizações do passado. A intenção do artista não era retratar, até porque é impossível. Elas eram uma mistura de documentos, o artista buscava informações históricas para compor essas pinturas, não poderia, por exemplo, retratar dom Pedro 1° numa mula, isso não seria o passado que se gostariam de perpetuar”, avalia Michelli, sobre a obra, que busca representar o momento que o príncipe declarou a independência às margens do rio Ipiranga, mais de 60 anos após o fato. 

Pintura passou por restauração para bicentenário

A obra Independência ou Morte, de Pedro Américo, é um dos itens restaurados para a reabertura do Museu Paulista, dia 6 de setembro, em comemoração ao bicentenário do suposto grito histórico na colina do Ipiranga. O quadro mais conhecido do acervo do museu estava sob os cuidados da restauradora Yara Petrella desde 2019, que realizou os consertos junto à sua equipe. Em 2020, o quadro foi embalado para que a reforma no Salão Nobre fosse iniciada.

A equipe precisou proteger a obra para evitar os resíduos gerados pelo restauro da sala com um tecido especial que impede a entrada de pó, mas que permite que a peça “respire”. O tecido e a obra foram inspecionados de seis em seis meses. Durante o restauro do edifício-monumento, a pintura também foi protegida por um anteparo metálico que garantiu a distância de 1,5 metros para o restante da área do Salão Nobre.

“Trata-se de um quadro excepcional em tudo: as suas grandes dimensões, o tema histórico representado, o fato de ter sido encomendado e projetado para o edifício que lhe dá um local especial e, sobretudo, por ser a pintura mais conhecida do País, exposta no Museu mais popular da cidade de São Paulo”, afirma Yara Petrella, conservadora e restauradora do Museu Paulista da USP (Universidade de São Paulo). A coordenadora explica que, pelo fato do suporte da pintura estar em bom estado, a opção de realizar o restauro no próprio local em que a obra se encontrava minimizou os riscos, garantindo um perfeito ajuste.

O processo de restauro incluiu análise química das tintas usadas e varredura na tela com luz infravermelha. Ambos os processos permitiram traçar a origem dos materiais utilizados pelo artista, e a evolução da pintura, com a revelação dos arrependimentos do artista, e os retoques feitos por ele. Entre outros detalhes, foi descoberto que o autor mudou a assinatura de lugar. A moldura também foi reconstruída em vários pontos e sua camada de ouro foi refeita.




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