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Programa recupera sonhos de
jovens em periferias de Diadema

Iniciado em 2000 e retomado neste ano, Adolescente Aprendiz coleciona histórias de superação e abre novas perspectivas para estudantes da cidade

Joyce Cunha
Do Diário do Grande ABC
10/07/2022 | 00:01
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DGABC/Celso Luiz


O Sítio Joaninha, região do Eldorado, em Diadema, é um dos 16 núcleos habitacionais atendidos pelo Adolescente Aprendiz, programa da Prefeitura que neste ano atenderá 700 jovens com idade entre 14 e 17 anos. Como parte da política de Educação Integral do município, esses moradores, alunos da rede estadual de ensino, recebem formação voltada à cidadania e ao empreendedorismo, no contraturno escolar.

O programa, promovido em parceria com a ONG (Organização Não Governamental) Rede Cultural Beija Flor, alia conhecimento e incentivo à permanência nos estudos. Pela iniciativa, meninas e meninos são inspirados por quem conseguiu transpor barreiras impostas por desigualdades sociais. 

“Nossos jovens, na maioria, são pobres, pretos, de periferia. O sistema ainda não absorve (esses jovens) da forma com que a gente precisa e gostaria. Não é porque falta a ele conteúdo. A gente vê jovens que são potências. Então temos que ter esse olhar, brigar junto com eles por uma vaga, para que eles tenham direito também a tudo o que um outro adolescente teria”, avalia Evelyn Cristina Daniel, diretora de Educação Popular de Diadema. 

A educadora trabalhou por seis anos como professora e assistente pedagógica do Adolescente Aprendiz. Foi nesse período que, em 2006, conheceu Tamyres Cristina Nunes Maciel, à época, com 14 anos. 

“Eu tinha acabado de perder meu pai, então estava totalmente perdida. Eu queria estudar e minha mãe sempre trabalhou muito para cuidar da gente. Não tinha aquela coisa de ficar olhando. Então foi uma fuga, onde eu conseguia desabafar, ter novos amigos, conseguia me encontrar, onde era aceita como eu era”, lembra Tamyres sobre seu primeiro contato, como aluna, com o programa educacional. 

Inspirada por sua professora Evelyn, Tamyres, formada em gastronomia e graduanda em pedagogia, é hoje uma das educadoras do Adolescente Aprendiz. O esforço dos professores é retribuído pela dedicação dos alunos, que voltam a sonhar com futuro de possibilidades ilimitadas.

Falar sobre planos de estudar engenharia ou viajar a Paris deixou de ser motivo de vergonha para Esther Medeiros Santos, 15 anos, uma das alunas do núcleo Sítio Joaninha. “Eu ligava muito para o que os outros pensavam de mim. Antes eu tinha um sonho e aí, por causa de coisas que aconteceram, eu acabei desistindo. Aqui temos suporte e isso me deu esperança para continuar”, revela a jovem.

Nas atividades de estímulo ao autoconhecimento, Esther descobriu seu potencial. “Agora sei que preciso correr atrás. Pensar que se quero estudar engenharia, o que eu preciso fazer? Eu tenho que me esforçar, porque as coisas não vão cair do céu”, enfatiza.

ADOLESCENTE APRENDIZ

O Adolescente Aprendiz, criado em 2000, foi suspenso pela Prefeitura entre 2013 e 2020. No último ano, a ação foi retomada com a criação de lei municipal que incluiu a iniciativa nas políticas públicas de educação integral de Diadema. Neste ano, serão 700 estudantes atendidos, quantidade que dobrará no próximo ano, com 1.400 vagas, e chegará a 2.100 adolescentes em 2024. 

O programa é dividido em dois módulos: Primeiros Passos, para 14 e 15 anos, e Travessia, de 16 e 17 anos. Como incentivo à permanência desses jovens nos estudos, o município oferece bolsa aos participantes. São R$ 150 para o módulo inicial e R$ 300 para o segundo.

Saúde, cultura, esporte, mentoria profissional, debate sobre questões étnico-raciais, mobilidade urbana e pertencimento territorial fazem parte da formação.

“Dentro disso a gente inclui uma parte de tecnologia. Na mentoria, a gente quer engajar uma rede de voluntariado corporativo, não só de empresas, mas do terceiro setor, para que eles conheçam e ampliem a visão de futuro, de formação, e as possibilidades para o mundo profissional”, explicou Ivone Silva, diretora executiva da ONG Rede Cultural Beija Flor, parceira da Prefeitura no Adolescente Aprendiz.




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