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Peça conta história de modernista brasileira
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
12/03/2003 | 20:20
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As relações humanas e artísticas entre os modernistas Tarsila do Amaral (1897-1973), Oswald de Andrade (1890-1954), Mário de Andrade (1893-1945) e Anita Malfatti (1896-1964) constituem a matéria-prima de Tarsila. Escrita por Maria Adelaide Amaral, a peça estréia sexta no Sesc Anchieta, em São Paulo, sob a direção de Sérgio Ferrara. Após 14 anos afastada do teatro, a artista plástica Maria Bonomi assina o cenário.

Esther Góes (Tarsila), José Rubens Chachá (Oswald), Luciano Chirolli (Mário) e Agnes Zuliani (Anita) formam o elenco. O fio condutor da história é Tarsila. A peça começa na casa dela, com a pintora, já no fim da vida, à espera de um jornalista para uma entrevista. “Foi a melhor maneira que encontrei para apresentar uma mulher que viveu intensamente. Abrem-se flashbacks que revelam momentos importantes da vida dela”, afirma Maria Adelaide.

Sobre Tarsila, a autora conta que “nunca” teve “notícia de alguém que fosse tal unanimidade”: “A pesquisa indicou que todos a achavam educadíssima, gentilíssima, e só se consegue construir um personagem pela contradição”. O artista plástico Tuneu, que trabalhou com Tarsila, forneceu a chave. “Ele disse que ela xingou a Pagu (Patrícia Galvão, por quem Oswald a deixou) de ‘aquela normalista’, o que indica a superioridade que Tarsila sentia”, diz.

Para Esther, a pintora tinha “forte temperamento, era arguta e paciente. Não desfraldava bandeira, mas teve uma vida sexual liberada para a época, lixou-se para a família aristocrática”. Abandonada por Oswald, Tarsila iniciou um romance com o crítico Luís Martins, 20 anos mais jovem. “Ela refletia muito, não respondia de primeira, e essa contenção foi o meu desafio”, diz Esther. “Tarsila exerceu influência enorme na literatura de Oswald”, afirma a autora.

Como o texto prevê ações em espaços e épocas diferentes, Maria Bonomi concebeu um cenário em que vários planos se integram. Há colunas alegóricas que remetem a palmeiras e a Paris, mas o objeto central é um cavalete. “É a essência da obra dela”, diz. São vistos poucos elementos de época. “Não quis fazer uma reconstrução naturalista. A função do artista é transgredir”, diz a cenógrafa.

A montagem conta com projeções de telas de Tarsila, como Abaporu, num cubo simbólico que deforma as imagens – alusão ao cubismo – e reproduções em tamanho original. Maria Adelaide não esconde o aspecto didático do espetáculo: “É inevitável, embora não seja o foco. A maior parte do público tem poucas referências a respeito”. Ferrara se esforçou em humanizar as quatro figuras históricas. “Nós os vemos como mitos, mas eles não se viam assim”, afirma.




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