Setecidades Titulo Paixão além da vida
O Maverick do Dr. Esperança

Jorge Pereira Gomes chama atenção por onde passa guiando o modelo de 1977, carro que ganhou de presente do filho Rodrigo

Joyce Cunha
Do Diário do Grande ABC
12/06/2022 | 08:30
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Uma paixão que transcende a vida. Em uma pequena garagem situada na Vila Dayse, em São Bernardo, Jorge Pereira Gomes, 56 anos, mantém guardado seu Ford Maverick 1977. Esse, porém, está longe de ser um exemplar comum dos clássicos do mundo automotivo. O carro, que em 2011 foi dado como presente por seu filho, Rodrigo Gomes, chama a atenção por onde passa e é hoje a memória da paixão que uniu duas gerações. 

"Em 2010, ele comprou um Maverick novo para ele e, para não me ver triste, comprou um para mim, para reformar”, contou Jorge. O amor pelo modelo cupê da Ford começou muito antes de Rodrigo nascer. Em 1983, Jorge, aos 17 anos, junto de sua namorada à época – agora sua mulher Sônia Maroa Gomes – comprou seu primeiro Maverick ano 1978. Os planos seguintes do casal exigiam a economia de dinheiro para oficializar a união. 

“Todo mundo fala: ‘você tem que começar com o Fusquinha’. Eu sou exagerado. E homem é aquela história. Comecei a gastar tudo no carro e falava que estava juntando”. Com o tempo, Jorge decidiu priorizar o relacionamento. Vendeu o carro, casou e comprou seu imóvel. Em 1988, veio o primeiro filho, Rodrigo, que aos quatro anos descobriu o amor por carros andando no segundo Maverick do pai. Por dificuldades financeiras, o auto também precisou ser vendido. “A gente foi fazendo dívidas. E já tinhamos os três filhos”, lembrou Jorge,

Quando adulto, Rodrigo tornou real o sonho de pai e filho ao comprar dois Mavericks, um para cada. Mas em 2018, a caminho de um evento de carros antigos em Santo André, a história começou a mudar. “O suicídio tem etapas. Por ironia do destino, um bêbado bateu na traseira do carro do Rodrigo. E naquela batida ele perdeu a vontade de viver. Era o primeiro carro, era o sonho dele”. 

Segundo Jorge, a partir daquele dia, sequência de eventos causou a morte do filho, em dezembro de 2019. “Eu queria minha vida de volta. Queria salvar meu filho e, infelizmente, não deu tempo”, desabafou.

DR. ESPERANÇA 

Desde que dado por Rodrigo como presente ao pai, o Maverick 1977 ganhou elementos que indicam a necessidade de recuperação. Os reparos na pintura foram substituídos por curativos. Além da troca regular de flúidos, o Ford ganhou suporte para soro, comprado em uma farmácia. Para complementar os cuidados, Jorge se tornou Dr. Esperança, personagem que conduz o Maverick 1977 a eventos e atividades. 

A dor de perder o filho se transformou em combustível para a busca do antigo sonho de restauração e para que Jorge, ou melhor, Dr. Esperança leve alegria por onde passa com seu Maverick. “Nos encontros eu vou desse jeito, com o carro tomando soro, monto um centro cirúrgico, coloco uns aparelhos para o carro ficar respirando, É uma atração. A turma se diverte”, finalizou. 

Huck, liga para mim? Pode ser a cobrar!

Além da paixão por Mavericks, Jorge Pereira Gomes e o filho, Rodrigo de Oliveira Gomes, tinham em comum o sonho de restaurar o Maverick 1977 da família. Desde que ganhou o clássico do filho, Jorge iniciou longa trajetória em busca de apoio para deixar o antigo Ford do jeitinho que gosta. 

“Uma parte das modificações eu já fiz e instalei equipamentos. Isso não precisaria tirar. Mas eu gostaria de fazer o teto solar, fazer ele funcionar. E trocar de quatro para oito cilíndros, que era o nosso sonho”, avaliou Jorge, que deseja mudanças para tornar seu carro uma versão mais esportiva do Maverick. 

A pintura também entra na lista de restauração, mas com exceção. O capô precisaria ser substituído para que o atual seja guardado como lembrança. Isso porque a peça está assinada pelo ex-automobilista Emerson Fittipaldi e pelo delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves, que, segundo Jorge, também entrou na corrente de apoio em busca de restauro para o Maverick 1977. 

O Lata Velha, quadro do antigo programa Caldeirão do Huck, era o espaço desejado por Jorge. Até antes de falecer, seu filho Rodrigo era seu amigo solidário, nome dado às pessoas que enviavam mensagem solicitando a inclusão de veículos na atração televisiva. Mesmo com as mudanças na programação, Jorge ainda tem esperança de que a história chegará até Luciano Huck. 

“De certa forma, esse sonho me manteve vivo depois da perda do meu filho. Eu tenho uma ocupação, tenho um personagem, uma motivação. Isso significa buscar aquilo que há tanto tempo aguardo. As pessoas me incentivam: ‘uma hora vai, uma hora vai’”, afirmou Jorge, que gravou o pedido de ajuda na lateral de seu Maverick. 




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