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Tirzepatide: fuzilamento da obesidade?
Antonio Carlos do Nascimento
09/05/2022 | 07:00
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Todos os estudos científicos abordando tratamentos para obesidade, que contemplem apenas dieta e exercícios, não obtêm sucesso que sobreviva ao crivo do tempo. Afora este olhar acadêmico, que as publicações médicas (e afins) sérias nunca esconderam, temos o nosso entorno, e a nós mesmos, confirmando que emagrecer está bem além da adoção da prática de exercícios e dieta saudável, ainda que estas condutas sejam imprescindíveis se a meta é não engordar e viver melhor.

Mas, embora bastante óbvias, não são médicos, ou correlatos, que capitaneiam a divulgação destas verdades, mas sim os laboratórios farmacêuticos, aqueles que prospectam ou já produzem medicamentos efetivos no tratamento da obesidade. A lógica do mercado financeiro justifica o empenho midiático destas empresas, mas não inocenta o restante dos envolvidos em seus silêncios e omissões.

Em mais uma frente farmacológica no embate contra a pandêmica obesidade está o tirzepatide, medicamento desenvolvido nos Estados Unidos pela Farmacêutica Eli Lilly. Este fármaco está na fase 3 de sua avaliação, penúltima etapa no caminho para obtenção da licença de sua comercialização pelo FDA (Food and Drug Administration), a agência responsável pela aprovação e fiscalização da comercialização de medicamentos e alimentos, entre outros produtos, nos Estados Unidos.

Orientados quanto à dieta e exercícios físicos, os participantes deste estudo foram separados aleatoriamente em quatro grupos e por 72 semanas aplicaram injeções subcutâneas semanalmente, sem que soubessem pertencer ao grupo placebo (sem o princípio ativo) ou do tirzepatide. Nestes, cada um dos três grupos recebeu uma dosagem específica.

Após o término deste período, os dados divulgados pelo laboratório apontam que o tirzepatide, em sua maior dose (15 mg, subcutâneo, uma vez por semana), promoveu cerca de 22,5 % de perda ponderal, percentual, até este momento, imaginável apenas para pacientes submetidos a cirurgias bariátricas.

O emagrecimento da ordem de 2,4 % para o grupo placebo, com participantes amplamente comprometidos nas orientações dietéticas e de atividades físicas, é mais um retrato escancarado do que sempre foi visto e curiosamente desdenhado.

Aceitando que resultados com este emagrecedor, assim como sua segurança farmacológica, sejam confirmados na próxima fase do estudo, faltará muito para que possamos comemorar, especialmente pelo alto custo, supostamente próximo a R$ 6.000 ao mês, no que devemos lembrar que seu uso deva ser contínuo.

Os preços são também fator impeditivo da utilização generosa da liraglutida (saxenda) e semaglutida (ozempic), medicamentos de imensas valias nos cuidados com diabetes e/ou obesidade, que estão nas prateleiras de nossas farmácias, mas compõem o universo de consumo de poucos brasileiros.

Enquanto aguardamos acesso a tantos avanços terapêuticos, é provável que o atual discurso recriminador ‘você não emagrece porque não tem força de vontade’ seja modificado por algo menos mentiroso, mas não menos ofensivo: ‘Você é obeso porque não tem dinheiro’. 




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