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Monopólio 'estrangula' empresa de Mauá
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
15/11/2003 | 21:09
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  Uma empresa de Mauá, a Brasóxidos, poderá ter neste mês sua produção 20% reduzida em função de uma dificuldade na alfândega para o desembaraço de matérias-primas importadas, que estão paradas no Porto de Santos. No entanto, para a direção da empresa, o problema não está na burocracia alfandegária, mas reflete a concentração do mercado brasileiro no segmento produtor de seu principal insumo, o zinco metálico, o que obrigou a companhia a depender quase integralmente da matéria-prima adquirida do exterior.

Fabricante de óxido de zinco, que entra na composição de fertilizantes, borracha, cerâmica e ração animal, a Brasóxidos entrou recentemente com uma ação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para tentar impugnar a compra da Paraibuna Metais pela Companhia Mineira de Metais (CMM), que pertence ao grupo Votorantim.

Com essa aquisição, feita em março de 2002, o grupo Votorantim passou a deter 100% do mercado brasileiro de zinco metálico. A CMM e a Paraibuna também produzem óxido de zinco e teriam juntas 85% de fatia das vendas nesse segmento.

No pedido de contestação no Cade, a Brasóxidos cita que “com a dita aquisição da Paraibuna pela Companhia Mineira de Metais houve um corte no fornecimento de produtos à Brasóxidos, só permanecendo o fornecimento de zinco metálico, porém com preços, frete e prêmio em patamares superiores. Com isso, pretende a CMM aumentar os custos da Brasóxidos, objetivando inviabilizar seus preços para venda e conseqüentemente sua eliminação do mercado de óxido de zinco.”

“Hoje temos 10% de mercado de óxido de zinco, mas como vou concorrer com o meu próprio fornecedor?”, questiona o proprietário da companhia instalada em Mauá, Pedro Nazari. Ele disse que, em função dos problemas para a compra do zinco metálico do grupo Votorantim, iniciou em dezembro de 2002 importações do insumo da Argentina e do Peru.

Mas acrescentou que enfrenta sérias dificuldades nas compras do exterior, porque os produtores argentinos e peruanos não aceitam compras spot (esporádicas), exigem o fechamento do câmbio antecipado, ou seja, pagar 60 dias antes de chegar a matéria-prima. Incluído o tempo para produzir e vender sua mercadoria, são mais de 90 dias. “É preciso ter um fluxo de caixa fortíssimo e pagar 100 toneladas por semana, minha produção do mês. Tenho também de fazer uma programação anual de compra”, disse.

Com isso, se eventualmente há um aquecimento de mercado, a empresa, que tem 50 funcionários, não tem como ampliar a compra do insumo para atender à demanda. Além disso, há a questão do desembaraço do produto importado. “Minha última compra está retida há mais de dez dias, porque acharam que o certificado de origem estava com divergência na assinatura”, acrescentou Nazari.

A ação está em andamento no Cade, que aguarda atualmente parecer da Secretária de Direito Econômico, do Ministério da Justiça, para se posicionar em relação à contestação da compra da Paraibuna pela CMM.

O grupo Votorantim informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que só iria comentar o caso após a conclusão do processo no órgão do governo.

Fechamento – O diretor adjunto do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Diadema, Walter Bottura, encerrou no início deste ano as operações de sua empresa de galvanização, a Riwagal, localizada no município. Ele afirmou que um dos fatores que pesaram para o fechamento da empresa, que existia há 28 anos e tinha 55 funcionários, foi o monopólio do zinco estabelecido no país após a aquisição da Paraibuna pela CMM.

Segundo Bottura, além disso, os mercados de telecomunicações e energia elétrica, em que se concentravam seus clientes, passaram por uma forte retração no ano passado. “Faltou material para galvanizar”, disse. Ele afirmou que o problema, somado ao monopólio da matéria-prima, tornou difícil a sobrevivência de sua empresa.

Segundo ele, uma única companhia controlando o mercado de zinco tornou difícil a negociação do insumo. “Prejudica porque não se tem opção de compra e são impostas regras rígidas de crédito, porque não se tem alternativa.” Importar era uma alternativa pouco viável, na sua avaliação, devido aos volumes exigidos para compras no exterior. A Riwagal trabalhava com 30 toneladas por mês e a importação exigia lotes bem maiores.




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