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Alexandre Borges: enfim, a profundidade
Renata Petrocelli
Da TV Press
12/06/2004 | 20:43
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  Depois de interpretar personagens que exploravam seu charme e sensualidade – como o bon vivant Danilo, de Laços de Família, ou o sanguessuga Rodrigo, de O Beijo do Vampiro –, Alexandre Borges curtiu mais que nunca o estilo família de Cristiano, seu personagem em Celebridade, novela das nove da Globo.

O ator de 38 anos até acha graça do ar libidinoso das fãs que sempre o abordavam nas ruas, mas confessa ficar mais lisonjeado quando o assunto das conversas com o público é a vida de seus personagens. “As pessoas vêm na torcida, querem entender o drama dele. É uma abordagem diferente das que tive em outros trabalhos”, conta.

Ele não arrisca dizer, no entanto, se o correto jornalista mudará definitivamente a imagem de bonitão conquistador que o público fez dele. “Não sei o que vou fazer depois, né?”, despista, com um sorriso tímido.

Pela primeira vez numa trama de Gilberto Braga, o ator acredita que Cristiano foi um papel que o fez ir bem além do que estava acostumado na TV. Principalmente pela trajetória de mudança do personagem, que se livrou do vício da bebida e conseguiu reconquistar o êxito profissional.

Mas também por explorar um tom bem diferente do restante da novela. “Tive de investir tudo na sensibilidade no meio de uma história com ritmo frenético, glamour, mídia, sucesso”, justifica, com fala pausada e gestos comedidos.

TV PRESS – Que balanço você faz de seu trabalho em Celebridade?
ALEXANDRE BORGES – Acho que não poderia ter sido melhor. A novela teve uma trajetória brilhante e o Cristiano é um personagem que me exige bastante como ator, me faz ir além do que estava acostumado. É bonito fazer um personagem com uma trajetória assim, com vários momentos de virada, vida nova, muitas coisas acontecendo. Isso sem contar a relação dele com o filho, que foi uma coisa à qual me apeguei muito, talvez em função de meu próprio momento como pai. Achei muito gratificante mostrar esta cumplicidade, este amor entre um pai e um filho. São tipos de emoção que eu ainda não tinha tido a chance de explorar na TV.

TV PRESS – Por que você diz que o Cristiano exige mais de você que seus outros personagens?
BORGES – Ele me fez mostrar este lado da pessoa derrotada, entregue a um vício, deprimida, atormentada. Isso tudo me exigiu uma atenção muito grande, porque tive de valorizar a sensibilidade no meio de uma história em que as coisas acontecem em ritmo frenético. Os outros personagens envolvidos com glamour, mídia, sucesso, ou com as armações para se dar bem passando por cima dos outros, e ele ali, com aquela história triste. Isso tinha de ser muito bem colocado, na medida certa. E eu vinha de trabalhos que mexeram muito com a comédia, com uns toques de sensualidade. O Cristiano é mais realista, humano, sofrido, sensível, tive de procurar elementos diferentes dentro de mim.

TV PRESS – Foi nisso que você mais se concentrou durante a composição dele?
BORGES – Minha maior preocupação era ser verdadeiro, tentar fazer um trabalho que não se estilizasse, que não ficasse na forma. Eu tinha de passar, logo de cara, a história de vida de um sujeito que não foi contada, mas que era enorme, de um passado com uma carga de intensidade incrível. Eu já tinha de começar a novela com este peso. Ao mesmo tempo, minha preocupação era que isso não ficasse exagerado, que fosse uma coisa pequena, verdadeira, sincera.

TV PRESS – Em algum momento você teve medo de que o personagem, por ter este tom diferente, se transformasse no chato da história?
BORGES – Nunca tive esta preocupação. Nem vejo o Cristiano como aquele personagem bonzinho ao extremo, que não consegue conquistar a simpatia do público. Mais que correto, ele é um cara que teve muitos problemas, teve de se superar, e tem as ambições dele, mas nunca passou por cima de ninguém, não puxa o tapete de ninguém. É um cara que eu admiro como pessoa. E, pela repercussão que vejo nas ruas, o público também curte muito. As pessoas me param na rua para falar dele, vejo a torcida, a emoção pelo relacionamento com a Noêmia, a relação com o filho.

TV PRESS – Você gosta de contracenar com crianças?
BORGES – É sempre muito legal, principalmente se são crianças de talento. Acho que a Globo tem um faro muito bom para o elenco. Vim de O Beijo do Vampiro, no qual o Kayky fez um trabalho fantástico. Agora, na novela das sete (Da Cor do Pecado), também os meninos fazem um trabalho lindo. E a garotada tem muita energia, uma vontade grande. É uma profissão bonita, que abre a cabeça das pessoas, que traz magia.

TV PRESS – Como você encara a mudança do papel social do ator nesta era das celebridades retratada pela novela?
BORGES – Minha função é emocionar as pessoas, divertir, entreter, criar uma bagagem cultural, intelectual e de vida que me permita me aprofundar nos meus personagens. E pronto. Às vezes, alguns atores são mais mistificados, outros vivem levando porrada da imprensa. A própria imprensa às vezes elege as pessoas, depois destrói, noutras vezes é parceira, colabora, divulga nosso trabalho. Eu venho de grupo de teatro, convivendo com pessoas que viajam, que gostam de festivais, gostam de estar no palco, de filmar, de se relacionar com as pessoas na rua, de ouvir a opinião delas. E a imprensa faz parte deste movimento. É claro que uma coisa é a sua relação com o público, e outra coisa é a imprensa mediando a sua relação com o público. Às vezes, esta ponte, dependendo do que enfatiza, da forma como é colocada, acaba passando uma idéia errada. Mas, para mim, o princípio de tudo é a paixão de fazer. Poderia ser que nada disso tivesse acontecido comigo, que eu não tivesse essa popularidade que cerca os atores de TV. Pode ser que daqui a pouco acabe também. Não sei como vai ser o futuro. Mas sei que vou continuar fazendo meu trabalho, da mesma forma como comecei no teatro.




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