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Polícia pode pedir indiciamento de juízes
Do Diário do Grande ABC
17/10/1999 | 20:54
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As Polícias Civil e Federal poderao pedir ao presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Augusto Falcao Lopes, o indiciamento dos juízes Orlando Pinheiro, da 1ª Vara do Júri, de Teresina, Francisco das Chagas Moreira e Silva, da 5ª Vara Cível, e Osório Marques Bastos, do Tribunal do Júri, suspeitos de ligaçao com o coronel da reserva José Viriato Correia Lima, apontado como o chefe do crime organizado no Piauí.

O coronel também é acusado de liderar a quadrilha composta por militares, ex-policiais militares e civis, responsável por assassinatos, extorsao, formaçao de quadrilha, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.

Na sexta-feira, a Justiça decretou a prisao preventiva de Lima e seus cúmplices. Eles estavam com prisao temporária decretada. O secretário da Segurança, Carlos Lobo, disse que o presidente do tribunal está empenhado na prisao de todos os envolvidos no crime organizado.

O promotor de Justiça, Afonso Gil Castelo Branco, informou neste domingo que estuda a possibilidade de pedir a prisao preventiva do ex-comandante da Polícia Militar do Piauí, coronel Valdívio Falcao, por acusaçoes contidas em fitas. Nas conversas gravadas pela PF, disse o promotor, ficou caracterizada a ligaçao entre o comandante e Lima, com favores e concessao de veículos roubados. "Havia uma promiscuidade na Polícia Militar para beneficiar Lima", afirmou o promotor.

Esquema - O juiz Pinheiro é acusado de fazer parte do esquema de Lima. Ele é citado inúmeras vezes nas gravaçoes em poder da PF e foi quem absolveu policiais de confiança de Lima acusados do assassinato de um delegado da Polícia Civil, com um tiro nas costas, que apurava a morte de um investigador, ex-namorado da filha do coronel. O juiz absolveu os acusados alegando legítima defesa. "Legítima defesa matando pelas costas? Impossível", afirmou Lobo.

O juiz Moreira e Silva foi quem deu a sentença para o pagamento de um seguro de vida que Lima fizera para Zé Kelé, um de seus seguranças. O seguro, de R$ 600 mil, tinha como beneficiários a mulher de Lima (em 50%), a filha dele (em 20%) e a mulher e a mae de Zé Kelé (em 30%).

Dias depois de o coronel fazer o seguro, Zé Kelé foi morto a tiros perto da casa de um irmao de Lima, que recebeu o dinheiro e nao deu um centavo para a mulher e a mae da vítima, afirmou o delegado Robert Rios Magalhaes, superintendente da Polícia Federal do Piauí e responsável pelos grampos que revelaram toda a açao do crime organizado no Estado. Foram 700 horas de gravaçoes.

O juiz Moreira e Silva teve sua voz gravada em diversas fitas em poder dos federais. Numa das conversas, Lima diz ao juiz que insistia em cobrá-lo: "Olha doutor, desta vez nao será como das outras vezes: o senhor vai receber a sua parte."

Já o juiz Marques Bastos é acusado de, a pedido de Correia Lima, ter libertado José Hugo Filho, que fora acusado de matar um dos irmaos do deputado cassado Hildebrando Pascoal. Hugo foi preso na cidade de Avelino Lopes, no Piauí. Os PMs ligados ao coronel Lima o pegaram na saída do Fórum e o entregaram para jagunços de Hildebrando. Hugo teve os braços, as pernas e o restante do corpo serrados e, ainda em terras do Piauí, os assassinos jogaram ácido e queimaram a maior parte do corpo.

O coronel reformado está com a prisao decretada pela Justiça e recolhido, desde a semana passada, numa das celas do quartel da Polícia Militar de Teresina. Ele nega as acusaçoes e afirma que as gravaçoes, em poder da polícia, nao sao provas para mantê-lo na cadeia. "Meus advogados estao cuidando para que eu saia rapidamente da prisao", anunciou Lima, por meio de um oficial amigo.




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