Economia Titulo Desigualdade
De 8,1 mi que ficaram sem renda de trabalho, 66% eram pretos e pardos

Pesquisa divulgada pelo IBGE revela o impacto da Covid-19 sobre essa população, que continua a receber salários médios mais baixos

20/11/2021 | 09:17
Compartilhar notícia
Divulgação/Marcelo Camargo_Agência Brasil


Ao atingir em cheio o mercado de trabalho, a Covid afetou sobretudo as pessoas de pele preta e parda. Sob o choque da pandemia, 8,064 milhões de brasileiros deixaram de ter renda proveniente do mercado do trabalho em 2020, indicando que, na média do ano e já considerando as recolocações em meio à recuperação da economia no segundo semestre, esse contingente perdeu o emprego, incluindo formais e informais. Nesse grupo, 66% dos trabalhadores declaram ter a pele de cor preta ou parda.

Os dados são da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios) Contínua 2020 – Rendimento de todas as fontes, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No total do mercado de trabalho, a queda de brasileiros que têm algum rendimento do trabalho foi de 8,7% na passagem de 2019 para 2020. Considerando apenas os trabalhadores de pele preta, o contingente com rendimento de algum trabalho tombou 16,8%, o dobro do total. Entre os trabalhadores de pele parda, a queda no número de pessoas com renda de algum trabalho foi de 9% em 2020 ante 2019.

Além disso, entre os trabalhadores que continuaram ocupados, em trabalhos formais ou informais, a discrepância de rendimentos entre brancos e pretos se manteve. O rendimento médio mensal de todos os trabalhos foi de R$ 2.447 em 2020, no agregado nacional.

Só que os trabalhadores de pele preta receberam em média R$ 1.781 por mês, enquanto os trabalhadores de pele branca receberam em média R$ 3.166 por mês. É quase o dobro (1,8 vez a mais) da média dos pretos. Já os trabalhadores que declararam ter a pele parda receberam em média R$ 1.815 por mês.

Desde o início da série histórica da Pnad Contínua, em 2012, essa discrepância a mais no rendimento do trabalho das pessoas de pele branca se mantém no mesmo nível, praticamente inalterada entre 1,7 e 1,8 vez acima da renda das pessoas de pele preta e parda. 

NO GERAL

O número de pessoas com rendimento de trabalho caiu de 92,8 milhões em 2019 para 84,7 milhões em 2020, de 44,3% para 40,1% do total de habitantes. O número de pessoas recebendo outros rendimentos saltou de 16,4 milhões em 2019 para 30,2 milhões em 2020, de 7,8% para 14,3% da população.

Com a pandemia, o peso do rendimento do trabalho na composição do sustento das famílias atingiu a mínima histórica em 2020. Quando considerados todos os moradores do domicílio, inclusive os que não possuem renda, o rendimento médio mensal real <CF51>per capita</CF> encolheu 4,3%, dos R$ 1.410 estimados em 2019 para R$ 1.349 em 2020.

Auxílio emergencial evitou piora da desigualdade

A pandemia varreu os trabalhadores de baixa renda do mercado de trabalho, mas o auxílio emergencial evitou uma piora da desigualdade no País em 2020, ao elevar o rendimento médio dos brasileiros mais vulneráveis. Ainda assim, a metade mais pobre da população brasileira sobrevivia com apenas R$ 453 mensais no ano de 2020. 

São cerca de 105,5 milhões subsistindo com apenas R$ 15,10 por dia por pessoa. Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios) Contínua 2020 – Rendimento de Todas as Fontes, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O auxílio emergencial permitiu, pelo menos temporariamente, que a renda média <CF51>per capita</CF> recebida pela metade mais pobre da população brasileira crescesse 3,9% em relação a 2019, quando era de R$ 436. Na passagem de 2019 para 2020, houve aumento no rendimento domiciliar per capita médio principalmente nas faixas de renda mais baixas. Entre os que se situam entre os 5% até 10% mais pobres, a alta foi de 17,6%. A maior perda ocorreu entre o 1% mais rico: 9,4%.

Todo mundo teve perda alguns mais, outros menos, mas você teve uma política social que segurou (os mais vulneráveis)”, disse Alessandra Scalioni Brito, analista do IBGE.

Como consequência, o índice de Gini – indicador que mede a desigualdade de renda, numa escala de 0 a 1, em que, quanto mais perto de 1 o resultado, maior é a concentração de renda – do rendimento médio domiciliar <CF51>per capita</CF> passou de 0,544 em 2019 para 0,524 em 2020.

“Houve redução da desigualdade porque todo mundo perdeu, não é porque alguns estão ganhando. É uma notícia que parece boa, mas não é tão boa”, comentou Alessandra.<




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;