A Polícia Militar do Pará poderá ser afastada da segurança do julgamento de seus 150 homens acusados de matar 19 trabalhadores rurais sem terra em Eldorado dos Carajás, no Pará, há quatro anos. Ela seria substituída pelo Exército e Polícia Federal. A idéia é de três desembargadoras do Tribunal de Justiça, Albanira Bemerguy , Climenie Pontes e Maria Helena Ferreira, que já pediram essa providência ao presidente do TJ, José Alberto Soares Maia.

Elas entendem que há um clima de animosidade recíproca entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra e a PM, alimentado desde a morte de 19 sem terra em Eldorado dos Carajás, em abril de 96 e, mais recentemente, agravado pela invasao e apedrejamento do prédio da Secretaria de Defesa Social, em Belém.

A requisiçao de tropa federal seria para garantir a segurança do prédio do TJ, onde as 27 sessoes do julgamento serao realizadas, a integridade física do juiz e do corpo de jurados, segundo as desembargadoras.

A direçao do MST no Pará concorda com a opiniao das desembargadoras. "Os oficiais da PM nao têm preparo psicológico para comandar a tropa e sao sempre os primeiros a comandar a repressao aos trabalhadores", afirma o coordenador regional do movimento, Raimundo Nonato Coelho de Souza. Ele recorda que depois de os jurados terem absolvido os comandantes da PM, durante primeira sessao de julgamento, já anulada pelo TJ, os policiais xingaram os sem-terra, dizendo que iriam "fuzilar mais gente, que nada iria pegar".

Além da PM, Nonato quer fora do julgamento o juiz José Maria Teixeira do Rosário, a quem acusa de agir com "parcialidade" em sentenças anteriores proferidas contra o MST. O advogado do MST, Walmir Brelaz, é enfático: "se esse juiz permanecer, nao iremos ao julgamento".

O comando da PM foi procurado, mas nenhum oficial quis comentar as declaraçoes das desembargadores e dos integrantes do MST. Um oficial disse que o comandante-geral, coronel José Faustino Neto, deverá manifestar-se somente na próxima semana. O juiz José Teixeira do Rosário nao foi localizado. Ele tem evitado comentar com jornalistas sua indicaçao para presidir o júri.