Burundanga – sinônimo de embrulhada ou trapalhada – volta nesta terça-feira ao cartaz, no Centro Cultural São Paulo, pelas mãos da Cia. Delas, formada por sete atrizes. Nelson Baskerville assina a direção. A situação do país pouco – ou nada – mudou. “Permanece a cultura do mandonismo”, diz Abreu. “Muda-se o discurso, mas não a prática”, afirma Baskerville.
Sob a ótica popular, o autor mexe com questões políticas. “Enquanto alguns falam sobre ideologias, coisas abstratas, do ponto de vista da cultura popular as pessoas querem saber o que está na mesa. A transformação (social) só tem sentido se se reverter nas coisas mais básicas”, diz. Embutidas na discussão geral há as particulares, como o coronelismo, o militarismo e a questão fundiária.
Antes de chegar a uma cidadezinha do interior, os retirantes João Teité (Paula Weinfeld) e Matias Cão (Thaís Medeiros) assaltam dois militares – levam-lhes até as roupas. No lugarejo, a Prefeita (Fernanda Castello), o Deputado Tabarone (Talita Ortiz) e Boracéia (Lilian Damasceno), nora do Coronel Marruá (Cecilia Magalhães), discutem o que fazer com este, em coma há duas décadas.
Irmã de João Teité, Mateusa (Paula Malfatti, atriz convidada) trabalha na casa do Coronel. Quando chegam, Teité e Matias Cão são confundidos com militares. A burundanga maior começa quando o Coronel ouve alguém falar em revolução e se levanta.
Os personagens criados por Abreu são inspirados na commedia dell‘arte. O Coronel, “um velho cínico”, se identifica com Pantalão; o Deputado, com Doutor; João Teité, com Arlequim; Matias Cão, com Briguela; Mateusa, “contraface de Teité”, com Colombina. “São personagens que não existem somente na commedia dell‘arte, mas em todas as culturas”, afirma.
A cenografia, do arquiteto Isay Weinfeld, acompanha a idéia presente no título da comédia. “Há 570 objetos, que lembram um camelódromo. Mas a grande estrela da peça é o texto, que tem uma voracidade oral provocativa e engraçada”, diz Baskerville. “A gente vive numa confusão que não tem a ver com o caráter brasileiro, mas com a situação. As nossas elites (econômica, intelectual, política) são mestres em armar confusões”, afirma Abreu.
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