Pesquisadores do Cepe (Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício), vinculado ao Instituto do Sono da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), vão usar a terceira edição do Ecomotion/Pro, maior corrida de aventura da América Latina, como laboratório para investigar os efeitos do sono no esporte. Os cientistas buscam descobrir até que ponto o exercício físico pode amenizar os malefícios causados pela privação do sono.

Os atletas de cinco equipes participantes da prova, que acontece de 29 de setembro e 9 de outubro nas Serras Gaúchas, servirão de 'cobaias'. Eles vão passar por uma bateria de testes antes e depois do evento, além de serem monitorados durante os 444 km de desafios naturais da edição deste ano, durante os quais ficam até sete dias e seis noites sem dormir de forma adequada.

"Para se ter uma idéia, levamos aproximadamente 500 quilos de equipamento para o local e reservamos uma ala do hotel onde ficaremos hospedados só para isso", afirmou pesquisadora e doutoranda em psicobiologia Hanna Karen Antunes. Ela começou a desenvolver o estudo em 2003, supervisionada pelo professor da Unifesp Marco Túlio de Mello.

A primeira etapa foi realizada durante o Ecomotion/Pro de 2003, na Chapada Diamantina, quando atletas de três equipes participaram do estudo. Em 2004, na Costa do Dendê, membros de cinco times passaram pelos testes. Este ano, as equipes Lontra, Atenah, Lobo Guará, Eco 2 e Competition serão as 'cobaias'.

Temperatura - A novidade deste ano será o estudo da relação entre sono e a temperatura. A disputa nas Serras Gaúchas será bem diferente das edições anteriores do Ecomotion/Pro. O Rio Grande do Sul apresenta clima bem mais fresco do que o da Bahia, onde foram realizadas as provas de 2003 e 2004. "Além de tentar responder algumas questões que ficaram em aberto nos anos anteriores, vamos aproveitar para checar como a temperatura age sobre a fisiologia do sono", diz Hanna Karen. 

Serão quatro análises das condições dos participantes. A primeira - chamada basal - já está sendo feita. Consiste em uma bateria de exames com os atletas nas semanas anteriores ao Ecomotion/Pro. Já nas Serras Gaúchas, antes da largada, haverá outra série de testes. Durante o percurso, será feito um acompanhamento nutricional. "E, após a prova, 'raptamos' os atletas e desenvolvemos exames de sangue e urina, além de avaliações clínicas e corporais. Depois, eles fazem uma refeição e vão dormir. Ao acordarem, são submetidos a uma nova bateria de exames", sintetiza Hanna Karen.

Conclusões - O trabalho feito nas duas edições anteriores do Ecomotion/Pro já possibilitou algumas conclusões aos pesquisadores. Uma delas é a confirmação da função reparadora do sono. "Em quatro horas de sono eles recuperam aproximadamente 60% do que perderam nas provas", afirma Hanna Karen. Mas, segundo ela, a conclusão mais interessante é que o exercício físico protege o indivíduo dos efeitos da privação do sono. "Claro que a parte motivacional e a intenção de terminar a prova são importantes, porém o simples fato de fazer exercício ajuda os atletas a suportarem ficar tanto tempo sem dormir. Se eles ficassem em casa vendo TV, por exemplo, agüentariam, no máximo, três dias", conclui Hanna Karen.