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Estratégia dos EUA sem efeitos decisivos
Da AFP
11/12/2010 | 13:32
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A estratégia americana, marcada por reforços importantes em 2010 e pelo anúncio de uma retirada progressiva a partir de 2011 no Afeganistão, sem contar com uma chuva de mísseis lançados contra a Al-Qaeda no Paquistão, não produziu efeitos decisivos na "guerra contra o terrorismo".

Com cerca de 700 mortos, 2010 foi, de longe, o mais mortal dos nove anos de guerra no Afeganistão para os 140 mil soldados da força da Otan, dois terços deles americanos, que lutam contra os talibãs, cuja tática de guerrilha permitiu que ganhassem espaço inclusive no norte.

A meta dos Estados Unidos de retirar as tropas de combate a partir de 2011 e de confiar às forças afegãs a segurança do país antes do final de 2014 é, na opinião de especialistas, excessivamente otimista, senão utópica.

Uma imagem ficará gravada neste final do ano de 2010: a visita relâmpago do presidente Barack Obama durante a noite e mantida em segredo por "razões de segurança".

O chefe de Estado disse aos soldados que eles estão "quebrando o ímpeto dos talibãs", mas não saiu da base americana nem viajou para Cabul para se reunir com o presidente afegão, Hamid Karzai. Segundo a Casa Branca, não realizou a viagem devido ao mau tempo.

Essa visita furtiva provocou zombaria dos talibãs, que evocaram uma "fuga do Afeganistão" em plena noite, e ilustra o contraste entre as declarações, muitas vezes bombásticas, de Washington, e a prudência dos chefes militares que executam operações de campo.

No início de dezembro, o comandante das forças internacionais, o general americano David Petraeus, estimou que o prazo de 2014 é uma "perspectiva razoável", mas acrescentou que não há "nada certo".

Por enquanto, as zonas tribais do Paquistão, que fazem fronteira com o Afeganistão, continuam sendo o quartel-general da Al-Qaeda no mundo e a base de retaguarda dos talibãs afegãos.

Os incontáveis mísseis lançados por aviões teleguiados da CIA mataram alguns líderes dos rebeldes islâmicos, rapidamente substituídos, mas não conseguiram neutralizar a fonte dos suicidas capazes de atacar países ocidentais, como demonstraram a tentativa fracassada de Time Square, em Nova York no dia 1 de maio, preparada no Paquistão, de acordo com os
investigadores, e os atentados frustrados na Europa identificados pelos serviços de inteligência.

No âmbito político, a falta de legitimidade do presidente afegão e da impopularidade do chefe de Estado paquistanês, somados à corrupção de seus governos, continuam semeando dúvidas no Ocidente.

No Afeganistão, as tensões aumentaram ainda mais entre Karzai, reeleito em 2009 graças a enormes fraudes, e a comunidade internacional, a começar pelos Estados Unidos.

Os comentários de diplomatas americanos revelados pelo site WikiLeaks sobre sua "paranoia", sua "fraqueza" e a corrupção de seus associados traduzem essa desconfiança mútua.

Estas tensões afetam negativamente os afegãos, pouco mobilizados nas eleições legislativas de setembro (apenas 40% de participação), nas quais também ocorreram grandes fraudes.

No Paquistão, o nível de popularidade do presidente Asif Ali Zardari não para de cair, como resultado da corrupção generalizada e de sua passividade diante dos enormes problemas econômicos e das inundações catastróficas do país.

O Paquistão também continua sangrando devido aos inúmeros atentados, atribuídos principalmente aos talibãs e que causaram quase mil mortes em 2010.

E isso estimula o sentimento antiamericano dos paquistaneses, que acreditam que pagam um preço muito alto para o que consideram um "conflito importado" pelos Estados Unidos do Afeganistão.

Mas autoridades americanas denunciam um "jogo duplo" do Exército paquistanês, acusado de proteger líderes talibãs afegãos em seu território, a fim de manter um bom nível de relações com o governo vizinho em caso de volta ao poder dos insurgentes após 2014.

 




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