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Livro relata história de exclusão
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
21/03/2001 | 19:43
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Um grito por mudança. Assim é o livro Esmeralda – Por Que Não Dancei (Senac, R$ 15), que traz o relato de Esmeralda do Carmo Ortiz, uma mulher que sofreu as conseqüências da exclusão social e da precoce opção pela rua. O lançamento acontece nesta quinta, às 20h, na Casa da Palavra (praça do Carmo, 171. Tel.: 4992-7218), em Santo André, com um bate-papo com a autora e com o jornalista Gilberto Dimenstein, coordenador do projeto.

Aos 21 anos, ela publica uma obra com detalhes que marcaram sua vida, como drogas, roubos, passagens pela Febem e a fantasia de ter uma nova mãe. “Foi difícil, porque falar da gente dói, mas ao mesmo tempo foi um alívio, tirei um peso das costas”, conta Esmeralda, a respeito do livro.

Em 208 páginas, ela conta tudo, desde os primeiros problemas com sua mãe por causa do álcool, suas experiências com as drogas e as carceragens, até sua recuperação. Não se trata de pura descrição de fatos, mas sim do traço de um perfil com o lado humano e os sentimentos bastante explícitos. Dimenstein assina o prefácio, no qual afirma: “É, de longe, a reportagem mais emocionante e profunda que já acompanhei”.

Os relatos aproximam o leitor da realidade dos meninos e meninas de rua. É possível conhecer os sonhos desses que não passam de crianças e que, quase sempre vítimas de situações, tornam-se infratores. Diz um dos trechos: “Eles estavam fumando e me ofereceram. Na minha cabeça ficava um negócio dizendo ‘fuma’ e outro dizendo ‘não’ (...) Eu estava com medo. Mas fui. E fumei. Era maconha (...) Não sentia mais medo, mais nada.”

As passagens pela Febem, na voz de Esmeralda, viram testemunhos de discriminação e de como um sistema falho de reintegração faz jovens se tornarem criminosos. A primeira vez foi aos 10 anos: “A assistente disse que eu estava presa como carente, não como infratora. Mas lá era tudo misturado, carente e infrator”, diz, no livro.

Em entrevista ao Diário, Esmeralda confirmou que o adolescente “sai pior” da Febem por causa das surras e frases como “você não presta”, vinda dos funcionários. E quem leva a fama, para ela, são os menores. “É mais fácil mostrar a conseqüência do que a causa”, opina.

A autora pretende, com seu livro, atingir a acomodação das pessoas. “Não se pode aceitar a exclusão sem fazer nada. Espero ajudar na conscientização da sociedade, sem ficção, mostrando um mundo cruel”, afirma.




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