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Brasil fica em 45º no ranking da corrupçao
Do Diário do Grande ABC
26/10/1999 | 16:49
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O Brasil ficou em 45º lugar no ranking da corrupçao, ao lado do Malawi, Zimbabue e Marrocos, segundo relatório divulgado hoje pela Transparency International. Houve uma melhora mínima em relaçao ao ranking do ano passado (46º), mas a nota de classificaçao nao permite "passar no exame", explicou Fernando Antunes, membro do comitê da Transparência Brasil, filiado à organizaçao sediada na Alemanha. "Ficamos para a segunda-época."

O Indice de Percepçao de Corrupçao (IPC), medido desde 1995, levantou informaçoes sobre propinas pedidas aos agentes internacionais por funcionários públicos de altos escaloes em 99 países. Os dados foram fornecidos pelos próprios governos e pelos organismos de financiamento externo, e compilados por organizaçoes como o World Economic Forum, Banco Mundial, Economist Intelligence Unit, Gallup International, Freedom House, Wall Street Journal, entre outros.

No alto do ranking deste ano, como "países menos corruptos", estao os ricos Dinamarca, Finlândia, Nova Zelândia e Suécia, mas em 7º lugar está Singapura. No último lugar ficou a República de Camaroes. Entre os latinoamericanos, o melhor colocado é o Chile em 19º, seguido de Costa Rica, em 32º. A Argentina ficou em 71º lugar. "O que é muito ruim, porque a Argentina é um país com renda per capita alta", observou Eduardo Capobianco, do Sinduscon-SP, também membro do comitê Transparência Brasil.

Corruptores - A International Transparency divulgou seu índice simultaneamente em vários dos 77 países onde tem representaçoes. E apresentou um novo índice, que apura a oferta de propinas. Coordenado pelo Gallup International, o Indice de Percepçao de Pagamento de Propinas (IPPP) indica os países-sede de corporaçoes mais apontadas como corruptoras. Foram ouvidos 700 executivos das principais transnacionais, técnicos e advogados, câmaras de comércio e bancos em 14 países emergentes, inclusive o Brasil.

China e Hong Kong, Coréia do Sul e Taiwan ficaram em último lugar entre os países pesquisados, indicando que suas companhias sao as que mais manifestam intençao de corromper funcionários de altos escaloes para que seus produtos sejam preferidos em processos de licitaçao. Suécia, Austrália e Canadá sao, no ranking, os que têm menos empresas propensas a oferecer propinas. Japao e Itália chamam atençao por estarem bem próximos dos últimos colocados, em 14º e 16º.

A metodologia da pesquisa é semelhante à usada naquelas que detectam percepçoes e tendências, seja as de preferências de consumo ou de grau de liberdade. Os nomes das empresas citadas como corruptoras nao sao revelados. "O objetivo nao é apontar alvos, mas atacar as causas da corrupçao", explicou Neissan Monadjem, do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE), também articulador da Transparência Brasil.

Investimentos - Com os dois índices, a Transparência Internacional tenta promover uma coalisao mundial contra a corrupçao, para garantir que os investimentos públicos e privados resultem em desenvolvimento. "Nao é moralismo. O combate à corrupçao é uma questao de racionalidade", disse Oded Grajew, do Instituto Ethos - Empresas e Responsabilidade Social, outro integrante do grupo brasileiro.

O Banco Mundial, exemplificou, admite que boa parte dos seus financiamentos nao têm efeito, porque os recursos nao chegam ao seu destino. E as próprias companhias já levam em conta os custos da corrupçao em cada país para determinar em qual deles fazer seus investimentos produtivos. "Recentemente recebemos, em sigilo, o presidente mundial de uma multinacional que queria avaliar conosco a situaçao brasileira do ponto de vista da corrupçao", relatou Grajew. "A questao ética foi, portanto, fundamental para que a companhia decidisse investir no país."

Na ponta dos corruptores também começa a pesar a pressao internacional. A prática comum na Europa, de permitir que as empresas lancem como "despesas" os gastos com propinas (um abatimento indireto no imposto de renda), foi bombardeada pela Transparency International e acabou proibida em fevereiro passado. Segundo a TI, a concorrência corrupta fez com que, em 1997, os Estados Unidos perdessem aproximadamente US$ 170 bilhoes em negócios, fechados por empresas de outros países com a ajuda de propina. Por esta razao, o organismo luta para que os países ratifiquem a nova Convençao Anti-Corrupçao da Organizaçao para a Cooperaçao e Desenvolvimento da Europa (OCDE).




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