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Na região, pessoas adiam dose para tentar escolher fabricante da vacina

Recusa tem se tornado constante nos postos de saúde da região; especialistas dizem que atitude, além de egoísta, e incompreensível

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
25/06/2021 | 00:01
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Divulgação


A aprovação de quatro vacinas diferentes contra a Covid pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) – Coronavac, Astrazeneca, Pfizer e Janssen – fez surgirem nas filas dos postos de saúde do Grande ABC pessoas que querem escolher determinado imunizante para se proteger do coronavírus, o que é proibido. Segundo enfermeiros ouvidos pelo Diário, a recusa é constante e as alegações, as mais variadas possíveis, desde posicionamentos políticos, confiabilidade, até alegação de problemas de saúde sem comprovação. Especialistas destacam que essa atitude atrapalha no andamento da campanha, sobretudo porque atrasa o controle da pandemia.

A equipe de reportagem do Diário acompanhou período de imunizações do Teatro Clara Nunes, no Centro de Diadema, que está vacinando pessoas que seriam atendidas pelas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) Centro e Real. No município não há necessidade de agendamento e a dose está disponível por livre demanda a quem tenha idade correspondente com o momento da campanha.

Na manhã de ontem, cerca de 30 pessoas estavam em fila para o início da imunização, que contemplava indivíduos acima dos 42 anos. Quando a enfermeira anunciou que o imunizante disponível era a chinesa Coronavac, mais da metade das pessoas foi embora. Já no período da tarde, o espaço começou a aplicar a Astrazeneca, que, segundo as profissionais, é a campeã de recusa por conta das reações adversas.

O motoboy Ednaldo Reis Santana, 40 anos, é uma das pessoas que afirmam que não tomarão a dose inglesa. O morador do Centro descobriu, no local, que só poderá ser vacinado amanhã, e afirmou que “se for Astrazeneca” não irá. “Tenho medo da reação. Sei de pessoas que tomaram essa vacina e ficaram muito mal, e outras que tiveram até de ficar internadas. Tomo qualquer uma, menos essa”, afirmou o motoboy.

Já o autônomo Edvaldo Geraldo Galhardo, 54, fez questão de receber a Astrazeneca, revelando que “por diversas vezes” voltou para casa porque a dose disponível era a Coronavac. “Eu gostaria mesmo era de tomar a vacina da Janssen ou da Pfizer. Mas não sendo estas, tomo a Astrazeneca. A Coronavac não”, reafirmou o morador do Centro, explicando que não confia na procedência da vacina. “Essa é uma escolha minha, não quer dizer que é a verdade. Respeito a opinião de cada um”, finalizou.

A coordenadora do programa de imunização de Diadema, Ferla Maria Simas Bastos Cirino, disse que a recusa é grande e lamentou que as pessoas acreditem mais em fake news do que na ciência. “Ontem (quarta-feira) imunizamos mais de 5.000 pessoas com dose da Pfizer. Hoje (ontem), que temos Coronavac e Astrazeneca, as pessoas simplesmente vão embora”, disse Ferla, explicando que essa reação reflete diretamente no andamento da campanha. “A pessoa prefere se manter desprotegida, sem data prevista para que o imunizante que quer esteja disponível, e volta sem proteção para sua vida”, disse a coordenadora. “Quando se fala em vacina é pensando no coletivo. Quanto mais pessoas estão vacinadas, mais conseguimos estar próximos de conter a pandemia. Mas essas pessoas estão pensando individualmente e não no coletivo”, completou.

Ferla contou que há pessoas que, quando estão entrando para aplicação e olham a carteira já preenchida, pedem para rasgar e vão embora porque a dose era diferente do que esperavam. “É muito triste, e tem custo para a gente e para a vida dessas pessoas. Pior que isso, é que a perda de uma vida tem custo imensurável e, se for porque a pessoa não quis a vacina disponível, é ainda mais triste”, disse, pontuando que o município está diminuindo as idades justamente pela sobra. “Claro que teve planejamento da Prefeitura para avançar na campanha. Mas é inegável que parte dessa rapidez é porque as pessoas, sobretudo com comorbidades, não estão comparecendo nas UBSs”, lamentou Ferla.

Diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri explicou que todos os imunizantes aprovados pela Anvisa são eficientes. “Todas as vacinas são diferentes, como era esperado, mas todas têm alta eficácia contra a forma grave da doença. Todas são extremamente eficazes com o esquema completo e o risco de falha é muito baixo, além de serem muito seguras”, enumerou o especialista. “Aqueles que estão querendo escolher a vacina estão fazendo a sua pior escolha, que é não se vacinar. Adiar a vacinação num cenário de alta circulação do vírus significa se colocar em risco e colocar em risco a família. É um grande equívoco escolher a dose”, frisou.

Kfouri reforçou que o “mais importante é vacinar o quanto antes o maior número de pessoas”, pontuando que aqueles que escolhem atrapalham o andamento da campanha. “A cada mês que se atrasa a vacinação acumula-se mais mortes”, finalizou o diretor da SBIm. 




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