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Daniela Mercury atinge a plenitude
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
11/04/2003 | 19:16
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Os movimentos contagiantes de Daniela Mercury no palco refletem bem o que a cantora baiana faz com sua carreira artística. Ela viaja despreocupada do axé music ao eletrônico, passa pela MPB, flerta com o rock e o pop. Agora, a também bailarina resolveu juntar tudo e mais um pouco no CD Eletrodoméstico (BMG, R$ 25 em média), gravado nos dias 24 e 25 de janeiro em Salvador pelo projeto MTV ao Vivo.

O fato de ser ao vivo já dá muitos pontos à cantora, que é um verdadeiro furacão no palco. A coragem que não lhe falta para enfrentar um público de milhares de pessoas também sobra quando ela grava novos compositores, incorpora tendências e, principalmente, faz do CD ao vivo uma novidade – em vez de se limitar a rearranjos de antigos sucessos.

Eletrodoméstico é tão eclético quanto sua biografia artística. Daniela gravou de Marcelo Yuka e Falcão (ex e atual O Rappa, respectivamente) a Chico César, de Robson Pacífico aos tribalistas Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, de Caetano Veloso a Lenine, de Jorge Ben Jor a Lenny Kravitz, de Herbert Vianna a Nelson Motta. Este último dirigiu seu show na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, que rendeu o álbum e seu primeiro DVD.

As participações especiais também são bem menos previsíveis do que espera-se de artistas populares. Fazem duo com Daniela o rapper italiano Lorenzo Jovanotti, a cantora portuguesa Dulce Pontes e a cantora espanhola Rosario Flores, que interpretou uma toureira em coma no drama Fale com Ela, de Pedro Almodóvar. Os parceiros de longa data não foram esquecidos: Carlinhos Brown (To Remember) e Olodum (Umbigo do Mundo) também estão entre os convidados.

Como não é uma coletânea, Eletrodoméstico apresenta 12 novas músicas. A faixa que dá nome ao disco é uma delas. Mistura de funk, rap e samba, é de criação de Marcelo Yuka e Falcão, os cabeças da banda de rock O Rappa. Lembra Fernanda Abreu em grande fase. A canção de trabalho é o dance Dona da Banca (Robson Pacífico), na medida para a cantora soltar sua bela voz.

Mas as grandes interpretações vêm dos clássicos, como Mutante, de Rita Lee e Roberto de Carvalho; Ive Brussel, na qual Daniela canta com Jovanotti, um dos grandes talentos europeus, transformando a canção de Jorge Ben Jor numa salada musical de ritmos brasileiros, eletrônica e hip hop italiano; e Baby, de Caetano, em que ela está sensual e afinadíssima. Injustiça não citar, também, Milagre do Povo, na qual Daniela divide a performance com Dulce Pontes.

Em Riqueza, uma versão espanhola para a canção Tour, de Brown, a parceria com Rosario Flores tem resultado interessante quando se percebe o flamenco da cantora espanhola aliado ao samba-reggae de Daniela. Tudo em espanhol. Mas a baiana, versátil, também canta em inglês. Na faixa It Ain’t Over Till It’s Over, do norte-americano Lenny Kravitz, ela surpreende com um bom domínio do idioma e uma interpretação emocionada.

Daniela também regravou antigos sucessos como Nossa Gente (Avisa Lá), Ilê Pérola Negra e Nobre Vagabundo. A primeira ganhou uma versão em rap e está quase irreconhecível. Na última faixa, ela presta uma homenagem a Herbert Vianna com o hit Só pra te Mostrar, já gravada com o líder do Paralamas. E, com todo fôlego que lhe é característico, ela oferece uma faixa bônus, a única feita em estúdio: Pára de Chorar, que tem um batidão house e uma letra reciclada por Motta a pedido de Daniela.




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