No ano passado, lançou dois volumes de A Música Popular no Romance Brasileiro, fruto de uma pesquisa de 15 anos e leitura de 5 mil livros. O terceiro está no prelo. Este mês, uma coletânea reúne suas idéias: Cultura Popular – Temas e Questões (Editora 34, 192 págs., R$ 22). São 11 ensaios publicados entre 1970 e 2000.
Recuperação da memória e questões de gosto são os motes dos textos. Tinhorão fala de música sertaneja, de cordel, de circo, de gosto musical. Cita o tempo todo a luta de classes, pois sua formação é marxista, com fluência suficiente para se livrar das amarras acadêmicas, mesmo com rigorosa pesquisa.
Ele apresenta criadores populares esquecidos, como o palhaço negro Benjamim de Oliveira, que fazia sucesso com suas peças populares, considerado o introdutor do teatro no circo brasileiro; ou lembra Dionísio Oliveira, fundador do bloco Barra Funda em 1914, hoje a escola de samba Camisa Verde e Branco, em São Paulo.
Mas é a música seu assunto preferido. Sobre os conceitos entre música popular e cultura de elite, Tinhorão puxa as luzes para si. No capítulo Definição para Música Popular, avisa que desde 1966 tem procurado estabelecer essa “diferença de campos”. E explica essa “dualidade” de produção artística em dois universos culturais: o rural e o moderno mundo urbano, fruto das relações de produção capitalista. Eis o historiador.
O crítico aparece em outro capítulo: “De fato, enquanto os compradores de música sertaneja aplaudem duplas vestidas de cowboys americanos, que cantam toadas breganejas à base de sons de guitarras (porque esse é o ‘moderno’ a que pretendem chegar), as camadas de classe média cometem equívoco semelhante”.
Seu acervo de 7 mil livros e 5 mil discos, garimpados ao longo de 40 anos em sebos, estão desde o ano passado à disposição do público no Instituto Moreira Salles (www.ims.com.br).
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