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Arnaldo Antunes lança '40 Momentos'
Alessandro Soares
Da Redaçao
23/09/2000 | 15:36
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O berro lingüístico de Arnaldo Antunes ecoa nas páginas do livro 40 Escritos (Iluminuras, 152 páginas, R$ 25). Sao, como o título afirma, 40 comentários, entre críticas, textos para catálogos e releases, e crônicas publicados pelo cantor, poeta e compositor entre 1980 e 1999 na imprensa, jornais e revistas, capas de discos e catálogos de exposiçoes. Os textos para esta ediçao foram organizados por Joao Bandeira, a pedido do autor.

Antunes cataliza sua veia de escritor e trata de personalidades da cultura brasileira e do mundo pop. Sua verve atua também na música, artes visuais, comportamento, poesia concreta, com intervençoes críticas sobre tudo. O que nao quer dizer que ele seja um demolidor de mitos ou uma metralhadora giratória verborrágica contra tudo. O equilíbrio é a alma do seu negócio: defender a experiência com a língua.

É possível ler todo o livro de uma só vez, porque Antunes nao faz rodeios e vai direto ao assunto. Paulo Leminski, Michael Jackson, Lenine, Paralamas do Sucesso, Titas, o episódio de sua prisao e exposiçao na mídia, Dorival Caymmi sao alguns dos temas de seus escritos nos quais "O tom é o sal da mensagem" (maio de 1986).

Sobre o rock dos anos 80, Antunes afirma: "Para quem faz rock nos anos 80, está acabando esse papo de vestir uma cançao com a roupa de arranjo. Cada vez mais, o som que se toca pertence ao canto que se canta. A estrutura `cançao' foi abalada por uma maior proximidade entre criaçao e execuçao" (junho de 1988). Ou mais adiante, "qualquer entendimento poético do mundo passa pela linguagem; aliás, qualquer entendimento do mundo passa pela linguagem" (outubro de 1994).

Estes fragmentos de pensamento mostram a necessidade lingüística do poeta, materializada em uma prosa que surge de um sistema de textos interligados entre si. Como um observador participante da cultura brasileira, sobretudo, Antunes identifica suas possibilidades, critica seus meandros ("Riqueza de recursos e domínio técnico nao representam, por si, positividade criativa, nem tudo que se tem se usa"). É partidário da liberdade individual de se fazer o que quiser com a pele e com a língua. Sua poética-retórica é, ainda hoje, tao absurdamente atual quanto o advento da bundamusic.

Mas o livro tem, ainda, uma semelhança com um relançamento de velhos clássicos numa coletânea em CD: se a releitura nao transcende sua época inicial, o conteúdo soa como oportunismo cultural. "Um livro nao pode ser lido da mesma maneira em sua primeira e em sua quinquagésima ediçao. O cheiro é diferente. É duro engolir uma comida sem cheiro" (maio de 1986), escreveu Antunes. 40 Escritos cheira a militância cultural contemporânea, necessidade mais do que lingüística, um comportamento antimediocridade que o tempo conservou.




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