Estimativa considera os quatro anos em que braço da Saab vai produzir peças para aviões-caça em São Bernardo
O impacto da indústria da defesa no Grande ABC pode chegar a até R$ 16,5 bilhões em quatro anos. O montante equivale a 13,4% do PIB (Produto Interno Bruto) estimado para o Grande ABC em 2020, de R$ 123,2 bilhões, conforme cálculos do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano).
A projeção de movimentação da economia da região pelo setor da defesa foi realizada com base nos números do Projeto Gripen, que contempla a aquisição, até 2024, de 36 aviões-caças pela FAB (Força Aérea Brasileira), a fim de renovar a frota para executar a defesa e segurança das fronteiras nacionais. Deste total, 15 modelos (42%) serão montados inteiramente no Brasil. O contrato, de 39,3 bilhões de coroas suecas, perfaz total estimado de US$ 4,67 bilhões (R$ 26,5 bilhões), dos quais US$ 1,95 bilhão (R$ 11,1 bilhões) será gerado no Brasil. Ou seja, este é o valor estimado da produção dos caças no País, mas como a indústria aeronáutica se concentra em São Paulo, os ganhos derivados destes US$ 1,95 bilhão estarão concentrados no Estado.
Não foram incluídos nos valores as aeronaves feitas parte lá e parte aqui porque há custos de logística envolvidos entre São Bernardo, onde está a SAM (Saab Aeronáutica Montagens), Gavião Peixoto (Interior), onde será feita a montagem dos caças pela Embraer, e Linköping, cidade sueca onde são montados os aviões.
Os cálculos foram feitos a pedido do Diário pelo pesquisador do Conjuscs e gestor do curso de ciências aeronáuticas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Volney Gouveia, que também é autor do livro A economia do transporte aéreo. O especialista pondera, no entanto, que insuficiência de dados e a não divulgação de informações pelas empresas – que as julgam estratégicas – levaram à realização de estimativa com base nos dados divulgados pela imprensa e órgãos oficiais. “Com base nesses números, métodos de estimativa dos efeitos multiplicadores da produção sobre a renda de um conjunto de atividades econômicas foram utilizados”, explica Gouveia.
O voo inaugural do avião caça Gripen E no céu brasileiro, em setembro do ano passado, foi o gatilho de importante capítulo no desenvolvimento da indústria da defesa e na região, onde está a SAM, fábrica de aeroestruturas que começou a operar em julho de 2020. Em dezembro, foi entregue sua primeira encomenda, o cone de cauda e, na semana passada, foi anunciada a segunda, o par de freios aerodinâmicos – leia abaixo entrevista com Ola Rosén, diretor de operações da SAM.
Informação divulgada pela Saab no Senado à época da assinatura do contrato, em 2014, era a de que o Brasil seria parceiro do Gripen NG e teria “até 40% do desenvolvimento e até 80% da produção de estruturas com exclusividade mundial”. Neste sentido, Gouveia estimou os impactos para diferentes cenários de produção de parte do Gripen pela SAM: 20% e 80%.
Em um cenário mais conservador, a produção de 20% de US$ 1,95 bilhão no Grande ABC pode ter impacto global (portanto, em quatro anos) de US$ 730 milhões (R$ 4,16 bilhões), dos quais a indústria poderia responder por US$ 556 milhões (R$ 3,14 bilhões) ou 76% do total, seguida pelo segmento de serviços, com US$ 161 milhões (R$ 911 milhões) ou 22%. Tais valores se referem aos impactos nos diversos segmentos produtivos na região.
O pesquisador afirma que, caso consideremos o número da própria Saab, de 80% da produção dos componentes do Gripen, os efeitos serão mais expressivos: US$ 2,9 bilhões (R$ 16,5 bilhões) no período 2020 a 2024, com o setor da indústria podendo responder por US$ 2,2 bilhões (R$ 12,5 bilhões) e, o de serviços, US$ 640 milhões (R$ 3,6 bilhões). “No entanto, avalio esses números muito otimistas. Até porque existe uma cadeia de suprimentos bastante consolidada pelo Interior de São Paulo, que compete diretamente os investimentos com a região do Grande ABC.”
Experiência é oportunidade para ampliar produção e gerar empregos
“Isso dependeria da resposta dos investidores às alternativas de longo prazo. Como esse empreendimento tem ‘data para acabar’, é importante que outros caminhos se abram, como, por exemplo, a diversificação das plantas industriais para produzir não apenas componentes de aeronaves, mas também equipamentos de tráfego áereo e aeroespaciais, o que já tem sido feito pela SAM (Saab Aeronáutica Montagens)”, diz.
Outro fator relevante, conforme Gouveia, é a existência de troca de tecnologias entre os dois países, com profissionais brasileiros e suecos tendo acesso ao conhecimento gerado, o que permitirá ao Brasil entrar, no futuro, neste mercado de caças e passar a exportar, ampliando o portfólio da própria Embraer e abrindo perspectivas para expansão da participação do Grande ABC.
Nos últimos anos, tem havido na região o surgimento de cursos relacionados ao sistema de aviação civil e militar, lançados por instituições de ensino que já são bastante consolidadas. “É criarmos as condições para aproveitar toda a curva de aprendizado que se está formando”, assinala.
A indústria local não tinha tradição no ramo aeronáutico até 2013, quando o acordo com a Saab foi firmado. “Ao contrário de todas as compras feitas pelo Brasil até então, não havia troca de conhecimento e tecnologias. O acordo entre FAB e Saab abriu espaço para isso. Ou seja, a Embraer passará a incorporar técnicas de produção de caças, e isso é muito positivo porque, a exemplo do cargueiro KC-390, o Brasil poderá, no futuro breve, entrar também no mercado de caças e ampliar sua presença no mercado internacional.”
Fornecedores do Grande ABC participaram desse processo produtivo? Caso sim, quais? E quantos?
A partir deste ano, as aeronaves serão montadas totalmente no Brasil, não? Qual a previsão?
Atualmente, a fábrica de aeroestruturas da Saab no Brasil conta com 70 profissionais altamente qualificados, a maioria engenheiros e montadores. Mais da metade deles passou por treinamento teórico e prático na Suécia, por períodos que variam de 12 a 24 meses. Avaliamos constantemente a necessidade de novas contratações, conforme ampliamos a nossa capacidade de produção.
Qual é o próximo passo da fábrica em São Bernardo? O que deve ser produzido a partir de agora?
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.