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Brasil tem reforço gringo no tênis de mesa

Há seis anos no País, chinesa obtém naturalização de última hora e aspira vaga na Olimpíada

Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
20/05/2012 | 07:49
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Era para durar um ano o intercâmbio, mas há seis temporadas a chinesa Gui Lin está no Brasil. O que era para ser uma viagem para conhecer outra cultura, aos poucos foi ganhando nova proporção. Ela se adaptou ao País, aprendeu português e tirou de letra a dificuldade com alimentação. O dom natural dos asiáticos para o tênis de mesa a deixou em evidência, daí foi um passo para pensar em naturalização. Após processo judicial, no dia 4 Lin pôde se considerar metade chinesa metade brasileira e aspira vaga na Olimpíada de Londres.

Lin tinha 12 anos quando sua família decidiu mandá-la ao Brasil. Natural de Nan Ning, começou a praticar tênis de mesa aos 7 anos, já que na terra natal boa parte das casas conta com mesa entre o mobiliário. Chegou a São Paulo, onde teve o primeiro contato com o povo brasileiro, ficou por lá um ano até conhecer Hugo Hoyama, que logo percebeu a vocação da atleta para a modalidade e a trouxe para treinar em São Bernardo.

A maior dificuldade, segundo Lin, foi o idioma. "Conversava com as meninas nos treinos e elas me ensinavam. Aos poucos fui melhorando e falando novas palavras", conta a chinesa, que hoje fala praticamente tudo em português.

Decidida a investir, a família de Lin foi prorrogando sua estadia até perceber que a garotinha levava jeito. Assim, a chinesa passou os últimos seis anos apenas treinando, já que respeitando as leis brasileiras, só poderia requerer naturalização com 18 e não estava disposta a voltar para a China. "O processo começou em outubro, quando completei a idade, mas só agora consegui a documentação", explica Lin.

A dois meses da Olimpíada, ela terá apenas uma chance de ir a Londres. Como não participou do Pré-Olímpico, espera convite da Confederação Brasileira para ocupar a última vaga da equipe, que tem Caroline Kumahara e Ligia Silva garantidas. "Acho que será chamada. Apesar de não ter participado de competições, treinou e muito esperando por esse momento", opina o mentor Hugo Hoyama, que está a caminho da sua sexta Olimpíada.

Lin é diferente das companheiras de treino. Tímida, mostra concentração e dedicação impressionantes, sem falar, óbvio, de sua facilidade em acompanhar os movimentos frenéticos da bolinha. "Acho que todo chinês nasce sabendo jogar tênis de mesa, assim como o brasileiro com o futebol. Lá em cada casa tem uma mesa, eu mesmo tinha uma. É cultural", assegura a jogadora.

Para se destacar, Lin não perde um dia de treinamento e sua rotina é pesada. Ela trabalha diariamente no ginásio na portaria do Estádio 1º de Maio, em São Bernardo, e passa lá cinco horas por dia, aperfeiçoando os movimentos. A naturalização aumenta a motivação da mesa-tenista, que agora pode competir pelo Brasil. "Estou ansiosa para jogar. Treinei seis anos para isso", comemora.

Preocupado com a conotação da naturalização - a primeira na modalidade - Hugo Hoyama sai em defesa do processo. "É bem diferente de alguns países que alugam asiáticos e pedem naturalização às vésperas das competições para assegurar bons resultados. A Lin está no Brasil há seis anos, apenas treinando e esperando atingir a idade. Ela é uma brasileira", garante ele, que divide a rotina entre jogador e treinador em São Bernardo.

Jogadora tem rotina de qualquer brasileira

A rotina de Gui Lin em São Bernardo é como de qualquer outra garota da sua idade e passaria despercebida não fossem os traços típicos dos chineses e o comportamento acanhado. Ela se esforça para se aproximar das brasileiras e tenta absorver os ensinamentos que recebe diariamente.

Após o primeiro ano de intercâmbio, Lin foi matriculada em escola de São Bernardo, mesmo ainda com dificuldade para dominar o idioma. Estudiosa, passou a se comunicar e no próximo ano deve terminar o ensino médio.

"Hoje tenho vida normal, estudo pela manhã e treino à tarde. Consigo me comunicar e isso mudou tudo, já que antes não conseguia nem pedir as coisas para comer. Não me sinto diferente", explica a chinesa-brasileira.

Lin diz que adora a comida brasileira e está aprendendo um pouco mais do País. "É tudo muito diferente da China, mas como vim muito cedo para cá ficou mais fácil para me acostumar com o modo dos brasileiros. Gosto muito de São Bernardo, que me recebeu bem e espero poder continuar aqui por muito tempo", conta ela, que recebe sempre a visita dos pais.

Grande ABC vira base da Seleção Brasileira

Ainda que distante, o sonho de medalha olímpica passa pelo Grande ABC. Dos seis atletas brasileiros que devem ir à Olimpíada de Londres, pelo menos quatro jogam por clubes da região. E a lista pode aumentar caso a chinesa Gui Lin, agora naturalizada brasileira e que atua em São Bernardo, supere Jéssica Yamada, de Guarulhos, na disputa pela terceira vaga na equipe.

No masculino, Gustavo Tsuboi, de São Caetano e Hugo Hoyama, de São Bernardo, conseguiram classificação para Londres no Pré-Olímpico, disputado em março, no Rio de Janeiro.

Eles devem ter a companhia de outro são-caetanense em Londres, Cazuo Matsumoto, que atualmente é o brasileiro mais bem colocado no ranking mundial, ocupando a 85ª posição, enquanto Tsuboi é o 100º e Hoyama o 199º.

No feminino, Caroline Kumahara, de São Caetano, por enquanto, é a única mesa-tenista do Grande ABC garantida na Olimpíada. A outra é Ligia Silva, de Santos. As duas também obtiveram vagas no Pré-Olímpico.

O ranqueamento das brasileiras é inferior. Ligia Silva aparece na 196ª posição, enquanto que Caroline Kumahara é a 218ª do mundo. Jéssica Yamada leva ligeira vantagem sobre Gui Lin, 247ª, contra 258ª da chinesa-brasileira. Recém-naturalizada, a gringa disputou poucas competições por causa da documentação.

A representatividade do Grande ABC tem explicação. São Caetano é considerada a capital brasileira da modalidade, principalmente por conta do investimento realizado pela Confederação Brasileira em 2011, quando injetou R$ 2 milhões na construção de centro de excelência localizado no Circolo Italiano.

O resultado foi imediato e a cidade prepara a nova geração, capitaneada por Hugo Calderano, 15 anos, que em abril ocupou a liderança do ranking de entradas sub-18, colocando o Brasil pela primeira vez no topo mundial.




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