“O Movimento Armorial (engendrado em Pernambuco por Ariano Suassuna, que promoveu uma fusão artística de elementos eruditos com a tradição popular, com ênfase nesta) nasceu um ano antes do Stagium. O Armorial, que acompanhei desde o começo, foi muito importante no resgate das nossas raízes, da beleza do folclore, da xilogravura, do (escultor popular de Caruaru) Mestre Vitalino”, diz Otero.
O coreógrafo identifica uma “cumplicidade” entre o Movimento Armorial e o trabalho do Stagium, que em balés como Kuarup (1977), Coisas do Brasil (1979) e Batucada (1981) buscou a essência da cultura nacional. “Também resgatamos as coisas brasileiras”, afirma. “Pensava em fazer um espetáculo sobre o Armorial desde o fim do movimento, em 1975.”
Otero destaca a importância de trazer à tona, novamente, o Armorial. “Várias coisas desaparecem e ninguém se lembra delas. O movimento teve vida curta, mas ficaram pessoas como Antonio Nóbrega”, diz. A Orquestra e o Quinteto Armorial são duas das expressões do movimento, que teve caráter multidisciplinar.
Stagium Dança o Movimento Armorial não se preocupa em reproduzir o folclore – “fugimos disso”, afirma Otero –, mas em transformar as sementes plantadas por Suassuna, a quem a montagem é dedicada, em dança contemporânea. “O importante é o sentido da palavra ‘armorial‘, que Suassuna transformou de adjetivo em substantivo e significa brilho, beleza, elegância. O espetáculo guarda a essência do movimento”, diz. Exemplo: “A música é popular, não popularesca”.
Outro: “Em determinado momento, contamos (com a expressividade dos movimentos, sem texto) três histórias de cordel, já que o Armorial bebeu nessa fonte”. A mitologia em torno do Pavão Misterioso e de Tristão e Isolda, além da literatura ibérica do século XVIII, são os motes. Aqui se vê com mais nitidez a mão de Marika, que trabalhou no teatro com o diretor Ademar Guerra em peças como Marat/Sade (1967), Hair (1969) e Missa Leiga (1972).
As três histórias não quebram o ritmo do balé, “que vai num crescente grande”. Otero define Stagium Dança o Movimento Armorial como “uma grande algazarra: “O espetáculo termina com uma roda, que representa a alegria, inspirada na cultura dos índios xavantes”. O gestual, portanto, é aberto, nada introspectivo.
Ex-professor da ELT (Escola Livre de Teatro), de Santo André, Márcio Tadeu assina a cenografia. “Há um painel acrílico espelhado, brilho, vida”, afirma Otero. A montagem estreou em Porto Alegre, em maio – é a mais recente criação da companhia –, e já passou por Recife, São Paulo, Maceió e Brasília. São 18 intérpretes no palco.
Stagium Dança o Movimento Armorial – Dança contemporânea. Coreografia de Décio Otero. Direção teatral de Marika Gidali. Com o Ballet Stagium. Neste sábado, às 21h. No Teatro Lauro Gomes – r. Helena Jacquey, 171, São Bernardo. Tel.: 4368-3483. Ingr.: R$ 12 e R$ 6.
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