O maestro Eleazar de Carvalho, importador do modelo de Tanglewood, insistia sempre na dualidade festa e aprendizado para o Festival de Inverno. Do lado da festa, os concertos mais aguardados são os das orquestras, porque permitem uma avaliação comparativa do estado-da-arte de nossas sinfônicas.
Estarão em Campos a nossa Sinfônica de Santo André, com Flavio Florence na regência e o pianista Caio Pagano como solista, a Sinfônica de Ribeirão Preto, regida por Cláudio Cruz, a Sinfônica do Teatro Municipal, regida pelo dublê de pianista e regente Ira Levin, e a Sinfônica de Campinas em nova fase, liderada por Aylton Escobar.
Entre os recitais, novidade para o do tenor Ramón Vargas. Os outros são do pianista Mikhail Rudy e do violinista Pierre Amoyal. Das atrações brasileiras, destaque para o recital do saxofonista Paulo Moura ao lado do violonista Turíbio Santos, que comemora 40 anos de carreira com o lançamento de um agradável livro de memórias.
Uma surpresa deve ser o trio do pianista de jazz Brad Mehldau na tarde do dia 9, no Auditório Cláudio Santoro. Aproveitou-se um dia livre do grupo, que veio mesmo para se apresentar no Bourbon Street, em São Paulo. Não sei se a música de Mehldau combina com fim de tarde emoldurado por araucárias, mas pode até dar certo.
Nos shows populares, Martinho da Vila, Ivan Lins, João Bosco e outros se alternam na praça do Capivari.
Bolsistas – Do lado do aprendizado, o Festival de Inverno não é mais o formador de novas gerações de músicos que era lá pelos idos dos anos 70 e 80. Neste novo milênio, as coisas estão diferentes. No ano passado não havia bolsistas suficientes nem para formar uma orquestra sinfônica. Este ano, corrigiu-se o erro. São 288 bolsistas, mas 200 deles estarão em Tatuí.
Um respeitado instrumentista de São Paulo, membro de um grupo de câmara e com larga experiência profissional aqui e no exterior, confidenciou que os jovens músicos não querem nem têm tempo para ir a Campos do Jordão como bolsistas, pois estão empregados nas diversas orquestras em atividade no Estado. Sem condições nem amadurecimento para tanto, destaca o professor.
Aí estaria uma das causas, senão a principal, do esvaziamento do Festival nos últimos anos. São músicos com pinta de profissionais, mas amadores, que não admitem a condição de aprendizes porque já ganham algum emitindo suas notas.
Concorrência – A programação musical de São Paulo anda recheada de shows internacionais de primeira linha. Fica difícil programar o Festival com antecedência, ainda mais com a liberação de verbas estatais e obtenção de patrocínio pouco antes do início do evento. Não seria o momento de virar o jogo e deixar de bater de frente com o Cultura Artística, Mozarteum e outros produtores? Não adianta competir com eles, mas sim estabelecer alternativas interessantes e bem fundamentadas. Mas essa é outra história.
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