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Pinochet enfrenta outra grave acusação na justiça chilena
Das Agências
10/02/2001 | 16:02
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A morte sob torturas de um preso político chileno se converteu em outra perigosa acusação para o general Augusto Pinochet, que na terça-feira apelará da prisão domiciliar por causa do processo por homicídios que o afetam há 10 dias.

A imagem de Eugenio Ruiz-Tagle com um olho a menos, as orelhas mutiladas, ossos quebrados, a coluna fraturada e o rosto com queimaduras, causou enorme impacto na opinião pública junto com a divulgação de um documento em Pinochet afirma que ele morreu executado.

No documento, Pinochet, de seu punho e letra, escreveu: ‘‘Proponha resposta: O senhor Eugenio Ruiz-Tagle O. foi executado em razão de graves acusações que existem contra ele. Não houve torturas, segundo informação’’.

Ruiz-Tagle foi um dos 75 presos executados por um grupo de oficiais do exército — ‘‘A caravana da morte’’— razão por que Pinochet foi preso e processado há 10 dias pelo juiz Juan Guzmán, que decidiu haver ‘‘presunções fundadas’’ da responsabilidade do ex-ditador.

O prisioneiro morreu em 19 de outubro de 1973 na cidade de Antofagasta, no norte do país, pelas torturas e com duas balas no corpo.

Pinochet reconheceu perante Guzmán que enviou o grupo para as províncias para agilizar os conselhos de guerra contra opositores, em 1973, mas acrescentou que ‘‘não sou um criminoso’’ e esclareceu que não mandou o grupo executar pessoas. Entretanto, os nove advogados de acusação afirmam que Pinochet soube dos crimes e que não fez nada para investigá-los, nem para punir os culpados.

A aparição do documento esta semana, no jornal eletrônico ‘‘El Mostrador’’, mostrou, segundo os acusadores, que Pinochet sabia do ocorrido e que o encobrira, por não ordenar uma investigação.

A anotação de Pinochet, na margem de uma folha, em que o auditor do exército da época lhe perguntava por uma denúncia de torturas em Ruiz-Tagle, complicou a apelação que na terça-feira farão seus advogados para anular o processo, alegando razões de saúde.

O chefe dos advogados defensores de Pinochet, Pablo Rodríguez, opinou que talvez o papel sirva para provar sua inocência, pela frase que diz ‘‘segundo a informação’’.

Os problemas do ex-ditador aumentaram mais ainda com o anexo o processo das declarações do general reformado Joaquín Lagos, chefe da zona militar de Antofagasta, que disse na televisão que havia informado Pinochet sobre os crimes da caravana e o acusou de não investigá-los.

As palavras de Lagos corroboraram as denúncias das torturas sofridas por Ruiz-Tagle e os 13 prisioneiros executados com ele nas cercanias de Antofagasta.

O general retirado disse na televisão nacional que demorou a entrega dos corpos porque ‘‘me dava vergonha vê-los. Estavam feitos em pedaços. Não eram corpos humanos. De alguma maneira, eu queria armá-los. Pelo menos, deixá-los de uma forma decente, mais ou menos’’.




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