Norma é uma pessoa ressentida. Deixaram marcas a perda do marido, que a abandonou, e a morte do filho, que saiu de casa porque ela não aceitou o fato de ele ser homossexual. No início da peça ela acaba de se mudar – caixas ainda estão por abrir.

Surge, então, Renato, o ex-inquilino. Eles não se conhecem. Com o pretexto de pegar objetos pessoais, Renato volta para reviver as boas recordações que deixou no antigo lar. Papo vai, papo vem, começa uma amizade, que Norma tenta transformar em algo mais.

Mulher de meia-idade, a solitária Norma guarda seus recalques. Desilusões provocadas por aspirações não realizadas e culpas jamais assumidas, sempre transferidas, povoam sua cabeça.

Renato rejeita o relacionamento que ela propõe. Não pela diferença de idade, mas porque é homossexual. De posse dessa informação, ela passa a atacá-lo. A reação é forte. E há um segredo a ser revelado.

O espetáculo aborda a intolerância como fator do preconceito. Embora os autores se esforcem para não levantar bandeiras e dar universalidade ao texto, este pende para a questão homossexual.

A peça também toca em outros assuntos relacionados ao preconceito, como a postura feminina contemporânea. Afinal, uma mulher em torno dos 50 anos que assume seu desejo e toma a iniciativa da conquista diante de um rapaz que poderia ser seu filho muitas vezes é alvo de questionamentos rancorosos.

Outro tema que a montagem trata é a solidão do habitante das metrópoles – embora fale sobre isso de maneira individual, sem se pronunciar enfaticamente sobre causas ou conseqüências desse exílio urbano, que é um processo coletivo.

Norma – Teatro. De Dora Castellar e Tonio Carvalho. Direção de Tonio Carvalho. Com Ana Lúcia Torre e Eduardo Moscovis. Quinta-feira, às 21h. No Teatro Municipal de Mauá – r. Gabriel Marques, s/nº, Mauá. Tel.: 4555-0086. Ingr.: R$ 15 a R$ 30.