Política Titulo Caso Semasa
Depois de Pavin, cai
cúpula do Semasa

Mesmo com exonerações do adjunto Dovilio e de diretores,
o governo Aidan ainda sofre sangria de suposta corrupção

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
19/05/2012 | 07:41
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Um dia depois da demissão do superintendente do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) Ângelo Pavin, ontem, o novo detentor do cargo, Omar Lopes dos Santos, exonerou o restante da cúpula da autarquia: o superintendente adjunto Dovilio Ferrari Filho e os diretores Nelson de Freitas (financeiro) e Lineu Cunha Mattos (jurídico). Ao contrário da expectativa do governo Aidan Ravin (PTB), porém, a tendência é de continuidade da sangria, mantendo o desgaste da administração petebista.

O quarteto teve a destituição oficializada por quebra de confianças, segundo o Paço. O grupo garantiu que Aidan ordenou o advogado Calixto Antônio Júnior a mandar no Semasa, mesmo não sendo funcionário público. Ele é acusado de ser integrante do suposto crime de propina para liberação de licenças ambientais, juntamente com a cúpula demitida.

Calixto considerou que a situação trilha por caminho sem volta, aumentando a crise. Segundo ele, os exonerados sairão com interesse no esclarecimento do fato. "São pessoas com passado e não deixarão que imagem fique maculada só porque enfrentaram o chefe (Aidan)."

O advogado adiantou que novos indícios do eventual esquema de corrupção no Semasa vão aparecer a partir da próxima semana. O episódio, publicado com exclusividade pelo Diário em 4 de março, está sendo investigado pela Polícia Civil, Ministério Público e CPI. "Além de outros documentos, a apuração dos órgãos competentes, que estão a fundo no caso, mostrará a materialidade da cobrança de propina. O sistema de fraude é bem maior do que se imagina, inclusive de enriquecimento ilícito."

Corroborando com as declarações do advogado, o vereador petista Tiago Nogueira publicou ontem em seu microblog que existem áudio e vídeo que revelam o rastro do esquema montado na Prefeitura, que se desdobrou à autarquia. "Gravações de dentro do governo Aidan vazaram e expõem corrupção no Semasa e outras secretarias. É crise e mais crise." A equipe do Diário tentou contato com o parlamentar para obter acesso às provas, mas não recebeu retorno.

 

NOVO LÍDER

Omar Lopes dos Santos foi adjunto do Semasa durante três meses de 2010 e não teve passagem de sucesso. Segundo fontes internas, funcionários pediam para sair durante sua gestão porque "arranjava encrenca com todo mundo". Em seu primeiro expediente à frente da direção, ontem, foi incumbido de fazer as demissões. Nelson de Freitas foi substituído pelo assistente Eide Alves Gouveia. A advogada Carla Basseto da Silva entra no lugar de Lineu Cunha Mattos. Para o cargo de Dovilio, o Semasa ainda não definiu a troca.

Freitas é autor do documento em que comunica ter recebido telefonema de Antônio Feijó, assessor de Aidan, ordenando que, a partir de novembro, Calixto atuaria no Semasa por determinação do prefeito. À CPI, o então diretor financeiro afirmou que elaborou o ofício a pedido de Lineu para se resguardar de problemas futuros. À polícia, Dovilio garantiu que a indicação de Calixto partiu do gabinete do prefeito e Pavin confirmou o pedido de Aidan.

 

‘Tudo o que falei não foi inventado'

Beto Silva

Primeiro a confirmar as denúncias de suposta venda de licenças ambientais no Semasa, primeiro ao Diário, no dia 4 de março, depois à Polícia Civil, no dia 12 do mesmo mês, o ex-diretor de Gestão Ambiental Roberto Tokuzumi afirma que tudo o que disse "estava acontecendo de fato".

O integrante do segundo escalão foi o primeiro a ser exonerado da autarquia, três dias depois de depor. De lá para cá, com os desdobramentos do episódio, declarações comprometedoras nas oitivas, desgaste da administração Aidan Ravin e queda da cúpula da autarquia, Tokuzumi observa atento as confirmações de seus relatos. "Tudo o que eu falei não foi inventado. Falei exatamente o que estava acontecendo."

O ex-diretor avalia que o superintendente Ângelo Pavin "foi demitido com atraso de 74 dias", período contado desde a revelação do escândalo pelo Diário. "Assisti à montagem de um esquema no qual o pessoal queria me inserir, mas eu não quis. De repente, fui perseguido e demitido."

Agora, Tokuzumi espera agora mais contundência por parte dos empresários extorquidos, os quais também relatou às autoridades que investigam o caso. Até agora, somente Valter Ricardo Afonso, dono da Estate Plan, confirmou a extorsão - mas nega que tenha pagado ‘pedágio' para obter licença de seu empreendimento.

Segundo o denunciante, em outubro começou a operar sistema de arrecadação de verba para caixa 2 de campanha que consistia em, primeiramente, acelerar as etapas técnicas para obtenção de licenças ambientais. Mas os trâmites eram paralisados na última fase, a assinatura de Ângelo Pavin. O superintendente adjunto Dovilio Ferrari Filho, o advogado Calixto Antônio Júnior e Eugênio Voltarelli Júnior - os dois últimos não eram funcionários do Semasa - contatavam empresas para pedir ‘taxa' de até R$ 350 mil para liberar o documento.




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