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'Regras da Vida' emociona espectadores
Do Diário do Grande ABC
09/03/2000 | 14:30
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Em cartaz desde a semana passada, "Regras da Vida" tem feito chorar legioes de espectadores. Aliás, nunca tantos filmes indicados para o Oscar investiram tanto na emoçao pelo drama humano.

É possível chorar também em "A Espera de um Milagre", de Frank Darabont, e no admirável "O Informante", de Michael Mann, com a comovente implosao do personagem de Russell Crowe.

"Regras da Vida" é um filme do sueco Lasse Hallstrom, que já ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro com "Minha Vida de Cachorro". Concorre a sete estatuetas: melhor filme, direçao, roteiro adaptado, ator coadjuvante (Michael Caine), trilha sonora, montagem e direçao de arte.

Desde que foi cooptado pelo cinema americano, Hallstrom só fez um bom filme. Talvez nem fosse tao bom, mas era emotivo, sem pieguice e ainda foi um dos primeiros filmes a chamar a atençao para Leonardo DiCaprio, "Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador".

Nos seus melhores momentos, Hallstrom é um diretor que se sente à vontade relatando histórias de pequenas vidas, de gente como a gente. Histórias cheias de pequenos detalhes. A de "Regras da Vida" mostra o veterano Caine, que pode ganhar seu segundo Oscar de coadjuvante (já recebeu um por Hannah e Suas Irmas) como o médico que dirige um orfanato. Ele tem um aprendiz interpretado por Tobey Maguire. O rapaz é médico sem diploma, um prático.

O filme começa mostrando a vida no orfanato. Maguire resolve trilhar caminho próprio. Cai no mundo. Vai parar numa fazenda no interior, como trabalhador rural. Envolve-se num caso de estupro entre pai e filha. É chamado a substituir Caine, com direito a diploma falso e tudo. Ele retoma o caminho de volta ou segue em frente? É o dilema moral que encaminha o filme para o desfecho.

Hallstrom poderia ter feito um belíssimo filme, pois o roteiro de John Irving, adaptado de seu romance, está longe de ser desinteressante. Mistura grandes e pequenos temas - o drama da orfandade, as dificuldades do rito de passagem, o mecanismo do desejo e também o aborto e as drogas (o médico é viciado). O personagem de Maguire, Wells, vive o despertar do sexo com a namorada do rapaz que o acolheu em sua fazenda. Um pai deseja a própria filha. Sao temas fortes que o filme termina diluindo na pasteurizaçao da mise-en-scène.

Nao é ruim assistir a "Regras da Vida" e os mais emotivos vao chorar de verdade, pois Hallstrom tem um talento todo especial para dirigir crianças. Muitas cenas no orfanato, a ansiedade das crianças quando vêem chegar alguém interessado numa adoçao, sao verdadeiramente sinceras e passam uma emoçao genuína. Sao os melhores momentos do filme. O cumprimento de Caine ("Boa-noite príncipes do Maine") pode até entrar para a relaçao das réplicas famosas do cinema. Mas os excessos sentimentais da história cobram seu preço.

Talvez nao seja o sentimentalismo da história. Uma história pode ser sentimental, mas nao precisa ser narrada com pieguice. É o que Hallstrom faz. É um diretor que se perdeu em Hollywood. O artista sensível e inspirado de "Minha Vida de Cachorro" está fazendo filmes cada vez mais pastosos. O fato de estar na corrida do Oscar com "Regras da Vida" levanta dúvidas quanto ao futuro de sua carreira. Hallstrom, referendado pela Academia de Hollywood, pode acabar convencido de que está fazendo a coisa certa.




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