O Duelo das Estrelas entre paulistas e cariocas, ontem à noite, no Estádio Anacleto Campanella, serviu como primeira experiência já incluída no relatório que os organizadores da Copa Inovação enviam hoje à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e à Fifa. O alvo dos sindicatos dos atletas profissionais de São Paulo e Rio de Janeiro - responsáveis pela inédita disputa - é contribuir para melhorar o nível do futebol, especialmente no item arbitragens.

O uso de monitor de TV nos lances polêmicos é um dos recursos considerados revolucionários. Isso aconteceu no gol do lateral Dedé, de cabeça, aos 24 minutos do primeiro tempo, ao completar o cruzamento de Carlos Alberto e o rebote na trave para empatar - 1 a 1. Antes, aos oito, Elano, ao converter o pênalti do ala Dedé em Dentinho, deixou os paulistas na frente. O lance levantou a dúvida se Dedé estaria ou não impedido.

O juiz Salvio Spínola Fagundes Filho levou os dois capitães - Elano e Carlos Alberto - para que a jogada fosse revista no vídeo ligado na presença de sete observadores, inclusive do quinto árbitro Rodrigo Braghetto. Veredito: a rápida repetição confirmou que o gol era legal.

CONTESTAÇÃO - Aos 15 da segunda etapa, São Paulo resgatou a vantagem na cobrança de falta perfeita de Baiano, indefensável, no ângulo de Rafael - 2 a 1 no painel eletrônico. Coincidentemente, o gol surgiu logo depois da falta cometida em Neymar (derrubado na grande área). Zico contestou a marcação de Salvio, que chamaria os representantes de cada lado para conferir nas imagens. Tudo correto. Em seguida, Zico, sorridente, rendeu-se às evidências.

Aos 38, Leandro Euzébio derrubou Mazola e, em seguida, tomou o cartão amarelo. Antônio Carlos reclamou de Salvio, que logo apontaria o azul ao zagueiro - este precisou sair de campo por dez minutos.

No momento de cobrar, Neymar deu a paradinha e, como punição, recebeu apenas o amarelo. O próprio atacante retomou a batida e, estático, definiu os 3 a 1 favoráveis aos paulistas, do goleiro Gustavo, do Santo André.

MAIS LEVE - O cartão azul - advertência que afasta o atleta durante dez minutos - também roubou a cena. Não é permitida substituição, mas o infrator pode retornar ao campo. Os dirigentes explicaram que haverá novos confrontos até o mês de maio. O troféu será de quem acumular mais pontos. Prevalecem as vitórias, o saldo e, na sequência, o maior número de gols.

Torcida é 20 vezes maior que a média do Azulão na Série B

Desde o Paulistão o Anacleto Campanella não recebia um público significativo. Segundo a Polícia Militar, cerca de 6.000 torcedores compareceram ontem ao estádio. O número é quase 20 vezes a quantidade de pessoas que acompanharam os jogos do Azulão na Série B do Brasileiro.

Como o ingresso era um quilo de alimento não perecível ou um brinquedo novo, muitas pessoas foram ao estádio apenas para ver alguns dos principais jogadores, como Neymar, Dentinho, Bruno César, Léo Moura e Carlos Alberto.

 "Vim mesmo pelos jogadores. Torço só para o Corinthians e nunca tinha entrado no estádio, embora more aqui há 50 anos", confessou o aposentado Oswaldo Martinez, que foi acompanhado do filho, o motorista Eder Martinez, 31.

Apesar do proposto pela Copa Inovação, pai e filho torcem para que não haja mudanças nas regras do futebol. "A graça está justamente na dúvida, na polêmica. É mais emocionante", acredita Oswaldo.

Outro destaque foi a convivência pacífica de torcedores com camisas de times rivais.

Técnicos e jogadores aprovam testes, mas com ressalvas

Se o principal intuito do evento foi testar novos métodos e técnicas, sem dúvida foi alcançado com mérito. Sobretudo o desafio proposto pelos times, que pediam ao quinto árbitro a análise da jogada por vídeo, para tirar dúvida. Os técnicos Vágner Mancini e Zico aprovaram as novidades, mas com ressalvas.

"A partir do momento que é inovação, tem que ser adaptada. É um modelo interessante, é possível sanar a dúvida, mas o tempo para que isso acontecesse talvez tenha se excedido um pouco. Isso gerou bagunça momentânea, mas nada que não possa ser aprimorado", avaliou Mancini, que comandou os bandeirantes.

Zico, técnico dos fluminenses, seguiu o discurso. "São inovações válidas e jogos como este servem para testá-las. No momento em que pedimos para rever o lance (na falta cometida pela zaga carioca, que Baiano converteu) era também para ver como funciona, quanto tempo demora e tudo mais", disse o Galinho.

Por parte dos jogadores, o capitão da equipe carioca, Carlos Alberto, também fez ressalvas com relação ao testes feitos no jogo. "Embora o clima fosse mais de um treino, acho válido. É mais um recurso que pode ajudar os árbitros a errarem menos. Não acho justo, por exemplo, que uma seleção perca quatro anos de trabalho, como a Irlanda, e fique fora de um Mundial por causa de falha. É um tempo de trabalho jogado fora, sem contar a perda financeira. Mas acho que essa discussão é boa, é benéfica para o futebol."

SALVOU A PÁTRIA - Um jogador em especial foi duplamente salvador da pátria ontem: o goleiro Gustavo, do Santo André. Além de ser o único representante do Grande ABC em campo, foi o responsável pelo triunfo dos paulistas com excelentes defesas.

"Com certeza estou muito feliz em honrar o clube que paga meu salário e me dá todas as condições. Foi o que me deu a maior oportunidade, o maior título e agora realiza outros sonhos, como este jogo e casar", disse o camisa um dos paulistas.