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CPI do Narcotráfico quer declaraçoes de renda de deputado
Do Diário do Grande ABC
03/02/2000 | 16:33
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A subcomissao da CPI do Narcotráfico que está investigando denúncias de suposto envolvimento do deputado Wanderley Martins (PDT-RJ) com o crime organizado deverá pedir à Receita Federal o levantamento das declaraçoes de renda do deputado apresentadas nos últimos dez anos. Os deputados que integram a subcomissao querem verificar se a evoluçao patrimonial de Martins é compatível com a remuneraçao recebida por ele no período como delegado da Polícia Federal.

Essa deverá ser a última linha da investigaçao, porque os integrantes da subcomissao querem concluir seus trabalhos nas próximas duas semanas. Eles relatam que até agora nao se levantou nenhuma prova que sustente as denúncias. Na manha desta quinta-feira, os deputados Paulo Baltazar (PSB-RJ), Waldemir Moka (PMDB-MS) e Eber Silva (PDT-RJ) ouviram reservadamente o depoimento do delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa, que há quatro anos investigou as atividades do crime organizado no Rio de Janeiro. O delegado afirmou aos deputados que, embora tenha se aposentado antes do encerramento das investigaçoes, tem convicçao de que o empresário libanês Elias Canaa, proprietário de uma agência de turismo no Rio, está envolvido com o tráfico internacional de armamento pesado.

Sousa prendeu Canaa em junho de 95 e encontrou com o empresário várias agendas contendo uma relaçao de nomes de policias e delegados ao lado de cifras. O nome do entao delegado da PF Wanderley Martins estava na lista, em uma agenda de 92, ao lado da cifra de Cr$ 10 milhoes - cerca de R$ 5.000,00. Martins sustenta que o valor correspondia a uma operaçao de câmbio. A versao foi confirmada por Canaa.

Segundo o delegado, o empresário teria afirmado, em seu primeiro depoimento, que trocava dólares para os policiais porque gostava de "colaborar" com a Polícia Federal. No depoimento à subcomissao, Sousa considerou essa explicaçao "plausível" e disse que em suas investigaçoes nao encontrou outros indícios de envolvimento do deputado com o crime organizado. Por outro lado, o delegado aposentado afirmou que, no processo que corre em segredo na Justiça do Rio, existem elementos que comprovam a sociedade de Canaa com Nasser Mustaphá Beyhond, um libanês que teria se envolvido com o tráfico de armas nos Estados Unidos e, ao ser preso, teria feito um acordo com o governo americando para entregar à Justiça outros traficantes.

Segundo Sousa, Beyhond teria entrado no programa de proteçao às testemunhas, recebido US$ 1,9 milhao do governo norte-americano, feito uma operaçao plástica para mudar o rosto e se transferido para o Rio, onde teria montado um novo esquema de contrabando de armas, associando-se a Canaa na empresa Spark International Corporation, que teria intermediado a venda de tanques e helicópteros de guerra do Ira para o Equador, na época em conflito bélico com o Peru. Beyhond foi assassinado em junho de 95, no decorrer das investigaçoes, em uma operaçao de "queima de arquivo", segundo o delegado, que ficou frustrado com a libertaçao de Canaa no dia seguinte ao da sua prisao.

Segundo integrantes da subcomissao da CPI, o depoimento do delegado nao acrescentou novidades em relaçao à investigaçao sobre Martins. Logo após o depoimento, Sousa e Martins se encontraram nos corredores da Câmara e conversaram por quase dez minutos. Martins reafirmou ser inocente e disse que só deverá se pronunciar sobre as investigaçoes depois de concluído o relatório. Ele adiantou, no entanto, que sua permanência como integrante da CPI do narcotráfico dependerá do julgamento de seus colegas.




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