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Filme 'Quando Tudo Começa' mostra o embrutecimento de um país
Mario Gioia
Da Redaçao
09/12/1999 | 17:31
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O filme Quando Tudo Começa, que estréia nesta sexta-feira em uma sala da regiao e também no circuito paulistano, é um libelo contra a indiferença e a apatia, dirigido de forma vigorosa pelo francês Bertrand Tavernier (de Por Volta da Meia-Noite e A Isca). Graças a um convênio da distribuidora com uma entidade sindical, professores pagam meia-entrada nas sessoes.

O filme foi o maior sucesso de público da temporada francesa deste ano, ultrapasssando 1,5 milhao de espectadores. Também teve êxito no meio cinematográfico, ganhando o prêmio da crítica internacional no Festival de Berlim deste ano e o júri popular da última ediçao do Festival de San Sebastian.

Tavernier conduz o filme centrado em Daniel Lefebvre (Phillipe Torreton), um diretor de um jardim da infância em Hernaing (norte da França), em sua luta diária contra a ineficiência do sistema de assistência social do governo e o reduzido empenho de suas colegas.

Daniel vive em uma cidade onde a taxa de desemprego chega aos 34% e os assistentes sociais da regiao sao só quatro - e nao hesitam em bater o telefone na cara de um diretor que cobre agilidade.

O diretor se envolve com os atrasos dos pagamentos de filiados às cooperativas educacionais, com os piolhos das crianças, com as agressoes contra elas. Ao mesmo tempo, convive com uma crise pulmonar do pai e problemas de relacionamento com o filho de sua mulher.

A burocracia governamental produz reunioes inférteis sobre métodos de trabalho (um ótimo diálogo do filme surge quando um diretor sem esperanças defende a idéia de salvar apenas estudantes com maior potencial de aprendizado, ilustrando a tese com a curva de Gauss), questionamentos sobre detalhes pedagógicos e retiradas contínuas de benefícios sociais.

Além da desagregaçao do tecido de proteçao social, que ainda é um dos orgulhos internacionais da França, Tavernier coloca, às vezes como em um documentário, o fracasso da cultura formativa gálica e do velho mundo frente às novidades pasteurizadas dos EUA.

Num grande momento do filme, a professora Delacourt (Françoise Bette) conta, olhando para a câmera, sobre o vocabulário mínimo das crianças, a falta de cuidados básicos com roupa e limpeza, além da invasao de nomes norte-americanos - até Starsky e Hutch.

Mas o estopim da crise vem com as conseqüências trágicas da interrupçao de aquecimento e energia no inverno feito pela EDF (a companhia elétrica do país) ao casal Henry, pais de dois filhos pequenos.

O episódio foi inspirado em um caso real, contado pelo genro do diretor, Dominique Sampiero, professor de jardim da infância e co-autor do roteiro ao lado de sua mulher, Tiffany, e de Tavernier. O tom intimista, autêntico e incisivo do trio confere ao filme uma dolorosa e lírica perspectiva do cotidiano daqueles intitulados, de longe, menos favorecidos.




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