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Segundo CD de Mika mostra vontade de evoluir
21/10/2009 | 07:00
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Divulgação


Para alguém que fez uma estreia bombástica com "Life in Cartoon Motion" (5 milhões de cópias vendidas no mundo), passaria Mika pelo velho blablablá que se costuma formar em torno do segundo álbum de um cantor?

À primeira audição das faixas iniciais de "The Boy Who Knew Too Much" (Universal), a impressão que dá é que repetição pouca é bobagem. Bit a bit, o aspirante a Freddie Mercury parece não querer variar muito a fórmula do antecessor nas três primeiras faixas.

Até o projeto gráfico mantém os mesmos traços: um colorido mundo mágico, meio infantil, que sugere diversão e aventura. "We Are Golden", que abre o CD, é o primeiro sinal de que o que vem pela frente é mera sequência da fórmula do álbum anterior. Isso não quer dizer que é tão ruim, apenas não surpreende.

A segunda faixa, "Blame it on the Girls", idem, mas que funciona, não há dúvida. A primeira já é, a segunda tem cara de hit instantâneo, ambas tão adolescentes, remetem ao pop bubblegum dos anos 1960.

As harmonias vocais, aliás, têm algo de Beach Boys. Essa não é a única referência ao pop do passado. A batida electro de "Rain", que vem na sequência, parece Bronski Beat.

É nessa que Mika mais abusa do vocal em falsete, remetendo à banda mais chata do planeta, Supertramp.

Não só por isso, a faixa disputa com "Good Gone Girl" como a mais tediosa do álbum. "Touches You" tem um jeito de George Michael e já está na parte em que Mika volta a ser Mika.

Quer dizer, no miolo e no fim há soluções menos óbvias. A partir da quarta faixa, Dr. John, com acento rhythm and blues, tão sixties, o roteiro começa a mudar de feição.

O piano inicial do arranjo de "I See You" cria uma expectativa para a entrada da voz de Natalie Merchant, tão sugestivo de uma balada do 10,000 Maniacs. Mas não é nada disso. De etéreo, o arranjo vai crescendo com coro vocal e orquestração, enchendo de glacê uma balada que se perde pelo excesso.

"Blue Eyes" destoa das demais. Pode não cair bem para os fãs de Grace Kelly, mas a melodia é bonita e a levada afro-caribenha tem algo de Wyclef Jean.

É nessa faixa e em "By the Time", com vocais bem trabalhados, sem exagero, que Mika melhor prova a elasticidade de seu talento, e que não precisa ser só aquela coisinha histriônica - que também é bacana e seu principal atrativo, mas às vezes cansa.

Mais para o fim, "Toy Boy", outra das melhores faixas, vem com algo de Broadway, e "Pick Up Off the Floor", uma bela torch song, encerra a sessão provando que Mika tem mais de bom a mostrar. Apesar das autorreferências, há uma vontade de evoluir pela qual merece crédito.




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