Via abriga ícones de São Bernardo, como Mercado Municipal, Meninos FC e muitas indústrias importantes
A Avenida Caminho do Mar, que passa pelos bairros Rudge Ramos e Anchieta, foi batizada em 1962 com nome que fazia alusão ao trajeto que ligava o Grande ABC a Santos, no Litoral Paulista, desde os tempos em que as viagens eram feitas nos lombos dos cavalos. Com o passar dos anos, a velha estrada de terra batida e cercada de mata perdeu o ar rural. Hoje, o que se vê é só o ir e vir de pessoas e veículos.
A Caminho do Mar ficou moderna, mas ainda guarda pedaços da história de São Bernardo e até da região, como o Mercado Municipal do Rudge Ramos, o Meninos Futebol Clube – que completou 85 anos há uma semana –, a indústria Termomecanica, o Parque Salvador Arena e a Praça dos Meninos – conhecida também como Praça Oriental ou dos noivos, já que desde sempre é procurada por casais, logo após a cerimônia, para eternizar o momento em fotos. Outro marco da cidade está encravado entre as avenidas Caminho do Mar e Vergueiro: a imponente e histórica Paróquia São João Batista.
Embora no início de sua formação, em 1910, a Rodovia Caminho do Mar mantivesse viés rural, entre as décadas de 1950 e 1960 os loteamentos urbanos no seu entorno começaram a se desenvolver, assim como indústrias passaram a se instalar ao longo do trajeto, sobretudo pela proximidade com a Rodovia Anchieta, inaugurada em 1947. Já entre 1966 e 1968, com a circulação de veículos em expansão, a via recebeu pavimentação asfáltica e outras melhorias, como a instalação de postes de iluminação com lâmpadas de vapor de mercúrio e o ajardinamento de seus canteiros centrais, fazendo com que adquirisse suas feições atuais.
CINCO DÉCADAS
Vindo de Pompéia, no Interior de São Paulo, o proprietário da Eletro Mecânica Ito, Hironoshin Ito, 70 anos, se instalou próximo ao endereço pouco depois dessa urbanização, em 1970. Conforme relatou, seu avô Izak notou que a via passaria por transformações, sobretudo econômicas, e ajudou o neto a comprar o galpão onde até hoje realiza seus serviços. Ao lado, Ito construiu pequeno prédio de quatro apartamentos, no qual abrigou sua família e onde ainda reside com a mulher e a filha. Em outro apartamento mora um sobrinho com a mãe e sua avó, de 95 anos.
Com quase cinco décadas de vivência na Caminho do Mar, Ito lembra cada uma das empresas que começaram – e também as que fecharam – ao longo dos anos. “Mudou muito o cenário da avenida. Quando cheguei aqui, há 49 anos, já era asfaltada e mais urbanizada. O forte mesmo eram as empresas de bebidas alcoólicas Martini Rossi e Cointreau”, disse, relatando que depois o terreno abrigou a Bacardi e, hoje, dá espaço a uma unidade da rede de supermercados Sonda.
“Hoje temos dois lindos parques (Praça dos Meninos e Salvador Arena), muitos supermercados, lojas e serviços. Comercialmente falando, é avenida muito completa. Só falta ter um shopping”, brincou Ito.
Para ele, a via é uma passagem bonita, que faz ligação com outras avenidas de importância, como a Doutor Rudge Ramos, Lions, Senador Vergueiro e a Anchieta. “Gosto muito daqui. É uma avenida que está sempre limpa, iluminada e bem cuidada.”
Com escolas, empresas e comércios diversos, o que pouco se vê hoje na Caminho do Mar são casas. Ito, por sua vez, afirma que permanecerá por lá. “Criei raízes fortíssimas. Quase toda minha história de vida está nesse endereço e sou feliz aqui”, garantiu.
Mercadão, marco no Rudge Ramos
O Mercado Municipal do Rudge Ramos – oficialmente denominado como Helio Masini – é o estabelecimento comercial mais antigo em atividade na Avenida Caminho do Mar. Inaugurado em 10 de novembro de 1968 pelo então prefeito Hygino de Lima, o Mercadão, como é chamado pela população, conta com 60 lojas ativas, que oferecem os mais variados produtos.
Não precisa passar muito tempo por ali para entender o que atrai a população, não só de São Bernardo, mas de todo o Grande ABC. Logo na entrada, a floricultura chama atenção pela beleza e cores, mas o cheiro dos bolos e café também são um atrativo. Ao longo dos corredores é possível encontrar hortifrúti, carnes, peixes, massas, pastel e caldo de cana, marmitas e comidas prontas, farináceos, cereais, laticínios, bazar, papelaria, roupas, sapatos e até mesmo loja de produtos para pets. Há também espaço que vende peixinhos e aquários, onde é possível notar a presença de crianças encantadas com os bichinhos.
Embora com a pandemia da Covid-19 o movimento tenha caído, o espaço costumava receber, em média, 3.000 visitantes por dia. Seja por tradição ou por gosto, o segredo para manter o estabelecimento é, segundo os comerciantes, a amizade que criaram ao longo de 50 anos com os clientes, sobretudo porque a administração da maior parte das lojas passa de geração em geração.
A loja mais antiga é o Açougue Cadicar, que está ali desde a inauguração. A proprietária, dona Marlene, tem 80 anos e não estava no espaço no dia em que o Diário visitou o mercado, já que ela tem evitado sair de casa por causa da pandemia.
Marilene Ferreira Dias, tesoureira da Associação dos Permissionários do Mercado Municipal do Rudge Ramos e proprietária do Frutos da Terra, box de cereais, acredita que o ambiente familiar e a amizade com a clientela fiel fazem a diferença. “Às vezes somos até terapeutas”, brincou Marilene, contando que os comerciantes conhecem quase todas as pessoas que frequentam o mercado. “Aqui é um espaço de tradição. O mercadão do Centro deixou de existir, mas nós nos mantivemos. Temos o diferencial de ter qualidade de produtos, e o próprio dono fazer o atendimento”, disse.
As irmãs Dante são exemplo de frequência assídua e de fidelidade ao espaço e aos amigos comerciantes. Terezinha, 80, e Izabel, 73, compram no mercado há pelo menos 50 anos. Não à toa, por onde passam são cumprimentadas. “Aqui é muito bom. Conheço todo mundo e encontro tudo que preciso. Acaba até sendo um passeio”, disse Izabel, elogiando o espaço como “um ótimo centro de compras”.
Praça é o cenário preferido para fotos de recém-casados
Conhecida como local preferido para eternizar em fotos momento especial de recém-casados, a Praça dos Meninos – ou Oriental, já que conserva jardim japonês – até hoje mantém tradição que teve início há cerca de 30 anos. Não por acaso, a equipe de reportagem do Diário flagrou casal que havia acabado de assinar os papéis no cartório que fica em frente, por volta das 10h30 de quinta-feira. O espaço sempre foi muito disputado após as cerimônias na igreja, sobretudo nos sábados à noite, quando era comum se ver quatro, cinco e até mais casais espalhados pela praça, até de outras cidades.
A técnica de enfermagem Michelle Oliveira Santos Lana, 27 anos, contou que a ideia de fazer as fotos na ponte do jardim oriental foi da fotógrafa Rayane Braz. E ela aprovou a ideia. “Moro no bairro Los Angeles, em São Bernardo, desde sempre. Essa praça é muito tradicional na cidade. É muito legal ter um registro do nosso casamento em um lugar próximo a nós”, pontuou.
Já o marido, Diego Leandro da Silva Santos, 30, revelou que o espaço tem parte na sua vida. O engenheiro civil disse que sempre correu na praça. “Toda a vida pratiquei exercício físico aqui. Vinha correr antes de ir para os treinos. Fico feliz de fazer nossas fotos aqui, vai ficar bem legal”, afirmou.
O motivo pelo qual a fotógrafa escolheu a ponte do jardim oriental é porque os pais dela, há 33 anos, fizeram as fotos do casamento exatamente naquele ponto. “Tenho uma memória afetiva muito grande com esse lugar. Cresci vendo o álbum de fotografia do casamento dos meus pais, que tiveram as fotos feitas aqui. Escolhi mesmo por causa da minha memória, já que tenho imagens de fotos lindas nessa praça.”
A praça ocupa o quadrilátero do antigo campo do Meninos Futebol Clube. Instalado no governo do prefeito Geraldo Faria Rodrigues, por volta de 1975, o espaço é fruto de permuta, já que a Prefeitura desapropriou a antiga indústria Retorcedeira Ipiranga e trocou suas instalações pelo campo.
O espaço, que já foi alvo de reclamações de abandono público, há décadas é frequentado, em sua maioria, pela terceira idade. Atualmente, há também pessoas que buscam o local para praticar exercício. Produtor de eventos, Marcos Parisi, 57, acredita que, embora histórico, o espaço precise de mais olhar. “Acho que falta segurança. Poderiam também colocar a história desse jardim japonês, porque ninguém sabe.”
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