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Gereba exibe o som do sertão em novo álbum
Alessandro Soares
Do Diário do Grane ABC
14/07/2002 | 18:50
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Os sertanejos que resistiram em Canudos contra tropas federais em 1897 foram cantados pelo violeiro baiano Gereba no CD Canudos (1997), lançado no centenário da guerra. O mesmo músico volta ao interior nordestino em Sertão (Paulus, R$ 18 em média), com 15 faixas que variam sobre o tema.

Desta vez, a homenagem é ao centenário da obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, a clássica narrativa brasileira sobre a guerra no interior baiano. Ao contrário do primeiro álbum operístico sobre Antônio Conselheiro e a guerra, Sertão é, antes de tudo, a calmaria antes da selvageria.

Gereba, 46 anos, 30 de carreira e 19 álbuns gravados, além de participações como instrumentista ou arranjador em 40 discos, reuniu um bom time de músicos em Sertão. A exemplo do disco Canudos, fez desse novo álbum um registro longe de ser mero folclore de raiz.

Com forró, embolada e baião, o novo trabalho de Gereba, aliás, Winston Geraldo Barreto, é porém, pianíssimo, em comparação ao vigor de Canudos, que poderia ser comparado a uma ópera sertaneja.

Escalou um belo time de autores (Bule Bule, Luiz Carlos Bahia, Capinan, João Bá, Tuzé de Abreu) e Patativa do Assaré (morto semana passada aos 93 anos) entre eles. Sua poesia escolhida para o CD, Festa da Natureza, fala de um sertão verde com as chuvas do inverno (“Sertão amargo, esturricado,/ Ficando logo transformado/ No mais lindo jardim”). O CD abre com uma composição de Bule Bule O Pai da Coalhada Roncou, sobre o Vaza-Barris, o rio que banhava Canudos, hoje minguado por conta da represa, e que só renasce após chuvas intensas.

Na música Não gosto de Sertão Verde, um poema de Câmara Cascudo escrito em 1926, há participação da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, regida por Osvaldo DáAmore, é um dos bons momentos musicais do disco. Outro é A Mulher de Bule Bule (Gereba e João Bá), seguido por Resposta a João Bá (Bule Bule), um pouco da tradição do desafio musical. Choveu no Sertão de domínio público, foi recolhida por Janja, do grupo Orquestra Nzinga de Berimbaus, outro destaque.

Gereba homenageia o livro de Euclides da Cunha só no nome, pois generalizou seu sertão em vários pedaços. É um disco de tradições sertanejas com um lamento do que era Belo Monte e Canudos e o que teriam sido se a resistência do Conselheiro vingasse. Qualidade há em Sertão (2002), mas falta-lhe a paixão de Canudos (1997).




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