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Blix contraria expectativa e diz que Iraque está colaborando
Do Diário OnLine
Com AFP
14/02/2003 | 17:46
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O chefe dos inspetores de armas no Iraque, Hans Blix, disse nesta sexta-feira ao Conselho de Segurança da ONU que não há evidências de que o regime de Saddam Hussein produza armas de destruição em massa e que o país tem colaborado com o trabalho de desarmamento. A declaração vai de encontro com a tese defendida pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha, que pressionam os países-membros do Conselho a apoiar uma ação militar imediata no Iraque.

O inspetor-chefe afirmou que, dos 300 locais inspecionados, em nenhum houve evidência de que o Iraque produza armas químicas, biológicas ou nucleares, de modo que os resultados das inspeções estão de acordo com o que o Iraque declarou. Acrescentou ainda que os iraquianos foram receptivos às investigações, permitindo inclusive que entrassem em suas residências e locais presidenciais.

"Desde que chegamos ao Iraque, realizamos mais de 400 inspeções cobrindo mais de 300 locais diferentes. Todas as inspeções foram realizadas sem aviso prévio e, praticamente, o acesso sempre foi rápido. Em nenhum caso tivemos conhecimento de que a parte iraquiana sabia com antecedência da chegada dos inspetores", disse.

O relatório contradiz o discurso feito ao Conselho na semana passada pelo secretário de Estado americano, Colin Powell, que se baseou em gravações de diálogos entre supostos militares iraquianos e em fotos de satélites para afirmar que o Iraque possui armas nucleares e tem se empenhado em mentir e dificultar os trabalhos de inspeções.

Para Blix, porém, não há provas de que os caminhões fotografados apresentados por Powell sejam usados como laboratórios-móveis para a fabricação de armas de destruição em massa. No entanto, ele concorda que inspeções aéreas a serem realizadas com as aeronaves Mirage e U2 serão mais precisas. O Iraque concordou com este tipo de inspeção, mas ressaltou que ela só será permitida se os aviões não se confundirem com os do Exército britânico e americano.

Tudo isso, explicou o inspetor, foi indispensável para que sua equipe tivesse um bom conhecimento do cenário iraquiano, que não era explorado desde 1998. O inspetor-chefe disse que dos 50 litros de gases tóxicos, declarados pelo governo de Saddam, um terço já foi destruído pelas Nações Unidas.

Além disso, os inspetores também coletaram amostras de substâncias em laboratórios e conversaram com pessoas que trabalham no local. No entanto, Blix ressaltou o fato de alguns cientistas terem se recusado a falar com os inspetores sem presença iraquiana ou sem audiência gravada. A equipe da ONU deseja, agora, ter conversas privadas com esses cientistas para comprovar a credibilidade de suas informações. "Acredito que o Iraque vai colocar em uma lista o nome de todos os cientistas que participaram, de antigos ataques para que possamos conversar", especulou Blix.

Saddam Hussein - Blix também comemorou o fato do Iraque decretar o fim da produção das armas de destruição em massa, o que havia sugerido por ele e o pelo diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) Mohamed ElBaradei. Além disso, Saddam reiterou que seu país "está isento" deste tipo de armas.

O inspetor da ONU encerrou o discurso afirmando que é necessário mais tempo para as inspeções. Porém, ele disse também que o Iraque sabe da necessidade de desarmamento há muito tempo e que o país tem de mostrar que está colaborando com o trabalho.

ElBaradei - O diretor-geral da Aiea afirmou que as inspeções passaram de um estágio de reconhecimento para o de investigação, e acrescentou que a equipe segue procurando locais de produção de armas que não foram declarados pelo Iraque.

ElBaradei também disse que o país aumentou a lista de possíveis entrevistados pela equipe de inspeção, o que mostra que o Iraque está colaborando. De acordo com o representante da Aiea, há muito transporte de armas de um local para o outro e se houvesse uma inspeção aérea, esses armamentos seriam melhor identificados.

Ele também disse que recebeu um relatório de 2 mil páginas e que sobre enriquecimento de urânio e lasers, mas que o documento não traz novidades sobre o que já era conhecido.

No entanto, ElBaradei quer que o governo iraquiano esclareça a presença de tubos de alumínio, que inicialmente foram declarados pelos laboratórios como parte de uma experiência de engenharia genética, mas que normalmente são usados no enriquecimento de urânio (substância-base na produção de armas nucleares).

A próxima apresentação sobre as buscas dos inspetores da ONU ao Conselho de Segurança será no dia 1º de março. Enquanto isso, os chefes dos inspetores da ONU, Hans Blix e Mohamed ElBaradei, devem apresentar quinzenalmente à organização um relatório.




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