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Venda de livros de auto-ajuda dobra em 1 ano
Do Diário do Grande ABC
25/06/1999 | 15:20
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As vendas de livros de auto-ajuda, desde os que dao dicas de como investir seu dinheiro até os que apontam os caminhos da paz e da serenidade, praticamente dobraram em apenas um ano: passaram de 1,1 milhao para 2,1 milhoes de exemplares de 1997 para 1998, apesar de o número de títulos lançados no período ter diminuído de 551 para 527. A explicaçao resume-se a uma única palavra, bem conhecida do brasileiro: crise. "Desemprego, recessao e boatos fazem crescer as vendas de livros de auto-ajuda", afirma o vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), José Henrique Grossi, que é também diretor de marketing da Editora Best Seller.

Se comparados com os romances, por exemplo, os livros de auto-ajuda estao no lado oposto de uma gangorra e vendem mais à proporçao que diminui a procura pela literatura tradicional.

"Com a situaçao econômica estável, as vendas de romances tendem a subir", diz Grossi. "Já em momentos de crise, o leitor pára um pouco de sonhar, poe os pés no chao e procura as obras que vao ensinar-lhe a melhorar sua vida". A Editora Best Seller, por exemplo, divide dessa forma seus lançamentos: 50% sao de auto-ajuda, 30% de administraçao e 20% sao romances femininos.

Em cinco anos, as vendas de livros de auto-ajuda aumentaram cinco vezes no país. Em 1994, foram lançados no Brasil 107 títulos, que venderam mais de 411,9 mil exemplares. No ano seguinte, os títulos lançados subiram para 109, mas as vendas caíram para 396,3 mil. Em 1996, os títulos mais que dobraram, passando para 268, e a vendas subiram mais que três vezes, batendo 1,4 milhao de livros vendidos. Em 1997 o número de títulos lançados dobrou para 551, mas as vendas caíram para 1 1 milhao, dobrando no ano seguinte.

Na opiniao de Grossi, o público que compra livros de auto-ajuda é fiel ao segmento. "Quem lê esses livros normalmente nao lê outra literatura", diz. Para o executivo, o mercado brasileiro deve estabilizar-se em poucos anos, a exemplo do que ocorre agora nos Estados Unidos. "Estamos chegando ao ponto de amadurecimento", acredita o diretor de marketing.

Ajuda da crise - Os livros de auto-ajuda começaram a ser publicados no Brasil entre 1987 e 1988. "As vendas deram um salto no início dos anos 90 com o confisco que o Governo fez nos investimentos do povo", diz Grossi. "Esse segmento estabilizou-se em 1994 com a implantaçao do Plano Real, mas voltou a crescer a partir das sucessivas crises na economia internacional, em 1997".

Exemplo das boas vendas das obras de auto-ajuda é o livro "Investindo sem Susto - Como Lucrar na Crise", do jornalista Claudio Gradilone. Lançado na Bienal do Rio, há dois meses, o guia econômico já está com a primeira ediçao esgotada. Foram vendidos 4 mil exemplares em um mês e meio. Na próxima semana sai a segunda ediçao, com três mil exemplares. "É um livro que mostra como lidar com o dinheiro numa época de turbulência, de crise do dólar e expectativa quanto às taxas de inflaçao", analisa o diretor editorial da Campus, Paul Christoph. "O sujeito nao sabe se poe o dinheiro debaixo do colchao ou na caderneta de poupança e nem se deve confiar nas dicas do gerente do banco".

Christoph diz que um livro como o de Gradilone talvez nao se justificasse quando o Real vivia seus dias tranqüilos. Tanto que o seu lançamento foi postergado para que se pudesse incluir informaçoes após a desvalorizaçao do Real, em janeiro. "O livro foi encomendado há um ano quando já sentíamos que uma crise se aproximava", diz Christoph. A terceira ediçao deve sair nos próximos meses, já atualizada.

A Editora Gente, de Sao Paulo, lançou 48 livros no ano passado e espera editar 72 obras este ano. De seus títulos, 56% encaixam-se no segmento de auto-ajuda. "Consideramos auto-ajuda os livros que proporcionam um crescimento humano e estimulam o leitor a mudar de atitude", explica a diretora-executiva da Gente, Roseli Boschini. Entre os títulos de maior saída lançados pela Gente estao "Guerras Eróticas", de Maria Helena Matarazzo; "Vestibular sem Estresse - Aprenda a Organizar-se e Encare esse Momento numa Boa", de Aélerson Machado; "Inteligência Sexual", de Martin R. Pörtner; "Secretária - Uma Parceira de Sucesso", de Stefi Maerker; e "O Sucesso É Ser Feliz" - que está na 42.ª ediçao -, de Roberto Shinyashiki, que é autor também de "A Carícia Essencial" e "A Revoluçao dos Campeoes".

Mercados em expansao - Roseli confirma que as vendas de livros de auto-ajuda crescem na proporçao do aumento da instabilidade econômica. "Ao sentir-se oprimidas ou pressionadas, as pessoas buscam uma saída e o livro é essa porta que se abre", acredita. Na opiniao da Roseli, o segmento de auto-ajuda, assim como o de livros de espiritualidade, sao dois mercados em expansao. Para ela, a virada do milênio pode estar aumentando a venda de livros de auto-ajuda, sobretudo os de cunho espiritual. "As pessoas estao mudando de atitude, estao buscando resgatar valores do passado", acredita.

A Editora que Roseli dirige é mais um indicativo do crescimento desse segmento. De 1997 para 1998, a Editora Gente registrou crescimento de 52% nos lançamentos nesse segmento e este ano espera crescer 50%. A Editora Record nao tem direcionado ultimamente seus investimentos para os livros de auto-ajuda tradicionais, mas mantém com sucesso em seu catálogo a principal obra de um dos maiores sucessos do segmento: "O Poder do Subconsciente", do norte-americano Joseph Murphy. O livro já bateu a casa de 1 milhao de exemplares vendidos, com o detalhe que foi lançado em 1968 e está na 42.ª ediçao. "Só no mês passado esse livro vendeu 1,5 mil exemplares", diz a diretora editorial da Record, Luciana Villas-Boas.

Um exemplo do que Luciana chama de auto-ajuda nao tradicional é o livro "Pais, Filhos e Companhia Ilimitada", da psicóloga Gladys Brum, que a Record deve lançar no fim de julho. No livro, a autora, que há 25 anos trabalha com famílias formadas depois de divórcios, cria situaçoes de conflito dos sogros, dos pais divorciados, dos filhos de pais separados, da situaçao da ex-mulher e do desconforto da nova mulher.




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