Pouco mais de seis meses após o lançamento, o programa do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC Carona Solidária tem apenas 30 adeptos. Apesar de pesquisa elaborada pela entidade indicar que 2% da população do Grande ABC está disposta a compartilhar veículos para ir ao trabalho ou escola, o projeto só funciona hoje na parte administrativa da FUABC (Fundação do ABC). Entre as principais dificuldades para implementação da medida está a conscientização das pessoas.

A ideia inicial prevê parceria da UFABC (Universidade Federal do ABC) e Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), além da FUABC. Segundo a técnica do Departamento de Projetos para a área de Meio Ambiente do Consórcio Intermunicipal, Livia Rosseto, o papel da Acisa é estimular as empresas associadas a participarem do programa, enquanto a UFABC preferiu aprimorar a plataforma antes de colocá-la em prática.

"Podemos dizer que o projeto ainda está em fase de implantação, estudo das empresas e estímulo aos caronistas", afirma Lívia. Pela internet ou intranet, as instituições disponibilizarão formulários para que associados, alunos e funcionários encontrem pessoas que morem perto e tenham horários próximos.

Segundo estudo feito pelo Consórcio na época do lançamento do projeto, a estimativa é de redução de até 20 mil veículos nas ruas. A frota da região é de aproximadamente 1 milhão de automóveis. "A principal dificuldade é o receio das pessoas em dar carona, por isso, o papel da instituição é de estimular", destaca.

FUABC

Os 30 adeptos da FUABC ao Carona Solidária representam 20% da população da área administrativa da instituição. O número corresponde à redução de pelo menos 10% na circulação de veículos que frequentam o campus.

O próximo passo é expandir o programa para as entidades mantidas pela Fundação, como o Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André. A previsão é de que todos os setores da instituição recebam o programa até agosto.

"A aceitação é muito boa, mas nossa principal dificuldade é acessar toda a comunidade em curto espaço de tempo", explica a coordenadora do programa Carona Solidária na FUABC, Juliana Pinesi Russo.
Para estimular a adesão, a fundação sorteará dois vales-combustível no valor de R$ 50 mensalmente.

Compartilhamento de carro fortalece amizade

O trajeto da assistente administrativa Edna Vitório Doconski, 38 anos, até o trabalho na FUABC (Fundação do ABC) mudou. Há cerca de dois anos ela desvia de seu percurso para dar carona para a secretária Flávia Moraes, 29, que trabalha no mesmo local. Apesar de mais gastos e maior tempo de deslocamento, a ação é feita diariamente com alegria.

Edna mora no Jardim Irene e Flávia, na Vila Gilda. "Sempre gostei de dar carona e ajudar as pessoas", justifica Edna. Ela se inscreveu no programa Carona Solidária e está à disposição para compartilhar o veículo com outros companheiros de trabalho desde o início do ano.

Apesar de Edna não fazer questão, Flávia ajuda a companheira de trabalho financeiramente todos os meses. "Usava táxi para ir e voltar e ela me ofereceu carona", destaca Flávia.

Além da consciência ambiental e de mobilidade urbana, ambas destacam o vínculo de amizade criado entre as duas. "A gente vem batendo papo e o tempo passa rápido. Nem fico mais estressada com o trânsito", comenta Edna.

MEIO AMBIENTE

Pesquisa de 2011 da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) aponta que, na Capital, cada carro roda com 1,4 passageiro. Caso a metade dos proprietários de veículos particulares da região utilizasse carona, cerca de meio milhão de carros sairia das ruas.

Além de aliviar os congestionamentos, o projeto Carona Solidária visa diminuir a emissão de poluição atmosférica. "Com menos carros, os poluentes são lançados em menor quantidade e isso colabora para aumento da qualidade do ar", observa Livia Rosseto.

Especialista destaca que medida simples ajuda a melhorar trânsito

Além de simples e barata, a carona é eficaz para a melhoria da fluidez do tráfego de veículos na circunferência das grandes cidades. A constatação é do coordenador do curso de Gestão da Qualidade da Faculdade Anhanguera Anchieta, José Rodrigues Macedo.

Segundo o especialista, o estímulo ao compartilhamento de veículos depende de investimento pequeno por parte do poder público, mas ainda precisa ser melhor divulgado. "A saída é a conscientização das pessoas por meio de seminários, palestras e orientação", considera.

Além da facilidade para a compra de veículos, o conforto e as dificuldades com o transporte público estimulam o uso dos automóveis. "Também há dificuldade no convencimento das pessoas porque elas temem pela segurança, tendo em vista que não conhecem direito quem vai pegar carona. No entanto, elas estão mais seguras contra assaltos com alguém do lado", destaca Macedo.