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Ex-presidente do BC diz que liberalismo no nao tem volta
Do Diário do Grande ABC
12/10/1999 | 17:27
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Descrito na Europa como apóstolo do neoliberalismo brasileiro, o ex- presidente do Banco Central, Gustavo Franco, defendeu esse modelo adotado pelo Brasil numa entrevista ao jornal "Le Figaro", a primeira concedida a um diário francês após sua demissao.

A seu ver, "no Brasil uma volta atrás é impossível", convencido que o liberalismo ofereceu ao país estabilizaçao, abertura econômica, o retorno dos investimentos estrangeiros , enquanto as privatizaçoes que já permitiram ao país arrecadar 72,7 milhoes de euros, cifra que nenhum outro país do mundo jamais obteve".

Dessa forma, Gustavo Franco acredita que a abertura da economia no Brasil vai prosseguir e as reformas vao ser realizadas e que a velocidade dependerá da vontade política. Ele prevê a manutençao de taxas de juros elevadas.

O ex-presidente do Banco Central defendeu nessa sua entrevista a necessidade do Brasil equilibrar suas finanças, "o que transcende as ideologias", mas prevê um caminho doloroso com resistências muito fortes.

Franco nao deixou de criticar seus detratores. A seu ver no Brasil dois países se opoem. Um, do qual ele faz parte, "jovem, dinâmico, que nada pede ao Estado e que empreende com sucesso". A seu ver, esse é o grupo dos lutadores que nao aparece muito, mas representa o progresso.

Diante dele, ainda segundo Gustavo Franco, encontra-se o país dos vencidos e perdedores, "dos que controlam todas as federaçoes industriais, de produtores e agricultores, dos que lutam apenas para conservar seus interesses egoístas , rejeitando as mudanças".

Também a esquerda, os sindicatos e mesmo os deputados da maioria governamental nao foram poupados , identificados nesse segundo grupo: "Eles sabem que lançar grandes projetos de desenvolvimento é inútil, mas isso permite ganhar votos nas eleiçoes".

Se o modelo liberal deu tantos resultados como explicar a crise? Respondendo a essa pergunta, Gustavo Franco só concebe um caminho para promover avanços nos países emergentes: manter as finanças publicas equilibradas. Do contrário o Estado se endivida, emite títulos para financiar e empurra as taxas de juros para o alto. É isso o que se passa no Brasil, onde em 1997 o déficit público era de 5,7 % do PiB e se encontrava sob controle, mas ao invés de aplicar o plano de rigor, o governo em plena campanha eleitoral , aumentou suas despesas e o déficit atinge atualmente 15 % do PIB.

O próprio "Le Figaro", jornal de linha conservadora, à margem da entrevista de Gustavo Franco publicou um box sobre as "dúvidas do modelo neoliberal ", lembrando que mesmo o FMI admite que a ampla abertura das fronteiras e dos mercados de capitais nos países emergentes foi prematura.

Em média, as naçoes ricas conheceram taxas de crescimento superiores às dos países emergentes, deixando a impressao que a mundializaçao foi muito mais benéfica aos ricos.

Durante esse período, regioes inteiras como a Asia e América Latina mergulharam em profundas recensoes e o Brasil, tido como um dos países mais promissores em 1994 nao escapou à essa tormenta.




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